Patadas y Gambetas

Vídeo do São Paulo cria problema gigante para Pratto no River

Tales Torraga

''Eu era torcedor do Boca. Fanático. Via todos os jogos pela TV e, quando podia, ia ao estádio. Foi o melhor Boca da história, entre 1998 e 2003. Ganhou tudo.''

Sempre ponderado em seu discurso, Lucas Pratto deixou o coração xeneize falar à vontade na descontraída entrevista que deu ao canal do São Paulo no YouTube em 1º de abril do ano passado. Dez meses depois, já bem longe do Morumbi, mas vestindo outra camisa vermelha e branca, a do River Plate, o atacante que é medido a cada passo como a contratação mais cara da história do clube de Núñez está pagando o preço das suas palavras. A sua declaração de amor ao arquirrival ''viralizou'' e não há torcedor do Boca hoje em Buenos Aires não saia por aí falando que o River gastou 11,5 milhões de euros em um atacante que aprendeu a jogar…na arquibancada da Bombonera, gritando os gols de Palermo.

Pratto hoje e ontem – Montagem/Divulgação

Por incrível (e triste) que pareça, vai ser de bom tom que Pratto comece a cuidar de sua segurança na Argentina a partir de agora. A rivalidade entre River e Boca está atingindo níveis realmente insuportáveis, com as redes sociais reverberando ódio e ameaças de lado a lado durante todas as horas do ano.

Não foi à toa, por exemplo, que Buffarini – que se destacou no San Lorenzo, mas hoje defende o Boca -, declarou semana passada que tem medo de andar na rua. A Buenos Aires dos celulares e das cabezas gachas, como é chamada a geração que parece não respirar longe de uma tela, está perdendo qualquer capacidade de reflexão. Para buscar a fama entre os seus pares, um inadaptado qualquer pode perfeitamente agredir quem quer que seja e postar aos seus amigos como uma proeza digna de registro. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o técnico do Boca, Guillermo Barros Schelotto, que no ano passado quase entrou em uma briga coletiva na saída de uma clínica no dia seguinte a uma derrota para o River.

Os meios de se criar problemas podem ser novos, mas a gigante intolerância mútua entre River e Boca é tão antiga na Argentina quanto o mate e o alfajor. Os mais velhos lembram bem do caso do zagueiro Óscar Ruggeri, que trocou o Boca pelo arquirrival e teve a sua casa queimada nos anos 80.

Voltando a Pratto, lidar com a desconfiança gerada por sua infância bostera é mais uma barreira que ele vai precisar superar desde que chegou ao River, há 40 dias.

Antes mesmo de estrear, Lucas sofreu uma lesão no joelho. O atacante fez até aqui três partidas, nenhuma delas completa, e ainda não balançou as redes pelo novo clube. Por falar em redes, as únicas movimentadas por ele foram as sociais, que não contam mais com o número 12 – ligado ao Boca, pois assim se chama sua barra brava. Largar o 12 foi um pedido – quase imposição – da torcida do River.

Lucas e a mudança nas suas redes sociais – Reprodução

Pratto, vale lembrar, jogou nas divisões de base do Boca e tentou a sorte como profissional da equipe em 2009 e 2010, levado justamente por Palermo. Fez 21 partidas e 7 gols. Hoje do outro lado da calçada, diz que não voltaria ao clube.

(Será?!)