Patadas y Gambetas

Aluno na Argentina, Tite agora enfrenta escola que o inspirou

Tales Torraga

O ano era 2014. Já campeão da Libertadores e do Mundial, Tite foi estudar.

Viajou o mundo e parou na Buenos Aires que sempre o tocou. Como um aprendiz qualquer, percorreu livrarias e treinamentos em busca de novas ideias de trabalho.


Uma dessas referências foi o Mister Libertadores Carlos Bianchi, então treinador do Boca Juniors, de quem é fã declarado e com quem mantém amizade até hoje.

E até hoje, 27 meses depois, é para rir com a outra equipe que quis ver de perto: o San Lorenzo de Patón Bauza, time que então ganhava a primeira Libertadores.

Enquanto o clube erguia a Copa para a loucura da vida de 50.000 fanáticos no Nuevo Gasómetro, Tite, caderno em mão, espremido, anotava tudo o que podia.


Certamente não anotou que dali a pouco mais de dois anos enfrentaria o mesmo Bauza em um clássico Brasil x Argentina válido por los porotos.

('Pelos feijões', como os argentinos definem um jogo oficial que vale pontos).

A formação esportiva de Tite teve grande influência argentina.

Primeiro, pela proximidade geográfica e cultural do seu Rio Grande do Sul natal com o país vizinho. Segundo, pela linha do tempo. Tite foi jogador profissional de 1978 a 1989, justamente o auge do futebol argentino com os títulos das Copas do Mundo de 1978 e 1986 – e o vice sairia um ano depois, em 1990, no Mundial da Itália.

Tite foi contemporâneo e bebeu das melhores fontes de pensamento do futebol argentino, o menottismo e o bilardismo – pelas obras de César Luis Menotti, técnico da Argentina em 1978 e 1982, e Carlos Salvador Bilardo, em 1986 e 1990.

Tite x Bauza – ou melhor, Menotti x Bilardo

Revirar o arquivo de entrevistas de Tite é encontrar elogios à Argentina e a Menotti.

Em 2011, o hoje treinador do Brasil se declarou um menottista, um defensor de um futebol mais equilibrado no qual o resultado é consequência, não razão principal.

E nesta semana vai enfrentar o bilardista Bauza que faz o que for para ganhar.

(Inclusive sujar o jogo e amarrar o time na defesa e em frente ao travessão, é o que se diz em Buenos Aires com o típico e sempre muito incômodo exagero portenho.)

Vencer os vizinhos é algo corriqueiro a Tite em sua vida de treinador de clubes.

Dos três títulos sul-americanos no currículo, dois foram levantados em cima de pesadíssimos times argentinos: o Estudiantes de La Plata (Sul-Americana 2008, pelo Inter) e o Boca Juniors (Libertadores 2012, com o invicto Corinthians).

Curioso: sua relação com atletas do país não fluiu. Jamais teve empatia com Tevez, D'Alessandro ou Burrito Martínez, para ficar só em três de seus comandados.

(Teria sido Guiñazú, volante do Inter, o melhor argentino de Tite? Para mim sim.)

Por fim, a ligação de Tite com Buenos Aires é bem mais profunda que o futebol.

Católico fervoroso, ele obrigatoriamente passa pela igreja Nossa Senhora do Pilar, no bairro da Recoleta, como conta sua biografia, escrita por Camila Mattoso, aqui.


A Argentina que lhe traz paz e conhecimento será também a que vai lhe trazer talvez a maior emoção da sua vida no esporte no superclássico de quinta no Mineirão.

Admirável recorrido, o desse muchacho Tite. Uno de los nuestros. Seguro.