Opinião: Sampaoli no Sub-20 é o ápice da loucura (até para os argentinos)
Tales Torraga
É a mais saborosa história do futebol argentino nos últimos anos.
No dia 30 de junho, Jorge Sampaoli comanda a seleção principal da Argentina em uma dramática oitavas de final de Copa do Mundo, perdendo para uma inspirada França por 4 a 3. E no dia 28 de julho, menos de um mês depois, o mesmo Sampaoli, El Pelado Sampa, estará em Valência, na Espanha, treinando a Argentina Sub-20 no torneio amistoso de L'Acudia, dirigindo – como técnico tampão! – uma equipe de adolescentes em dois tempos de 40 minutos na grama artificial.
E o que explica este rebaixamento do treinador? A sua forma de agir, cada vez mais difícil de entender, e os desmandos que batem recorde de absurdos na Argentina.
O primeiro ponto de espanto é a AFA estabelecer um contrato de cinco anos e não bancar a mudança no decorrer do compromisso. Sampaoli fracassou rotundamente na Rússia. E só não vai embora por uma mera e covarde conveniência. A primeira delas é financeira. A AFA quer destravar o contrato sem pagar a multa rescisória de US$ 8,2 milhões. A segunda conveniência, tão grave quanto a primeira, é a falta de coerência de Sampaoli e principalmente dos próprios dirigentes.
Em atitude inédita na história recente do futebol argentino, grande parte da comissão técnica que acompanhou Sampaoli na Rússia chegou antes a Buenos Aires e apresentou a sua renúncia, dizendo que não queria continuar trabalhando com o cada vez mais transtornado treinador. E o que a AFA faz imediatamente depois do portazo coletivo? Aceita que Sampaoli entre no lugar de Sebastián Beccacece, o seu auxiliar que assumiria a Sub-20 assim que deixasse a Rússia.
Ou seja: o papelão estrondoso na Copa do Mundo não serviu para nada. A seleção principal não tem técnico, pois Sampaoli é um títere dos dirigentes. O cargo está vago e com negociações travadas porque nenhum treinador sério vai querer sentar em uma cadeira elétrica que atenta contra a vida de quem a ocupa (que o diga Alejandro Sabella, que quase morreu depois de deixar a seleção em 2014).
Como se não bastasse, a renovação, o Sub-20, o futuro da Argentina, também está re complicado porque Sampaoli, tal qual como um Sócrates agarrado à sua cicuta, se rebaixa aos caprichos dos cartolas achando que assim, oferecendo fidelidade, vai conseguir que o aceitem na seleção principal.
El Pelado Sampa conseguiu o que ninguém mais alcançou na farta história de bizarrices do futebol argentino: se indispôs com a sua própria comissão técnica, com os seus jogadores e com os dirigentes. E não caiu nem a$$im.
Fica a dúvida: o que vai acontecer quando ele cruzar com um desses millenials argentinos bem arrogantes que lhe confrontar que ele não conseguiu nem fazer Messi jogar, quanto mais vai conseguir comandar jovens que precisam de referências sérias, e não alguém que chega já tão tatuado por um vexame recente.
(Por falar em tatuagens, não dá para ignorar o que as rádios argentinas estão dizendo que agora sim, este Sampaoli roqueiro e com os braços cobertos de tinta vai se sentir ambientado trabalhando com adolescentes. Así es la vida. De Nínji Novgorod a L'Acudia. Así de una, no más. Quando a gente acha que está ambientado à rotina argentina e que nada mais vai nos surpreender, ahí vamos.)
Por fim, Sampaoli teve na Copa do Mundo da Rússia os seguintes adversários: Islândia, Croácia, Nigéria e França.
No torneio de L'Alcudia, ele vai ter pela frente os combinados Sub-20 de Múrcia, Valência, Mauritânia, Índia, Catar, Venezuela, Marrocos, Rússia e Uruguai.