Opinião: O Flamengo é o adversário perfeito para o River
Tales Torraga
Os argentinos amam o Rio – ou Río, como grafamos.
Sabem o fetiche brasileiro por Miami? É por aí. Brasileiros-Miami, argentinos-Río.
Não há portenho que não tenha falado dos eternos verões de Claudio Paul Caniggia e sua mulher Mariana Nannis na suíte de ambos no Copabacana Palace. Ou dissecado mil e uma vezes a história de Gustavo Cordera, um dono de loja de carros que passou férias no Rio sem um único peso no bolso e resolveu ficar por lá.
Só voltou um ano depois, apaixonado pelo Carnaval e decidido a virar cantor – e virou um dos melhores do rock do país, autor de uma linda versão de El Tiempo No Para, de Cazuza. Divina. ''A Argentina é amarga, o Rio é Carnaval'', falam e hablan.
Pois bem. Esta mudança – positiva – de ares é mais que necessária a um River que tem um timaço, mas que é uma lágrima na Argentina. Só o 20º no torneio local!
O goleiro, Armani, está bem cotado por Sampaoli para ir à Copa. Arqueiro de luxo. Com ritmo, pode ser titular da seleção. Os laterais são uruguaios: Mayada, pela direita, defende mais, ao contrário de Saracchi, de 19 anos, pulmões intactos.
Os zagueiros são Maidana – guerreiro eterno, desde a Segundona – e Martínez Quarta, excelente, mas com ainda muito a provar depois do seu gancho por doping.
Os volantes são Ponzio, que faz Guiñazú parecer um poodle, e Enzo Pérez, que deve pintar na Argentina mundialista como titular. Ojo: Enzo vem mal no Argentino e foi expulso no sábado. Enquanto o Flamengo guardou os seus titulares, o River teve equipe completa na derrota de 1 a 0 para o Vélez no José Amalfitani.
O vai e vem do meio deve ser composto por Zuculini e De La Cruz, que não assustam ninguém. Os titulares Chino Rojas, Nacho Fernández e Pity Martínez estão fora. Rojas e Pity, por lesões; Nacho, pela expulsão no (ay!) 4 a 2 do Lanús.
O ataque terá o uruguaio Rodrigo Mora e Lucas Pratto, que no sábado foi xingado de ''gordo inútil de 14 milhões'' por um narrador de rádio em plena transmissão.
Scocco não está 100% das costas. Deve começar no banco.
O River é, hoje, o time mais copeiro da Argentina. Nos últimos três anos e meio, ganhou sete campeonatos em mata-matas: uma Libertadores (2015), uma Sul-Americana (2014), duas Recopas (2015 e 2016), duas Copas Argentinas (2016 e 2017) e uma Suruga Bank (em 2015).
O desempenho nos torneios longos não chega nem perto. É por isso que a mudança de ares – e de grandeza de adversário – vai fazer bem ao River, obviamente muito mais animado em dividir uma cancha com o Flamengo no Brasil do que com o Olimpo em Bahía Blanca. O clube quer provar que o problema não é ele – é a Argentina, que vive em um caos que faz o Río parecer que continua lindo.
1) Os jogos do Campeonato Argentino vão ser paralisados assim que a torcida começar a insultar o presidente Mauricio Macri. Talvez tenham lido a GQ.
2) O Boca x River da Supercopa Argentina de 14 de março está para ser suspenso ou até mesmo cancelado. O motivo: os muitos indícios de uma enorme tragédia federal envolvendo as duas torcidas que somam 70% da população do país.
Até o intimista Engenhão sem público deve fazer bem a este River que no puede ser feliz con tanta gente hablando a tu alrededor (Charly!). Empate. Firmamos?