Como Maradona impediu o suicídio do zagueiro da Argentina de 1990
Tales Torraga
O zagueiro argentino Pedro Monzón está na história do futebol – mas por um motivo que não orgulha ninguém. Ele é o único jogador a levar um cartão vermelho direto na final da Copa, quando acertou uma patada muy violenta em Klinsmann em 1990. Terminava ali a sua positiva participação no Mundial da Itália: jogou quatro partidas, fez um gol (contra a Romênia) e marcou Careca na vitória contra o Brasil.
No último fim de semana, Monzón, hoje com 55 anos, falou pela primeira vez sobre o drama que viveu quando parou de jogar, em 1996, mergulhado no vício da cocaína. Vivendo em uma casa sem mobília, perto do estádio do Racing, contou que andava com uma pistola carregada e que pensava sempre em se matar.
Foi quando apareceu Diego Armando Maradona.
''Tinha muita vontade de me matar. Estive a ponto de fazer isso por muitos anos. Me separei, vivia em uma casinha com uma única cadeira. Estava sem dinheiro. Não tinha nada. Apenas para comer. Às vezes, nem isso'', contou à TV Arroban.
''Um dia, disse: 'Vou telefonar para Diego, e se ele não vem, eu me mato'. Eu estava muito louco'', seguiu Monzón, sobre a situação que ocorreu quando ele tinha 34 anos e Maradona, aos 35, jogava pelo Boca (e beijava a boca de Caniggia).
''Falei com Diego e ele me perguntou: 'Qué te pasa?'. Disse que queria falar com ele, que não me sentia bem, e ele me respondeu para eu não me preocupar, para eu aguentar um instante que logo ele estaria ali.''
''Quando Maradona chegou, eu estava sozinho. Para mim, ele demorou cinco minutos para chegar, mas claro que foi mais. Quando veio, não acreditei. Vi a caminhonete, ele chegou, eu escondi a arma, não falei que queria me matar porque sentia muita vergonha. Não pensava que ele viria, mas ele veio.''
''Ele entrou, dei a cadeira a ele, sente Diego, e ele me disse 'Não, se você está no chão, sento no chão com você. Que problema você tem, Pedro?'. Minha quinta filha havia acabado de nascer em Tucumán e não tinha dinheiro para vê-la. Contei a ele que não tinha este dinheiro. Depois, tive dinheiro para ver a filha, para comer, para um montão de coisas.''
''Maradona, para mim, é Deus. E para os meus filhos, muito mais, porque eles sabem o que Diego fez pelo pai deles.''
Monzón hoje é técnico do Argentino de Quilmes, da Quarta Divisão.