Patadas y Gambetas

Sampaoli tentou furar blitz e agredir mulher, diz jornal

Tales Torraga

A noite de fúria de Jorge Sampaoli segue apimentando o fim de ano na Argentina. Nesta quarta (27), o jornal ''La Nación'', o segundo maior do país, publicou o relato do seu enviado à pacata cidade de Casilda, de 35 mil habitantes, para reconstituir o que fez o técnico da seleção argentina humilhar um agente de trânsito chamando-o de ''idiota que ganhava cem pesos por mês'' na saída do casamento da sua filha.

O papelão de Sampaoli – Reprodução

Segundo o jornal, que traz passo a passo do que ocorreu, o carro no qual estava o técnico da seleção inicialmente tentou furar a blitz que era feita às 5h30, a apenas três quadras do hotel onde estava hospedado. Cinco carros estavam parados aguardado que os agentes fizessem o teste do bafômetro, e o veículo de Sampaoli desviou da fila e tentou passar. Foi contido pelos policiais, e aí o técnico explodiu.

O responsável pelo controle demonstrou que três pessoas precisariam descer do carro que comportava oito pessoas – o máximo permitido era de cinco, pela quantidade de cintos de segurança do veículo.

Depois da triste frase ''Idiota, você ganha cem pesos por mês, estúpido'', Sampaoli, caminhando, teria desrespeitado também uma agente de trânsito. Segundo as testemunhas ouvidas pelo ''La Nación'', tudo ocorreu em ''péssimos modos'', e o jornal publicou que o técnico inclusive tentou agredir a profissional.

(Que modo de se tratar uma trabalhadora em pleno 24 de dezembro, não?!)

Não parou aí: vindo logo atrás, em outro veículo, o preparador físico da seleção, Jorge Desio, teve sua carteira de habilitação apreendida por não ter passado no bafômetro, o que fez Sampaoli insultar ainda mais os profissionais que estavam envolvidos na operação, chamando-os de ''gato'' e ''vigilante'', gírias que em português significariam ''falso'' e ''cagueta''. Sampaoli foi além, e de maneira autoritária mandou os policiais devolverem a habilitação do preparador – nada feito.

Montagem da nota de cem pesos com a cara de Sampaoli, chamado agora de 'Cienpaoli' – Reprodução

O treinador de 57 anos emitiu uma carta pedindo desculpas públicas e telefonou para a prefeitura de Casilda dizendo que se arrependia do ocorrido, mas a Argentina segue ponderando o seu papel de exemplo à sociedade – e de representante mundial do país! – e defendendo até mesmo a sua demissão.

A AFA, por enquanto, não vai fazer nada. O blog apurou que a entidade considera o ocorrido ''um assunto de sua vida pessoal'', embora a própria AFA tenha usado os seus canais de comunicação para expressar as desculpas do transtornado técnico.

Como sempre ocorre em casos assim, as redes sociais explodiram de memes humilhando o treinador que, de fato, mostrou a sua pior cara. Que um profissional de destaque mundial faça tais coisas em uma das raras aparições em sua tranquila cidade-natal de 35 mil habitantes diz, de maneira péssima, quem ele de fato é.

Alejandro Fantino, um dos apresentadores de maior visibilidade da TV argentina, chamou Sampaoli de ordinário, resumindo a triste noite de Casilda com a frase ''por mais no alto em que você esteja, você está sempre sentado sobre sua bunda''.

A eventual demissão de Sampaoli mobilizou filósofos e psicólogos, que desde ontem cedo estão nas TVs e nas rádios de Buenos Aires para analisar o assunto.

A opinião mais ponderada veio de Miguel Wiñazki, filósofo e jornalista, que não aceitou as desculpas públicas do treinador: ''As palavras de Sampaoli sobre o salário de alguém são tremendas, essa coisificação de acordo com o dinheiro é terrível. E o que é o discuso oficial de Sampaoli? É uma coisa mentirosa e eticista. Ele tem tatuagem do Che Guevara no braço e age assim. É um falso'', analisou.

Sampaoli ganha 140 mil dólares por mês (cerca de R$ 465 mil), enquanto um policial, segundo o programa ''Terapia de Notícias'', que convidou Wiñazki, apenas 800 dólares (R$ 2.650). ''Sampaoli é um caso da pós-moralidade. É dizer que o falso é verdadeiro'', finalizou o filósofo, que acaba de lançar o livro 'Pós-moralidade' e demonstrou não acreditar em nada do pedido público de desculpas do treinador.