Análise: Messi vai mesmo jogar a Copa?
Tales Torraga
O massacre espanhol na Argentina acendeu em Buenos Aires um sinal tão vermelho quanto a camisa da Fúria.
Pior ainda que o papelão do time de Jorge Sampaoli, a dúvida que fica na capital portenha é se Lionel Messi vai realmente jogar a Copa do Mundo que pinta como a última da sua carreira.
Não que a atual lesão do astro do Barça seja desastrosa. O problema é que esta Argentina é escandalosamente ''Messidependente''. Nenhum outro time de ponta na história do futebol foi tão agarrado a um único homem como esta seleção.
Sampaoli e seu raciocínio sinuoso já cravaram que esta Argentina é mais ''de Messi que do treinador''.
É justo impor toda esta pressão em uma pessoa só, por mais talentosa?
Ninguém percebe a temeridade que é fazer Messi virar o fio?
Lio vai completar 31 anos durante o Mundial. Será sua quarta Copa do Mundo. Ele é profissional há 15 temporadas. Já é um veterano, e vai precisar bancar uma cobrança brutal dia sim e dia também. A Copa é um mês e nada mais. Imaginar que ele vai ter condições de carregar sozinho 10 jogadores e 44 milhões de fanáticos argentinos nas costas é uma loucura.
Ninguém discute sua técnica – a questão toda é saber como estará seu corpo e sua cabeça no Mundial.
Chegando à final, seriam sete jogos em exatos 30 dias. Com este 6 a 1 no lombo, o que surge desde já é a seguinte equação: pressão enorme + pouco tempo de recuperação = uma bomba-relógio das mais complicadas que Sampaoli e seu estafe precisam desarmar.
E sempre com o risco de alguma patada mais maldosa tirar de campo o craque de quem todos esperam.
Nenhum argentino encontra paz para defender uma seleção golpeada, traumatizada, envelhecida e que agora se vê contra o paredão diante da chance derradeira de dar uma resposta a uma torcida que a cada dia mais mira seu canhão em um único peito.
O ''quadrado mágico'' está nas cordas antes mesmo de sair do vestiário.
Machucados, Agüero e Messi não jogaram nenhum dos amistosos ante Itália e Espanha. Di María mantém sua assombrosa média de lesões pela seleção – bem ao contrário do que apresenta em Paris.
Higuaín acabou de voltar de contusão séria – mas o que mais lhe complica vestindo azul e branco é mesmo a cabeça, como indicou o incrível gol perdido no primeiro tempo de hoje.
A AFA pediu e Sampaoli topou. Enfrentar a Espanha em Madri a semanas da Copa acabou sendo péssimo.
Esta Argentina tem problemas para onde quer que se olhe. Nada que surpreenda quem lê o blog – em dezembro já colocávamos em xeque a própria classificação na primeira fase.
A Argentina reza por Messi – mas precisa se virar com Meza.
Nada contra o bom jogador do Independiente. E sim contra a histeria e a desorganização que desde já se desenham como insuportáveis até mesmo para um gênio.
Não é secar, não é ser bruxo, não é torcer contra: é usar o mínimo de bom senso, artigo cada vez mais raro em solo portenho.
Sobram perguntas e transbordam ajustes – mas a certeza é uma só.
Ou a Argentina olha melhor para si e distribui suas responsabilidades ou Messi – estafado, agoniado, prostrado – vai repetir o filme de tristeza que tem sido a Copa do Mundo em sua vida.
(1 – Que loucura: a Espanha se vingou de Sampaoli, que com o Chile tirou a Fúria da última Copa. 2 – O papelão de Madri é o maior da história da Argentina, que tomou de 6 a 1 outras duas vezes, mas jamais passou disso. 3 – Argentina e Espanha podem voltar a se cruzar nas quartas de final na Rússia. Ninguém por aqui sabe se isso é bom ou ruim.)