Patadas y Gambetas

Opinião: Argentina de Bauza escancara arrogância até para marcar amistosos

Tales Torraga

Difícil saber o que anda pior em Buenos Aires, se é o calor sufocante que está deixando a capital insoportable nesta semana ou se é a bronca portenha com Edgardo Patón Bauza e sua face recém-revelada – a de fanfarrão, de acordo com os cada vez mais ruidosos e numerosos argentos que assim avaliam o seu trabalho.

A novidade da vez é o amistoso contra a Rússia agendado para 11 de novembro para a inauguração do estádio da final da próxima Copa. A notícia desceu como uma medialuna estragada nos cafés e bares da capital, que logo lembraram aos berros que a repescagem das Eliminatórias vai ser disputada nos dias 6 e 14 do mesmo mês, e que a Argentina hoje é a quinta colocada e precisaria dessas duas partidas extras para se garantir no Mundial do ano que vem e dar adeus à generación dorada (?!) de Messi, Mascherano, Agüero, Di María e Higuaín.


A posição na tabela é sempre minimizada por Bauza, que reverteu todo o seu histórico de homem sensato em troca de um sentimentalismo barato que é tratado como mera arrogância e insegurança em qualquer divã da Villa Freud.

Se Patón ficar repetindo – até escrevendo em lousas! – que ''a Argentina com certeza vai ser campeã'' e que seu sonho é ''entregar a Copa ao Papa'', vai ser impossível reverter a fúria dessa gente com a cabeça torrada pelo calor, pela fila de 24 anos sem títulos e pelo vergonhoso momento vivido nas Eliminatórias.

A Argentina ''convencida que vai ser campeã'' – pode uma coisa mais absurda que esta para quem não ganha nada há um quarto de século? – é a quinta nas Eliminatórias e vai enfrentar três das quatro seleções que estão à frente: Uruguai, Equador e Chile. Uruguai e Equador fora de casa, e Chile no Monumental no próximo dia 23. E quem é a Argentina para sacar pecho e achar que vai ganhar fácil do Chile depois de perder e chorar nas duas últimas finais da Copa América?

Depois do Chile vem a Bolívia em La Paz, um dos piores lugares do mundo para a Argentina jogar, onde perde quase sempre. Na sequência, o Uruguai no Centenário (um dos maiores partidazos da história, seguro), Venezuela e Peru em casa, e Equador, de novo na complicada altitude, para definir a ida ao Mundial.

É para se preocupar mais e falar menos, clama a Argentina – e é mesmo o cúmulo da contradição o torcedor argentino pedir para qualquer um falar menos. Mas há um óbvio e real risco de nem sequer obter a vaga na repescagem: seja pela projeção dos jogos, seja pelo pobre futebol jogado pela seleção de Bauza até aqui.

Mas este risco, pelo visto, é coisa da cabeça de la gente que sofre com o calor e com a fila, não dos que enchem os bolsos com os amistosos, muito menos dos técnicos que um dia prometem títulos e depois dizem que é preciso mudar a cultura de um país triunfalista que flerta cada dia mais com o abominável discurso da superioridade racional argentina. Um país que, convenhamos, não seria o que é no futebol sem esta dicotomia tão pungente entre a loucura e a genialidade, entre não saber perder e viver perdendo e perdendo, chorando e não aprendendo.