Pouca bola e muita raça: Argentina sobrevive na base da ‘sujeira’
Tales Torraga
Estava 0x0 no intervalo e a torcida argentina em Buenos Aires – com um jogador a menos, o capitão Cuesta levara o vermelho no finalzinho do primeiro tempo – lembrou o que o técnico Vasco Olarticoechea falou antes de enfrentar a Argélia: ''Se der errado, volto para minha cidade [Saladillo] para continuar entregando torta''.
(Era esta sua função pré-olímpica. Mulher e filha cozinham. Ele pilotava o delivery.)
Aí a Argentina no segundo tempo fez o que sabe como nenhuma outra. Aquilo que o Chile adotou também com maestria na última final da Copa América para ser campeã e sobreviver ao susto da expulsão de Díaz.
Empezó a ensuciar el partido. Começou a sujar o jogo.
O Engenhão passou a ver o Campeonato Argentino.
Patadas y trabadas. Nada de espírito olímpico.
Assim, a Argentina chegou ao 1×0 com Correa logo aos 2 minutos.
Tevez com a bola na bandeirinha do escanteio no fim da Copa América 2004?
Pavón fez isso no Engenhão no começo (!) do segundo tempo. Cera é pra fracos.
A tática foi insuficiente. Levou o empate aos 19 minutos.
O jogo sujo, travado e catimbado rendeu a expulsão de um zagueiro da Argélia que chutou a cara de Pavón (adivinhe quem…) aos 22.
(Deu até para lembrar do Kaiser Passarella: ''Se o juiz deixar, o argentino reescreve as regras do futebol em pleno jogo''.)
Aí Calleri, o goleador refinado, artilheiro da Libertadores, na tônica da partida, na pura trombada, definiu o placar com o 2×1 depois de dividir com o goleiro.
A Argentina chega à última rodada desclassificada.
Precisa ganhar sí o sí. E sem seu capitão, Cuesta, zagueiro do Independiente, um dos dois únicos acima dos 23 (o outro é o goleiro Rulli).
Honduras, segunda colocada, está melhor no saldo de gols e joga pelo empate e com toda torcida a favor às 13h de quarta em Brasília.
A Argentina está em dívida com o bom futebol até aqui.
Sobreviveu a hoje. Foi uma Peste Blanca, como perfeitamente ilustraram as duas faixas penduradas pela torcida atrás da trave na qual saíram os gols.
Mas quando o assunto é 1) hombridade, 2) rebeldia frente à derrota e 3) pôr o coração e tudo o mais em campo, inclusive o que tem de ruim, é 1-2-3 no pódio.