Por que Argentina e Uruguai têm mais técnicos estrangeiros que o Brasil?
Tales Torraga
Terra de vários dos melhores treinadores do mundo, por mais que Vanderlei Luxemburgo pense diferente, a Argentina está sempre de aeroportos abertos para os técnicos dos mais diferentes lugares do planeta. E o nanico Uruguai? Igual.
Não há orgulho charrúa, nem soberba portenha, nem bairrismo, nem discurso de ''somos pequenos, não venha você, grande e rico, invadir nosso mercado''. A troca de conhecimento é livre e incentivada há muitas gerações.
Não há burocracia, licença A ou curso B – só vontade de aprender.
Se o Campeonato Brasileiro tem um único técnico estrangeiro, o colombiano Reinaldo Rueda, agora no Flamengo, e ele antes de estrear já lida com discursos estreitos, o Campeonato Argentino, em sua última edição, contou com três clubes dirigidos por uruguaios – Paolo Monteiro, que comandou o Colón e o Rosário Central – e o já conhecido Diego Aguirre, que continua à frente do San Lorenzo.
Apesar da diferença de território e nacionalidade e da imensa rivalidade no futebol, argentinos e uruguaios são ''irmãos de diferentes placentas'', como costuma definir o ex-presidente Pepe Mujica. O centenário intercâmbio entre técnicos e jogadores é visto com ótimos olhos inclusive hoje – algo que o Brasil, com as fronteiras tão próximas, tem igual condição de fazer. Basta querer.
Não é preciso gastar a memória para lembrar do Kaiser argentino Daniel Passarella à frente da seleção uruguaia, ou do Maestro Óscar Tabarez, atual treinador do selecionado celeste, dirigindo o Boca Juniors em duas ocasiões.
O River Plate contou com diversos técnicos de Hungria e Itália nos anos 30 e 40. Brasileiros como Didi e Delém mais que tiveram espaço em Núnez – são reverenciados até hoje. Chilenos (Manuel Pellegrini) e uruguaios (Luis Cubilla) também encontraram portas abertas nas décadas passadas. Nenhum deles esbarrou em nenhuma reserva de mercado.
Melhor treinador hoje em atividade na Argentina, El Muñeco Marcelo Gallardo, do River, começou sua carreira no Nacional de Montevidéu, onde pendurou as chuteiras para imediatamente virar treinador – e logo campeão, em 2011.
O Campeonato Uruguaio também tem dois técnicos vindos da Argentina: José Enrique Basualdo, à frente do Cerro, e Damián Timpiani, no Sud América.