Livro ataca fair play e pede volta do “futebol de antes”
Tales Torraga
As discussões sobre qual futebol é melhor, se o ''raiz'' ou o ''Nutella'', são constantes também na Argentina e no Uruguai – tanto que virou o livro ''Que volte a celeste de antes'', lançado em Montevidéu e à venda em Buenos Aires.
''O livro é uma apologia ao futebol de antes, de estilo rústico e de travas altas para frear o adversário. E, claro, com incidentes quando terminar o jogo. É uma homenagem aos capitães rudes e aos jogadores com bigode e chuteiras negras. Uma homenagem às concentrações com vinho e churrasco e à torcida que vaia o hino contrário'', comenta o autor, o uruguaio Sebastián Chittadini, formado em Ciências da Comunicação e colunista de diversos portais e revistas em Montevidéu.
''É um pouco de crítica e um pouco de ironia. Para a gente, por exemplo, os jogadores depilados e perfumados são considerados indignos de vestir a camisa da seleção. E um jogo que termina sem expulsos provoca vergonha'', segue o autor.
O livro originalmente era uma comunidade no Facebook, mas acaba de ser lançado – com as devidas adaptações – pela editora Fin de Siglo, à venda aqui por cerca de R$ 60. ''É um livro em defesa dos velhos valhores'', assinala Chittadini.
Ele bate forte no que considera ''metrossexualismo'' do futebol atual perceptível em jogadores e torcedores. ''Que vão ao estádio com a família, apoiam os jogadores inclusive quando estão perdendo, pintam a cara e fazer a ola'', analisa. ''Vivemos tempos de fair play? Onde ficou o 'ganhar a todo custo', o 'ser fortes em nosso estádio', o 'peso da camiseta'? Onde foram parar os homens curtidos, com a cara entupida de barba e com o peitoral peludo?'', provoca.
Outros trechos cheios de ironias:
“Os uruguaios, com um bom churrasco e um bom vinho, sempre correram bem. A nutricionista nós deixamos com o Beckham.''
''Você pensa que é uma festa esportiva, como dizem? O Mundial é a guerra. Diretamente a guerra'', falava Obdulio Varela.
''Violência há no Iraque, onde se cagam a tiros. Nós jogamos futebol. Quem não goste do contato, que jogue xadrez'', repete Diego Godín
''Os jogadores de ébano dão à Celeste um plus frente às outras seleções. Os negros são protagonistas destacados da nossa gloriosa malha sobre o peito. E falamos de negros, não de ‘afrodescendentes’.”
“O bigode impõe respeito. É um sinal que a pessoa que vem com ele é séria e tem suas convicções. Não teme o que falam. Uma pessoa com bigode é firme no campo de jogo, por isso o bigode proliferava em goleiros, zagueiros e volantes.''
“Desgraçadamente, e salvo raras exceções, estão enterradas no passado as chuteiras negras, marcas de um futebol e de homens robustos que cuidavam de sua ferramenta com graxa e saliva para entrar em campo. Hoje, a moda multicolor monopoliza o calçado, sepultando a identidade do nosso esporte.''