Dá para acreditar no pacto argentino?
Tales Torraga
A seleção argentina se reuniu depois do jantar de ontem (22) em San Petersburgo em um encontro com a presença de toda a comissão técnica e de Chiqui Tapia, o presidente da AFA. Segundo apurou o blog, o diálogo foi moderado, porém incisivo, com todos falando sobre tudo, porém em bons tons e sem resvalar em agressões.
Foi pactado que todos deveriam unir forças e evitar a célebre tendência argentina de se autodestruir. Que esta seria a única maneira de seguir na Copa depois do verdadeiro presente que foi dado pela Nigéria ao vencer a Islândia.
Esta, porém, não é a única versão que circula nos meandros da concentração argentina. O técnico Caruso Lombardi deslizou nesta madrugada que Pavón deu um soco no rosto de Mascherano depois da derrota para a Croácia, e que Jorge Sampaoli e Sebastián Beccacece, seu cabeludo assistente, também saíram na mão no vestiário na frente de todo o elenco. Tal agressividade é aprovada pela maioria dos argentinos. ''Se não se mataram na porrada, é porque não têm culhões. Se alguém está com uma bolsa de gelo na cara, agora, perfeito'', analisou Maradona.
Embora tenham feito tal pacto, que a imprensa argentina está tratando como um ''juramento'', é difícil acreditar que a seleção vai encontrar suas respostas para seguir no Mundial. Tal pacto é mais um sintoma da cada vez mais inacreditável ''soberania argentina'' de achar que tudo o que ocorre no planeta é decorrência daquilo que os argentinos executam ou se determinam a fazer – mesmo que da maneira mais empírica e improvisada, e em um mundo cada vez mais sofisticado.
A tentativa de se reunir é positiva por vários aspectos. Tal prática foi levada adiante, por exemplo, na Copa do Mundo de 1986, e sem ela a Argentina certamente não seria campeã. Mas aí resvalamos na diferença de personalidade entre aquela geração de jogadores e a atual. A rebeldia que tanto caracterizou o futebol argentino por tanto tempo é algo que passa bem longe deste grupo, por mais que haja esta argentineada típica de sair na mão no vestiário ou chutar a bola na cara de um adversário caído (que Otamendi ao menos peça desculpas pelo que fez).
Estamos no fundo do mar, mas tratando de sair, é o que se lê como mensagem de um dos integrantes do corpo técnico. É realmente difícil acreditar que se consiga. O treinador está cada vez mais desorientado e o craque do time está cada vez mais recluso e impotente em campo. As mudanças começaram a acontecer: contra a Nigéria, por exemplo, está certo que finalmente entra Armani no lugar de Caballero.
A Argentina depende dela mesma. E isso pode ser o pior de tudo.