“Tomara que a Argentina fique fora da Copa”, diz ex-preparador da seleção
Tales Torraga
Guru de Diego Armando Maradona, Fernando Signorini, hoje com 66 anos, é um respeitado pensador do futebol na Argentina. Preparador físico desde 1973, ele integrou, com Maradona, a seleção nas Copas de 1986, 1990, 1994 e 2010.
E tudo o que ele quer é ver a Argentina fora da Copa do Mundo da Rússia.
''Faz tempo que imagino que para a Argentina seria bom ficar fora de todas as competições que disputa'', analisou Signorini ao blog. ''Não vi o jogo contra a Venezuela e não estou preocupado com este jogo contra o Peru. Não me interesso mais. É muito mais importante que haja uma profunda reflexão e que a AFA termine de uma vez por todas este grau vergonhoso de bagunça e corrupção.''
Para ele, o que está em jogo na Argentina hoje vai muito além da Bombonera no próximo dia 5: ''Enfrentar o Peru é o que menos importa, o que importa é que o futebol argentino volte às bases e às fontes, apostando nos valores que o esporte precisa ter. É preciso haver um corte saudável. Por isso seria bom não ir à Copa''.
''O futebol argentino era um processo cultural que permitia a educação do jovem em meio a toda essa loucura. Hoje, atiram de tudo da arquibancada, permitem que os barras bravas façam de tudo. Os dirigentes têm suas empresas que funcionam de maneira brilhante e os clubes estão como estão.''
“É mentira que esta nova AFA queira fazer as coisas bem. As estruturas não mudam, os organismos que deveriam intervir não fazem nada, as pessoas que estavam com Grondona saíram pelas portas dos fundos e não deram explicações. Os nomes mudam, mas a filosofia é sempre a mesma'', seguiu.
O momento argentino tampouco precisa de torcida contra, para ele, porque a realidade já é complicada demais para render resultados: ''Sampaoli assumiu e não tem tempo para trabalhar. Uma equipe é produto dos ensaios e a maioria dos jogadores chega ao país um dia antes. É por isso que as seleções jogam mal. Sem tempo para ensaiar, fica impossível dominar uma ideia''.
Signorini é autor do excelente livro ''Futebol, um chamado à rebelião'', no qual analisa com bastante lucidez o momento do jogo mais popular do planeta.
''O esporte ficou de lado, importa mais o negócio. O livro é um grito de rebelião porque fiquei farto dos dirigentes e do jornalismo inconsequente. O ambiente é uma porcaria. Falando uma vez com Maradona, lhe disse que ele tinha que comemorar ter nascido em uma favela, porque se ele nascesse na Recoleta, era capaz de virar jogador de pólo. Sou loiro de olhos azuis, mas tudo o que tenho eu devo a um favelado. Os jogadores também precisam de afeto'', refletiu, se referindo a Maradona e indicando que esta é uma sensível deficiência pela qual passa a seleção argentina na atualidade – algo que Signorini sempre repete nas rádios.