Opinião: Convocação argentina cheira a fracasso
Tales Torraga
O blog cansou de elogiar a defesa da Argentina e lembrar que ela permitiu, por exemplo, que todos os jogos dos mata-matas da Copa de 2014 tivessem o arco invicto. Das oitavas em diante, o único gol sofrido no Mundial de quatro anos atrás ocorreu apenas e tão somente no segundo tempo da prorrogação da final. E contra uma Alemanha que havia humilhado o Brasil com sete gols. Outros exemplos de solidez na retaguarda? Não levar gols do Chile nas duas finais de Copa América. Ou os seis gols sofridos em nove jogos no primeiro turno das Eliminatórias.
Mas veio Jorge Sampaoli e tudo mudou. Arco invicto, seis gols em nove jogos?
A Argentina tomou logo dez em meros dois – 4 a 2 da Nigéria e 6 a 1 da Espanha.
Sampaoli foi bastante indagado em Buenos Aires nas últimas semanas para conferir a campanha das últimas seleções campeãs do mundo. E o que dava para perceber? Todas elas tinham a força na zaga como característica. A Alemanha levou apenas quatro gols em 2014. A Espanha? Só dois em 2010, mesmo número da Itália em 2006. O Brasil ofensivo e eficiente de 2002 tampouco se descuidava atrás: fechou a campanha com meros quatro gols sofridos.
El Pelado Sampa não quer saber de defender. Quem descreveu melhor o seu estilo foi (como quase sempre) o jornal ''La Nación'': Sampaoli gritou para o mundo com sua convocação que ele quer assumir riscos e agredir o rival até sufocá-lo. O discurso da ''soberania argentina'' está vivíssimo na sua careca e a Rússia não deve esperar outra coisa que não uma Argentina alucinada e quase kamikase.
Os 35 nomes listados por Sampaoli não permitem outra análise. Os medalhões eram óbvios: Messi, Higuaín, Agüero e Di María. Mas também Dybala, Pavón e Centurión, aqueles que vão ficar entre os reservas. Até quem não surge como opção para a lista de 23 nomes tem esta fúria ofensiva indicada por Sampaoli. Estamos falando de Icardi, Perotti e Lautaro Martínez.
Outra percepção bem clara é que quase um terço da convocação é de atacantes. E olhando para os meio-campistas e laterais, o perfil agressivo é ainda mais evidente: Lanzini e Lo Celso, Salvio e Acuña, até Enzo e Pablo Pérez fazem dupla função, indo e vindo, como Banega e Pizarro. Meza vai além – é quase um atacante.
E o soldado, aquele que se joga no chão recuperando a bola? Biglia e Battaglia.
É pouco. Muito pouco.
Sampaoli rasgou o manual da Copa e resolveu impor o seu. A Argentina hoje não anda com humores para pensar nada diferente do que um fracasso. ''Não temos chances'', respondem dois a cada três torcedores perguntados sobre a seleção no Mundial. A esperança é, como sempre, Messi – com a ajuda de um verdadeiro Messi entre os goleiros como vem sendo este impressionante Armani no River.
Impressionante vai ser a Argentina reverter este prognóstico sombrio e triste.