Opinião: Bauza assume uma Argentina que tem a sua cara
Tales Torraga
Patón deu ao San Lorenzo a primeira Libertadores da história do clube. A primeira também da LDU. Sabe ganhar, é inegável. Cairá bem na Argentina aflita por vitórias – e de incríveis 25 anos sem títulos ao longo da Copa do Mundo da Rússia em 2018.
Bauza encontra desconfiança. Sua rejeição lembra o que ocorria com Carlos Salvador Bilardo em 1983. Mas Bilardo, outro defensivo de carteirinha, sabia ganhar. É idolatrado até hoje por boa parte da Argentina – os não menottistas, claro.
Favorece a Bauza também a atual defesa da Seleção – a melhor da história, só 9 gols sofridos nas últimas 19 partidas de Copa (do Mundo e América) que disputou.
Brincadeira sobre o estilo de Patón: dizem que ele é tão defensivo, mas tão defensivo, que se dá bem na Libertadores por ter 180 minutos para tentar ganhar.
(E muitas vezes ainda precisa dos pênaltis ou do critério dos gols fora de casa.)
A escolha por Bauza é mais um passo da Seleção para fora da impaciente Buenos Aires e para outras cidades como a sua Rosário. As sedes escolhidas dos jogos mais recentes das Eliminatórias mostram que este é o curso do momento.
Nem a Seleção suporta mais os portenhos – outra broma dita na própria capital.
Patón é imponente e estudioso. Sua chegada à Seleção é o fim de criancices como as de Lavezzi, que atirou água na cara de Alejandro Sabella durante jogo de Copa do Mundo – sinal claro 'aqui mandamos nós', outra forte crítica ao ciclo de Martino.
(De pensar que o absurdo casting só ocorreu porque Tata demorou a pedir demissão e a Seleção perdeu o timing para fechar com Sampaoli antes do Sevilla.)
Discreto, Bauza será útil até se fracassar. Não criaria caso ao ser dispensado.
Sua relação com Messi é grande incógnita. Lio jamais integrou equipes muito defensivas. E foi um fiasco quando a Seleção jogou assim – ante a Bósnia em 2014.
Restam dúvidas também sobre uma rivalidade de antemão. Patón é uma bandeira do Central. Como será seu encaixe com um leproso histórico como Messi, que leva o Newell's para todos os lados e, dizem, por isso alçou Martino à Seleção?
(A quem achar bizarro, convém pesquisar a insana rixa de Rosário.)
Bauza é canchero. Está no futebol a vida toda. Quando jogador, era muito elogiado pelos técnicos. Como técnico, é muito elogiado pelos seus jogadores. Não teria problemas em ser querido por Messi. Mas o craque vai precisar abrir a sua porta.
A nomeação de Patón demonstra também o cacife de Marcelo Tinelli, o ex-vice-presidente do San Lorenzo que tenta hoje comandar os rumos do futebol argentino.
O papa Francisco também foi lembrado. É fã confesso de Bauza pela Libertadores do San Lorenzo. Patón começa o trabalho da sua vida com empatia muy especial.
Por fim, a questão essencial:
E Ortigoza? Vai ser naturalizado?
(Es un chiste, chicos.)