Cocaína e ecstasy quase tiraram Verón da Copa
Tales Torraga
Presidente e jogador do Estudiantes de La Plata, Juan Sebastián Verón foi anunciado ontem (15) como coordenador das seleções de base da Argentina. Exatamente por isso, o episódio mais negativo da sua carreira foi revivido em detalhes nesta semana. Designações + politicagens = Buenos Aires, hermanos.
Em entrevista à Rádio La Red, o chefe de imprensa da seleção argentina na Copa do Mundo de 1998 contou todos os meandros daquela preparação. O áudio está aqui – e nele Eduardo Bongiovanni, responsável pelo elo entre jornalistas e a equipe de Daniel Passarella, confirmou que Verón deu positivo em um antidoping.
O exame foi feito às vésperas do embarque para a França, sede daquele Mundial. O antidoping era uma obsessão do linha-dura Passarella, que tentava evitar a repetição do que acontecera com Maradona e a efedrina na Copa de 1994.
E esta amostra de Verón continha traços de cocaína e ecstasy, o que foi depois confirmado pelo presidente da AFA, Julio Grondona. O ''sim'' de Grondona teve muito mais a ver com uma guerra fria com Passarella, seu inimigo público desde o México-86, do que com o respeito pela torcida argentina às vésperas do Mundial.
(Presidente e técnico que mal se falam? Esto es Argentina, muchachos.)
Seguiu-se então uma agitada série de reuniões que colocaram em dúvida a participação de Verón naquela Copa. Foi sua rapidez mental que convenceu Passarella e Grondona de que o resultado do teste não se repetiria na França: ''De que doping estão me falando se não houve jogo?'', teria questionado La Brujita, de então 23 anos – que ainda estava trocando de time (a Sampdoria pelo Parma).
Os jogadores da Argentina se rebelaram com a notícia do teste – ''furo'' do radialista Claudio Federovsky – e decidiram não falar mais com a imprensa.
(Ou seja: se revoltaram com a divulgação de uma verdade, não uma mentira.)
Verón sempre negou tudo. ''El Lado V'', sua biografia, escrita pelo jornalista Sergio Maffei, narra o encontro na França entre La Brujita e o radialista que noticiou o resultado do seu teste. Quase houve agressão. No quase também ficou a promessa de processo – que jamais ocorreu. O trecho que narra tudo é este.
Verón jogou – e bem – o Mundial 1998. Com a camisa 11 e um futebol que unia raça e elegância, esteve em campo durante todos os minutos da Argentina naquela Copa. A seleção azul e branca ganhou de Japão (1×0), Jamaica (5×0) e Croácia (1×0) antes de um duelo épico nas oitavas-de-final contra a Inglaterra. A vitória só veio nos pênaltis – e Verón deixou o seu, na terceira cobrança.
O sonho do título virou um pesadelo que ainda perturba: nas quartas-de-final, perdeu para a Holanda de Bergkamp, que fez o 2×1 aos 44min do segundo tempo.