Patadas y Gambetas

Como um boato sobre a Aids quase acabou com a carreira do goleiro Goycochea

Tales Torraga

Foi há 30 anos, muito antes de o termo ''fake news'' existir. Em 1988, um boato sobre a Aids quase acabou com a carreira do goleiro argentino Sergio Goycochea, que seria importante na Copa do Mundo de 1990 ao defender pênaltis contra Iugoslávia e Itália e ajudar a azul e branca a jogar a decisão daquele Mundial.

Goycochea era reserva do River desde 1982, e em 1988 entraria numa troca com o San Lorenzo, que repassaria ninguém menos que José Luis Chilavert ao gigante de Núñez. Foi quando Goyco ficou doente e precisou de meses para se recuperar.

Goycochea no inferno e no céu – Reprodução Gente/El Gráfico/Futebol Portenho

''Não houve um culpado por este rumor da Aids'', relembrou o goleiro em entrevista publicada pela revista ''El Gráfico'' em 2008. ''Tive um problema na clavícula, e os médicos preservaram o diagnóstico. Se pensassem que eu tinha artrite, o mundo do futebol poderia achar que eu não servia mais.''

''Criou-se um manto de dúvida, e aí surgiram os rumores. Tudo se potenciou com um título da El Gráfico, 'A estranha doença de Goycochea'. Era estranha porque ninguém explicava bem. O erro foi não dizer a verdade com todas as letras.''

De uma hora para outra, Goyco ficou isolado.

''Percebi quem era meu amigo e quem não era. Tomei consciência de que integrava um meio carniceiro. Poucos tiveram interesse em saber como eu estava, pensavam só na transferência para o San Lorenzo. Ainda bem que um ano e meio depois pude ter a minha revanche no Mundial. Caso contrário, não sei quanto tempo mais teria carregado esta cruz.''

Goyco relembra um momento difícil em particular: ''Minha mãe me ligou chorando pedindo para eu dizer a verdade. Aí eu me quebrei emocionalmente, larguei tudo o que tinha em Buenos Aires e fiquei perto da família. Sem querer discriminar, mas na época todos tinham a cabeça muito fechada e dizer Aids era dizer drogado ou homossexual. Fui e expliquei tudo a ela.''

O ex-goleiro precisou sair da Argentina para voltar a jogar – defendeu o Millonarios no auge da corpulência financeira do narcotráfico do esporte no país.

Hoje, Goycochea é um renomado comentarista e apresentador de TV na Argentina. ''Brasil e Espanha são as favoritas. Alemanha e Argentina aparecem depois'', crava o histórico tapa penales do Mundial de quase 30 anos atrás na Itália.