Peru teme “água batizada” e leva sua própria bebida à Argentina
Tales Torraga
Decisão para a desesperada Argentina, a partida das 20h30 (de Brasília) desta quinta (5) na Bombonera é decisiva também para o Peru. O país não disputa uma Copa do Mundo desde 1982. E está diante da sua maior chance desde então.
Os peruanos estão muy precavidos com possíveis trapaças argentinas.
Primeiro, o técnico – argentino! – Ricardo Gareca detectou uma espionagem de Jorge Sampaoli no começo dos seus treinos com a equipe na semana passada. Depois, passou a andar apenas escoltado – mesmo ainda estando no Peru.
A seleção peruana só vai chegar a Buenos Aires na noite de quarta-feira, apenas 24 horas antes do jogo, e carregando todas as suas bebidas lacradas.
A desconfiança, claro, passa pelo que ocorreu no Argentina x Brasil da Copa de 1990, quando o massagista argentino Miguel Galíndez deu um garrafa de água com tranquilizantes ao lateral-esquerdo brasileiro Branco.
O estado de quase pânico é agravado por um jogador do passado. Uma das presenças mais constantes na TV peruana é a do volante dos anos 80 El Patrón José Velasquez, repetindo que os argentinos vão tirar vantagens fora de campo.
(Velásquez esteve no 2×2 com a Argentina em 1985 – que classificou a Argentina e deixou o Peru fora do Mundial do México. E jura que os zagueiros Passarella e Garré encheram as mãos de Vick Vaporub para passar nos olhos dos rivais nas faltas e escanteios. El Patrón relembra ainda que logo no primeiro minuto o argentino Camino deu uma patada assassina em Navarro para sacá-lo do jogo.)
A preocupação dos peruanos com a intoxicação fez a equipe alterar sua logística.
Integrantes do corpo médico da seleção percorreram as diversas instalações do Vélez e do Boca Juniors, times por onde Ricardo Gareca passou como técnico ou jogador. A escolha foi pelo hotel do Boca, onde uma vistoria prévia foi feita para analisar as condições de trabalho e especialmente de alimentação para o Peru.
A seleção de Gareca está treinando para esta partida há exatamente uma semana.
Pelos lados da Argentina, apenas ontem, quase na madrugada portenha, Jorge Sampaoli completou sua lista de convocados com os atletas que atuam no futebol argentino. O Pelado Sampa chamou Gago, Pablo Pérez e Benedetto, do Boca; Enzo Pérez e Casco, do River; e Lautaro Acosta, do Lanús.
Estamos diante de uma das semanas mais frenéticas e dramáticas da história do futebol argentino, que corre o considerável risco de ficar fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez em quase 50 anos. A última ausência em um Mundial foi em 1970, no México, quando a Argentina foi eliminada justamente pero Peru – e justamente na Bombonera.
Há o grande temor de a histeria atual golpear os já combalidos argentinos que de 2014 para cá só perdem decisões – e todas elas com requintes de crueldade.
A AFA está otimista e agrandada ao extremo, enquanto os jogadores não acompanham este estado de ânimo. A chuvosa Buenos Aires só fala da seleção – e estamos de ouvidos e olhos atentos para levar ao Brasil os detalhes deste jogo com clima de guerra que é o céu ou o inferno para a apaixonada e explosiva Argentina.
Un corazón loco y herido? Aguanta!