Patadas y Gambetas

Da guerra à final: a incrível história do capitão argentino na Copa Davis

Tales Torraga

Chegou o grande dia, aquele que é chamado em Buenos Aires de ''Día D'' – de Davis, Del Potro e Delbonis. Croácia e Argentina começam hoje (25) a decidir a Copa Davis com a realização de dois jogos de simples.

Marin Cilic x Federico Delbonis primeiro, às 11h (de Brasília); depois, Ivo Karlovic x Juan Martín del Potro na quadra rápida montada na Arena Zagreb.

Ao redor dela estará um dos grandes – talvez o maior dos – personagens desta histórica decisão: Daniel Orsanic, de 48 anos, capitão da Argentina na Davis e filho de um refugiado croata que deixou o país depois da Segunda Guerra Mundial.

É a primeira vez que Orsanic, de sangue croata, pisa no país. E justamente para buscar a grande glória esportiva que a Argentina espera nos últimos anos.

Seu pai, Branko, deixou a Croácia em 1945: ''Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, vieram os russos e tivemos que sair porque ele nos liquidavam. Eu tinha um irmão maior que não pôde vir conosco porque não havia lugar no navio, eram duas famílias inteiras. Ele ficou na Croácia e foi morto'', contou Branko, saudável, lúcido e alegre aos 88 anos, à revista ''El Gráfico''.

''Saí da Croácia aos 16'', segue o pai de Daniel, que originalmente se chamava Orlovich, mas adotou o Orsanic como tentativa de segurança.

''Ficamos três meses em um campo de refugiados na Áustria e outros três anos na Itália, em Udine, até que recebemos um convite para vir para a Argentina. Foram 18 dias de viagem e não esqueço mais: vomitei a viagem inteira. Meu pai era diplomata na Croácia e passou a trabalhar de pedreiro na Argentina. Você precisa ter um pouco de tudo nesta vida. Em 1962, havia pouco trabalho na Argentina, o panorama era obscuro e me dediquei a ser professor de tênis. Acho que éramos só três no país'', segue Branko, ativo e extremamente respeitado no tênis argentino.

Branko e Daniel Orsanic

Batata Clerc, vice-campeão da Davis em 1981, foi um de seus alunos.

O filho Daniel, claro, um outro. O resto já é história. O hoje capitão da Davis lida com uma pressão que seus antecessores, bem mais velhos, não conseguiram suportar, e com um plus: sem uma carreira de destaque enquanto tenista.

É assim que tentará, a partir de hoje, justamente no país dos seus antepassados, um título que certamente vai adoçar a Argentina já eletrizada com esta decisão.


É com esta história que o blog abre a cobertura da grande final da Copa Davis.

De agora até o ponto decisivo, traremos o olhar argentino sobre a decisão que está mexendo com o país como poucos outros eventos são capazes de conseguir.

A terra do futebol, da carne e do vinho agora é a pátria da raquete.

Aguante Argentina!

As capas do jornais ''Olé'' e ''Clarín'' nesta sexta: