Tevez e técnico vivem ‘guerra de egos’ e ameaçam futuro do Boca
Tales Torraga
Ninguém na Bombonera acreditou quando Carlitos Tevez deixou o campo aos 13 minutos do segundo tempo para a entrada do pibe Gonzalo Maroni, de 19 anos. Boca e Unión estavam no 0 a 0 e o Boca precisava desesperadamente da vitória para encaminhar o seu bicampeonato no Argentino na noite deste domingo (6).
Tevez foi o ''primer cambio'', como dizem os argentinos. Aquele que saiu primeiro. Sem ele, o Boca melhorou e encontrou os gols que precisava. Venceu por 2 a 0, dois gols de Wanchope Ábila, e deve dar a volta olímpica nesta quarta (9) contra o Gimnasia de La Plata, no Bosque. Um empatezinho e ya tá: xeneize campeão.
O título do Boca já era mais do que esperado; mas a debacle de Carlitos, não.
Ele parece uma outra pessoa ocupando o mesmo corpo, sem demonstrar jamais a faísca do jogador briguento e corajoso que sempre foi. Toca de lado, parece desinteressado, não chama a responsabilidade como nos seus bons tempos. A atitude do técnico Guillermo Barros Schelotto de tirá-lo de campo com ainda tanto por jogar foi muito sintomática. O jornal ''Olé'' escreve hoje que foi um golpe na mesa por parte do treinador. Carlitos não merecia seguir no gramado. O mesmo ''Olé'' qualificou a sua atuação diante do Unión com uma nota quatro – a pior de toda a equipe que teve Pavón (nota dez) e Ábila (nove) como destaques.
Tevez e Schelotto despistam e não tocam no assunto. Mas é Alejandro Fantino, amigo de longa data de Tevez, e hoje um dos apresentadores de rádio e TV mais famosos da Argentina, quem decifra o que está acontecendo. Segundo Fantino, há hoje no Boca uma verdadeira ''guerra de egos'' entre Tevez e Schelotto. Tevez quer ser reconhecido e mimado como ídolo. Schelotto, até para fincar posição como comandante e como ídolo do Boca que também foi, faz questão de tratá-lo apenas como mais um. Um fica de um lado, outro de outro. E não há aproximação sequer para um diálogo adulto que possa colocar as coisas em caminhos melhores.
O Boca é formado hoje por várias ''panelinhas'', segundo Fantino, que já antecipou vários movimentos da carreira de Tevez e é considerado em Buenos Aires praticamente como um porta-voz de Carlitos. A ''panela'' de Tevez é minúscula: ele só interage com Ábila. Os colombianos (Fabra, Cardona, Barrios e Péres) se juntam entre si, os demais (Pavón, Gago e o goleiro Rossi) fazem o mesmo e a vida azul y oro segue assim, tão complicada. De uma maneira pouco compreensível em qualquer lugar onde haja mais profissionalismo e menos gente fazendo beicinho.
Como a TV argentina insiste, Mauricio Macri adoraria ver o seu amigo Tevez na Copa do Mundo da Rússia. Mas a falta de ambiente de Carlitos é o grande álibi de Jorge Sampaoli para não levá-lo. Hoy por hoy, Tevez sequer merece ser titular do Boca, e sua saída neste domingo no momento mais bicudo, para entrar um pibito de 19 anos, é eloquente demais para que ninguém pense outra coisa.
Com 34 anos, Carlitos está muito mais perto da aposentadoria do que de qualquer outra conquista. Virou um triste móveis e utensílios onde já foi rei. O torcedor do Boca está tão aflito com o racha das suas estrelas – leia-se ''fracasso futuro na Libertadores'' – que nem tem tantas ganas de comemorar este título argentino.