‘Não planejo nada. O futebol não se estuda’, destaca Sampaoli em livro
Tales Torraga
''Mis Latidos'' (''Minhas Batidas''), o polêmico livro de Jorge Sampaoli, já está à venda nas livrarias de Buenos Aires. Chegou discretamente e não ocupou nenhum espaço especial, como era de se esperar depois do 6 a 1 imposto pela Espanha.
Alguns trechos da obra contêm uma sinceridade que deve transformar a vida do técnico em um verdadeiro inferno até a Copa do Mundo da Rússia.
O blog antecipou semana passada um ponto do livro cravando que a tradição da Argentina no futebol não se comparava a nenhum outro país, nem ao Brasil. Mas Sampaoli foi muito além. Em uma Argentina que preza demais pelo conhecimento e pelo estudo – e que se orgulha demais disso -, ele admitiu na sua obra que é uma pessoa 1000% intuitiva e 0% capaz de estudar e se planejar.
''Eu não planejo nada. Tudo surge na minha cabeça quando tem que surgir. Brota naturalmente no momento oportuno. Odeio o planejamento.''
É chocante que tais palavras sejam registradas por um técnico que convenceu a AFA a gastar milhões na atualização de tecnologia para…estudar dados.
''Se eu planejo, me ponho no lugar de quem trabalha no escritório. Sou o mesmo de 1991. O futebol não se estuda: se vive e se sente. Parto disso. Eu sou da rua: negar isso é impossível. É estranho que tenham me colocado a etiqueta de uma pessoa que planeja.''
O sincericídio de Sampaoli é profundo:
''Talvez minhas conversas soem como a de uma pessoa super estudiosa. Nunca fui estudioso. Nem na escola, nem na faculdade, nem no curso de treinador. Eu não posso ler um livro. Viro duas páginas e já fico entediado. Escrevo três coisas em um papel e me canso'', destaca outro trecho.
(Seria Sampaoli a versão argentina de Renato Gaúcho, que ''não precisa estudar''?)
''Mis Latidos'' também dispara fortes críticas à imprensa argentina: ''Tata Martino perdeu as duas Copas Américas porque o país está colonizado pelos meios de comunicação''.
E revela a enorme paixão de Sampaoli pelo ex-presidente argentino Juan Domingo Perón: ''Vejo discursos de Perón e aprendo o que pode gerar um condutor, um líder. Há um dom que deve ter alguém que ocupa este tipo de lugar – a capacidade de comover. Alguém precisa se comover antes de comover o outro''.
O livro está repleto de frases dos rocks das bandas Callejeros, La Renga e Los Redondos. E há também uma inusitada análise sobre a final da última Copa.
''A Alemanha não ganhou porque foi melhor que a Argentina. Ganhou porque foi mais fria. Se o futebol for assim, saio dele. Não me sinto parte. Vou tentar brigar da minha maneira.''
Produzido pela Planeta, a maior editora da Argentina, ''Mis Latidos'' tem 192 páginas e está à venda aqui. Custa 249 pesos (cerca de R$ 42).