Davis é a maior alegria argentina desde 1986
Tales Torraga
E chegou o grande dia: 27 de novembro de 2016 já é um divisor de águas. Nunca, jamais, o tênis e o esporte vão voltar a ser o que eram na Argentina. Ya está.
Chegou o dia de esquecer das decepções contra a Alemanha, contra o Chile e contra o Brasil. De esquecer as outras finais da Davis. E comemorar, gozarla y festejarla o que fizeram San Juan Martín del Potro e Federico Delbonis para loucura del Dios Maradona, presente, como prometera, até a última pelotita.
Coitados daqueles que não acreditam que esta é a maior alegria argentina no esporte desde 1986, desde o Mundial de Maradona, maior ainda que o ouro olímpico no futebol e no basquete, maior que os títulos das Leonas e dos Pumas.
Exagero?
Pergunte aos 4.000 argentinos que desde sexta pulam e cantam em Zagreb.
Pergunte para eles, porque por algo eles estão aí.
São muito mais que os suíços que há dois anos cruzaram a fronteira dirigindo seus carros para ver Roger Federer enfim ganhar a Davis.
São torcedores muito mais ruidosos, entusiastas, apaixonados e entregues que aqueles suíços corretos. Não são suíços, claro, são argentinos e enfermos, vivem o tênis como ninguém, como em nenhum outro lugar do mundo.
Não existe país em que o tênis tenha o nível de paixão e exposição que há na Argentina, um único fim de semana em Buenos Aires desfaz qualquer dúvida.
O dia em que Rafael Nadal parar de jogar, os espanhóis vão manter o tênis como assunto de terceiro nível. O dia em que Federer e Wawrinka pendurarem as raquetes, os suíços vão voltar a ter olhos só para o esqui e para o hóquei.
A Argentina, o país do futebol, nunca foi assim.
Desde que Guillermo Vilas o fez esporte popular, o tênis sempre esteve aí. Por isso a Davis virou obsessão. Esperamos 25 anos entre a primeira, em 1981, e a seguinte, em 2006, mas das últimas 11 finais, a Argentina esteve em quatro.
E nas quatro voltou com as mãos vazias. Nenhum país quer ser lembrado como o melhor a jamais vencer. Ahora se acabó, Argentina.
Há homens que buscam ao longo de sua vida um destino que não sabem bem qual é. Del Potro e Delbonis, hoje, o tiveram plenamente identificado.
Foram, sem distâncias ou exagero, o Kempes de 1978, o Maradona de 1986, o Fangio dos anos 50, o De Vicenzo dos anos 60, o Monzón dos anos 70.
Foram Ginóbili e Scola.
O tênis argentino hoje deixou uma pegada para as próximas gerações.
E isso não é para qualquer um, isso não ocorre qualquer dia.
Com Sebastián Fest, de Zagreb. Son un Diez, Seba, gracias totales!