Patadas y Gambetas

River e Lanús prometem “batalha da década” na semifinal da Libertadores

Tales Torraga

''Quer jogo bonito, vai para a Europa.''

É o que repetem os portenhos hoje em Buenos Aires à espera de uma partida histórica, ríspida e impossível de prever na jaula monumental em Núñez.

River Plate e Lanús abrem hoje (24) às 20h15 (de Brasília) uma semifinal 100% argentina, o que não ocorria na Libertadores desde 2004, quando o River foi eliminado pelo Boca nos pênaltis em um duelo infernal: gol decisivo aos 51 do segundo tempo, seis expulsões nos dois jogos (a famosa galinha de Tevez), puxões de cabelo, arranhões na cara e cerca de 80.000 atônitos torcedores em silêncio, escutando, das populares, a festa que os vencedores do Boca faziam em campo.

O enredo bélico deve se repetir. River e Lanús se olham com absoluta animosidade.

River e Lanús fazem semifinal. O horário de Brasília é 20h15 – Montagem/Olé

Tanto os presidentes como os jogadores carregam uma pesada hostilidade conjunta – e é por isso que ninguém deve esperar outra coisa que não uma repetição, por exemplo, daquele insano River x Boca da Libertadores de 2015 com os dois times jogando no limite do regulamento, repartindo socos, voadoras e cotoveladas.

A arbitragem hoje será brasileira, e ela merece um parágrafo à parte.

O responsável por conduzir o trio será Wilton Sampaio, que vai contar com o ''juiz eletrônico''. É no mínimo irônico que o recurso entre na Libertadores justo em um duelo tão pegado. Os vídeos vão servir para tirar dúvidas pontuais. Mas a sensação de incerteza é enorme por parte dos dois clubes. ''Vou falar a verdade: não tenho nem ideia do que vai acontecer'', admitiu o volante Enzo Pérez, destaque do River.

Em êxtase depois do 8×0 sobre o Jorge Wilstermann, a torcida do River está mobilizada desde a semana passada para fazer o Monumental explodir hoje (24) ainda mais do que na partida contra os bolivianos. É claro que todos os 65.000 ingressos voaram em um par de horas. Quem ligar a TV e ver um público de umas 80.000 pessoas, que não se assuste. Costumbres argentinas, já cantava Calamaro.

O perigo é o Monumental – tratado pela torcida do River como ''Festival de Núñez'' depois do 8×0 – explodir também de raiva, porque o Lanús tem sido o grande carrasco recente do gigante vermelho e branco. Lanús e River disputaram um título em janeiro, a Supercopa Argentina, cruzando os campeões do Campeonato Argentino – o Lanús – e o da Copa Argentina (o River). E não é que o Lanús atropelou o River com um 3×0 que poderia ser até mais?

Há dois antecedentes tristes para o gigante de Núñez também na Sul-Americana, quando foi eliminado pelo Lanús até com certa folga em 2013 e 2009.

Mas nada apimenta mais este mata-mata que a guerra de classes que dá os tons da ''batalha da década'' que tanto empolga os argentinos nesta semana.

O aristocrático River voltou a viver sua fase ''millonaria'', com muito dinheiro no bolso e pesos para dar e vender. O Lanús é um time de bairro, pequeno, operário, e…coirmão do Boca. Foi no Lanús que Guillermo Barros Schelotto, ídolo xeneize quando jogador, amadureceu como técnico a ponto de agora ser o treinador do Boca. E é também um ex-Lanús (Goltz), o hoje xerife da zaga bostera.

Schelotto não deu meia-volta: ''É claro que quero que ganhe o Lanús''.

A disparidade econômica entre as duas equipes é gigante, como mostra o quadro.

O River do brilhante ''Napoleón'' Marcelo Gallardo deve ir a campo com Lux; Montiel (Casco), Maidana, Pinola e Saracchi (Casco); Pérez, Patadas Ponzio, Fernández e Pity Martínez; De la Cruz (Auzqui) e Nacho Scocco.

O Lanús do competente Jorge Almirón terá: Andrada; Gómez, García Guerreño, Braghieri e Velázquez; Martínez, Marcone e Pasquini; Silva, Sand e Acosta.

O River joga no estilo ''patadas y gambetas''. O Lanús vai no ''patadas y patadas''.

Vale prestar atenção na dupla de ataque do Lanús. Pepe Sand foi criado no River, mas não obteve chances entre os profissionais e hoje se esmera sempre para balançar as redes do ex-clube. Sua relação com a torcida é bem agressiva.

E Laucha Acosta, um dos maiores encrenqueiros da Argentina, em que pese ser jogador de seleção, é filho de ex-atletas do Lanús e toda sua família segue no clube praticando outras modalidades. Diz abertamente que este cruce serão os jogos da sua vida, e que vai se matar em campo para levar a vitória ao pequenino Lanús.