Por que Scocco está sendo comparado a Messi na Argentina?
Tales Torraga
''Intratável''. É esta a palavra que mais se escuta e se lê em Buenos Aires para definir o espetacular momento do atacante Nacho Scocco. Ele foi o autor dos dois gols que deram neste domingo (18) a vitória de 3 a 1 do River Plate sobre o Belgrano em um Monumental de Núñez eufórico e superlotado para comemorar o título da Supercopa Argentina obtido contra o Boca Juniors na semana passada.
A loucura desatada pelo inédito título em cima do Boca está fazendo com que os portenhos abusem do seu famoso exagero ao olhar para Scocco e enxergá-lo, para o River, com a mesma importância que tem Messi na seleção e no Barcelona.
Os números usados para tal equiparação nas rádios e nos debates na TV são, na verdade, a média de gols de Scocco com a camisa do River – com os dois de ontem, ele agora leva 21 gols em 32 jogos pelo clube, um excelente promedio, como dizem os argentinos, de 0,65 gols por partida.
Olhar para este promedio é algo que qualquer portenho futbolero aprende desde criança. Um atacante só merece ser considerado bom se sua média for de no mínimo 0,4. A média 0,5 é para gênios de carreiras consagradas como Batistuta ou Crespo. E o 0,6 é mesmo guardado para intratáveis como este Scocco 2018.
Mesmo não sendo titular no Campeonato Argentino – ainda está tratando uma lesão nas costas -, ele já soma nove gols, apenas dois atrás do artilheiro geral, o uruguaio Ribas do Patronato.
Os números de Messi que são usados como parâmetro na comparação com Scocco são os da seleção (média de 0,55). Os que são apenas do Barcelona (0,88), convenhamos, nem os portenhos se atrevem a comparar.
O que abastece esta equiparação é também o fato de Scocco fazer muito com pouco – quase o mesmo que ocorre com Messi hoje em dia, que anda muito, corre pouco e tem sido letal como nunca foi na carreira.
Scocco, ontem no Monumental, começou no banco de reservas, entrou no lugar de Mora e cravou dois gols em oito minutos. Contra o Boca, também como suplente, na primeira bola que tocou, já mandou para a redes do arquirrival, decretando o placar de 2 a 0 e o título que tornam compreensíveis quaisquer exageros.
Nacho está a dois meses de completar 33 anos – e por enquanto não é levado em consideração por Sampaoli para a Copa, até pela fartura argentina no ataque.
Mas mantendo esta média nas próximas semanas, suas chances aumentam bastante. De 0 a 10, hoje digamos que suas possibilidades de ir ao Mundial são de 4 – disparariam para 8 caso a fase persista. Scocco é um jogador maduro e que não faria cara feia ao ficar no banco para fazer exatamente o que faz hoje no River – tocar poucas vezes na bola e ter a responsabilidade de ser decisivo ainda assim.