Briga, sangue e gás pimenta: Ponzio, o coração do multicampeão River Plate
Tales Torraga
Leonardo Ponzio é pouco conhecido no Brasil. Volante do River Plate e com 34 anos, já pensa na aposentadoria. Defendeu a seleção argentina por oito jogos. Mas é em outra seleção argentina que brilha com gordíssimas gotas de suor desde 2012.
(Sim, o River se vê como uma seleção argentina, coitado de quem contestar.)
Ponzio foi o responsável por erguer a Recopa Sul-Americana do Millo nesta madrugada de loucura no Monumental de Núñez. De novo houve superlotação. Cerca de 70.000 pessoas colmaran o estádio de capacidade de 61.688 pagantes.
Teve de tudo. Fogos, papel picado e clima de show de rock.
Daqueles gigantes, padrão Soda Stereo. Bien argentino.
Por que o Brasil não consegue chegar nem perto de festas assim?
Ponzio foi eleito pela TV como melhor jogador da decisão e fez o que faz como ninguém na Argentina. Chuta e é chutado como um louco. Termina sempre (quase sempre, é verdade) em campo. Dando risada e enaltecido pelos companheiros.
Leo é o 'Rei Leão' de vermelho e branco. Ponzio corazón.
O 2×1 nesta noite foi justo. A arbitragem, sim, deu duas mãos ao River ao não marcar duas bolas na mão e dois possíveis pênaltis ao Santa Fe. A llorar, pibes.
Ponzio, seguro, bancou sozinho a marcação – bem a seu estilo, correndo os 90 minutos com a gengiva cheia de sangue para desespero dos contrários.
Perguntado depois do jogo como fazia para morder tanto e sequer levar cartão amarelo, destroçou o repórter da Fox Sports: ''Por algo sou o capitão aqui''.
Tem o estilo clássico de como deve ser o camisa 5 na Argentina. Cabelo comprido e barba, cara de mau, meio (ou muito?) amalucado, pulmão infinito, siempre al limite.
Sua ida ao pódio para erguer o troféu coroa também uma dedicação extrema ao clube. Se hoje o River elege seu suor e suas patadas como emblema ao mundo, é porque um dia, lá atrás, em 2012, contou até com um incômodo sangue seu.
Ponzio é remanescente do dramático River da Série B de quatro anos atrás. Pôs o coração na chuteira de tal forma que foi um dos erguidos pela enlouquecida torcida que até bateu na polícia federal para invadir o Monumental e comemorar aliviada.
Pouco antes, Ponzio teve um problema de hemorroidas em plena noite de sábado no Monumental. E de calção branco! Ficou até o fim. Criou problema até para a AFA, tachada de irresponsável por deixar que ele colocasse a saúde em tamanho risco.
(O River venceu então o Boca Unidos por 2×1, e boa parte da torcida, revoltada em Buenos Aires pelo drama da B Nacional, quebrou tudo o que viu pela frente.)
Vieram depois as vacas gordas, os títulos grandes e os duelos contra o Boca quando fez tudo: desde golaços até raspar os rivais a patadas em plena La Boca.
A bazuca nos pés lhe custou caro. Foi na cara de Ponzio que ardeu o pior do gás pimenta que a torcida do Boca usou para queimar o rosto dos jogadores do River no escandaloso confronto da Libertadores do ano passado na Bombonera.
No pasa nada, bostero.
O Boca hoje é uma quase inexistente sombra do River no cenário internacional.
E no River de 2016, entre mates e patadas, o abandeirado e sério candidato a uma futura estátua no clube (Matías Almeyda tem a sua) é, sim, seeee, Leonardo Ponzio.