Ex-combatente nas Malvinas é o novo técnico do Vélez
Tales Torraga
Ameaçado de rebaixamento, o Vélez Sarsfield tem novo técnico: saiu Christian Bassedas e entrou Omar De Felippe, argentino de 54 anos e trajetória ímpar.
Tudo porque ele ainda sente na pele os gritos e os ruídos da Guerra das Malvinas na qual foi combatente. Tinha só 20. ''Estava sentado, rezando para não cair uma bomba'', relembra. ''Você vê alguém morrendo e é como se não acontecesse nada.''
Era 7 de abril de 1982. De Felippe jogava nas inferiores do Huracán quando foi chamado pelo Exército. Poucos dias depois, desembarcou em Isla Soledad e caminhou 13 quilômetros sinuosos e frios para chegar a Puerto Argentino.
Não se feriu grave nos dois meses em que lá esteve. Escapou de morrer. Seu capitão o mandou deixar posição segundos antes de uma bomba cair ali.
Mais memórias: ''Quando a guerra acabou, caminhamos uns oito quilômetros de caos. Os ingleses seguiam disparando. Houve feridos e mortos''.
''Falar das Malvinas me custou quase sete anos. Não tinha claro o que contar.''
''Devo homenagear os companheiros que voltaram e os que ficaram lá. É importante que não se esqueça. E que as novas gerações saibam.''
''Sempre digo que, além da família, o futebol me salvou a vida. A cada dia depois de voltar, era a minha motivação para seguir.''
Homem de fala marcante e valores firmes – impossível um jogador lhe passar a perna -, De Felippe ainda luta para ter espaço como treinador. Começou em 2009, e passou por Olimpo, Quilmes e Emelec-EQU (até maio, seu último clube).
No meio, o seu principal trabalho – com o Independiente de Avellaneda em 2013 e 2014 na Série B. Ascendeu e deixou o Rojo em seu lugar. Foi muito homenageado.
Há ótimas entrevistas suas nos arquivos do ''Clarín'' e do ''La Nación''.