Patadas y Gambetas

Título argentino e pedido do técnico: como o Boca voltou a querer Centurión

Tales Torraga

O Boca Juniors é o novo campeão argentino. A conquista antecipada foi definida hoje (20) sem o clube sequer precisar jogar: o Banfield perdeu por 1×0 para o San Lorenzo no Nuevo Gasómetro e não pode mais alcançar o time xeneize.

Foi a 32ª conquista nacional do Boca – contra 36 do River. Foi também o primeiro título do ídolo bostero Guillermo Barros Schelotto como treinador do clube.

Se a taça não viesse hoje, desta quarta (21) ela dificilmente escaparia, com o Boca enfrentando o Olimpo (o 19º no torneo) na cidade de Bahía Blanca às 19h45.

Com a estante reservada para receber o novo troféu, o Boca já começou a traçar os planos para a Libertadores 2018 – e Ricky Centurión, apesar de tudo, segue neles.

A triste conduta extra-campo do jogador e o escândalo da denúncia de violência doméstica feita pela sua ex-namorada fizeram o Boca sinalizar que ele não seguiria na equipe – e que Centurión depois do dia 1º de julho voltaria ao São Paulo, que quer US$ 6 milhões (R$ 19,8 mi) para o empréstimo virar contratação.

Centurión e Schelotto – Reprodução TN

Mas Schelotto, de corpo presente, pede, quase exige, a permanência do jogador, o que a diretoria pode atender resolvendo dois problemas em um só. 1) Lavar as mãos e encarregar a disciplina de Centurión à responsabilidade do treinador. 2) Não lidar com a fúria da torcida que vai se ver sem um dos seus xodós enquanto o inimigo River Plate joga a atual Libertadores com boas chances de ganhá-la.

Rogério Ceni disse na semana passada que Centurión tem ''grande valor de mercado'', e o Boca, por supuesto, sabe disso. Daí muitas pessoas metidas no mundo Boca consultadas pelo blog entenderem esta ''rejeição oficial'' a Centurión como mero despiste para acuar o jogador – reduzindo as cifras do futuro contrato – e o São Paulo – que poderia baixar a pedida mediante a ficha corrida do atleta.

Centurión, vale lembrar, esteve metido nesta acusação de agredir a ex quando o presidente do Boca, Daniel Angelici, estava fora da Argentina para contratar Sampaoli para a seleção. Foi Angelici pisar o solo portenho para o caso desaparecer do noticiário. Não há mais nada a respeito na mídia portenha – e todos os envolvidos, de acusação e defesa, estão no mais absoluto silêncio.

A rejeição que a sociedade argentina imediatamente impôs a Centurión também esmoreceu, e aí também são mais duas razões que ajudam a explicar.

O título do clube – e a torcida do Boca corresponde a 46% da população do país – evidentemente deixa uma última impressão que ajuda a esconder os desmandos do atleta. E a sociedade argentina é tão complexa e volátil que é capaz de se considerar “respeitosa” e atacar sua própria “falta de respeito”, como mostra pesquisa levada às bancas nesta terça pelo jornal ''Clarín''.

Em português claro: este país é uma loucura sem fim.

Por mais que a diretoria adote o contorcionismo em seu discurso, a chance de Centurión seguir no Boca é, de acordo com o que apurou o blog, de cerca de 60%. A acusação de violência, como tantas outras coisas na Argentina, vai ficar para trás na cabeça de muitos. Se não fosse assim, o atual goleiro do Boca, Agustín Rossi, também acusado de agredir a ex-namorada, não seria o titular da equipe.

* Atualizado às 19h50 com o desfecho do campeonato.