‘Maradona fez bem em se drogar’, diz seu preparador físico
Tales Torraga
Buenos Aires começou a semana falando de Diego Armando Maradona como há muito não fazia. Isso porque o National Geographic argentino estreou ontem à noite um espetacular documentário sobre o El Diez chamado ''Maradona Confidencial'', dissecando os últimos anos da inigualável e enlouquecedora carreira do craque.
Uma das vozes mais polêmicas da produção é a de Fernando Signorini, preparador físico de Maradona de 1983 a 1994, que ofereceu uma opinião que já é discutida – e detonada – aos gritos pelos argentinos. Para ele, ''Diego fez bem em se drogar''.
''Há motivos que justificam o fato de um garoto sair do lugar de onde sai para cair diretamente no topo do mundo, onde exigem que ele precisa fazer tudo bem. Por isso ele vai buscar alguma maneira artificial de se estar à altura do que querem dele. Ele, sozinho, não podia. A multidão exigia mais, os dirigentes exigiam mais, a imprensa exigia mais, todo mundo lhe exigia.''
''Eu diria que deve ser que a droga te dá o que você precisa para representar o seu papel neste circo romano que é a sociedade de hoje, de pura hipocrisia. Maradona até fez bem em se drogar. Porque se ele não fizesse isso, ele seguramente não poderia, de nenhuma maneira, chegar aonde chegou.''
(E aonde ele chegou? À overdose e à beira da morte por pelo menos duas vezes, loco! E o antidoping? E a saúde de Diego? E o respeito às regras e aos demais?)
A declaração de Signorini despejou uma tonelada de gasolina na fogueira eternamente acesa pelos fãs de Maradona, que acusam o entorno de Diego a alimentar o seu vício em cocaína olhando apenas para os títulos e para as suas fortunas – jamais pensando no craque como um ser humano. Para os argentinos, Maradona foi ''carne de cañón'', vítima de um ''moedor de carne'' dos mais cruéis.
É sintomático que o El Diez tenha se afundado na cocaína enquanto era dirigido (mas jamais cuidado) por um técnico que também era médico, caso de Carlos Salvador Bilardo, seu treinador na seleção argentina de 1983 a 1990. Outro que teve papel fundamental para a debacle maradoniana foi o seu então empresário Guillermo Coppola, que acompanhava Diego em inúmeras noitadas por todo o planeta e é acusado pela família de Maradona de entorpecer o craque antes de fechar contratos milionários que eram vantajosos a ele, Coppola, e não a Diego.
No documentário, Signorini narrou momentos fortes de Maradona com a cocaína.
''Ele havia deixado a droga para se preparar para a Copa de 1994. Ficamos reclusos por 12 dias em um sítio. Uma noite eu acordo e Diego estava me mirando com os olhos fixos. Foi um sinal, eu rapidamente me troquei e saí dali com ele. Era um sintoma da abstinência. Lembro disso com muita emoção porque somente Diego e eu sabemos o esforço brutal que fizemos para derrotar esta puta cocaína e dar o gosto a Dalma e Gianinna, as filhas de Maradona. Eu era contra ele disputar a Copa de 1994. Mas ele insistia em atuar porque era a última oportunidade que as filhas teriam de vê-lo jogando uma Copa. E aconteceu tudo o que aconteceu.''
E o que aconteceu, Signorini?
''Maradona chamou um outro preparador, Daniel Cerrini, que lhe dava um montão de remédios. Eu disse a Diego: 'Não, olha, desse jeito não. No joio e no trigo você chega bem, mas nada de coisas estranhas'.''
Foi o preparador físico quem deu a Maradona a notícia do doping de 1994. Segundo ele, o El Diez gritou de maneira brutal para extravasar toda a sua raiva. ''Nem ele e nem eu queríamos que aquele momento fosse realidade.''
Signorini, então, foi falar com Cerrini: ''Pedi para ele tomar um avião e aterrissar só no fim do mundo, porque se Diego o encontrasse, lhe dava um tiro na cara.''
E como o preparador define Maradona?
''Um gênio, uma pessoa adorável e um grande filho da puta.''