Rivalidade Argentina x Inglaterra faz 50 anos. Os cartões no futebol também
Tales Torraga
Os cafés de Buenos Aires têm um irresistível assunto extra neste fim de semana – os exatos 50 anos do nascimento da insana rivalidade Argentina x Inglaterra no futebol.
A imprensa deu até o 'horário de nascimento': 15h35 (de Wembley, 11h35 de Buenos Aires) de 23 de julho de 1966, dia em que Inglaterra e Argentina fizeram quartas-de-final da Copa disputada – e vencida – pelos ingleses em casa.
Foi o segundo confronto seguido entre os dois países em Copas.
No Chile-1962, tranquilo 3×1 Inglaterra na primeira fase.
O que ocorreu em 1966 foi descrito pelo personagem principal Antonio Rattín em saborosa entrevista ao jornal ''La Nación''. Trechos:
O juiz alemão Rudolf Kreitlein – ''Cobrava tudo a favor da Inglaterra: escanteios, faltas, até inventava mão. Mostrei-lhe o bracelete de capitão e durante vários minutos pedi intérprete e explicações. Aos 35 minutos de jogo, me expulsou.''
A saída de campo – ''De raiva, sentei no tapete vermelho do palco da rainha. Sentei uns cinco minutos ali. Fui para o vestiário. Enquanto caminhava, me jogavam chocolate aerado, que para mim era uma novidade. Eu abria, mastigava um pouco e devolvia. Cheguei ao escanteio, peguei uma bandeirinha britânica e retorci toda com a mão e lhes disse: 'Ingleses filhos da ….'. Começaram a me jogar latas fechadas de cerveja, e saí correndo para não me acertar [eram 90.584 presentes].''
A expulsão – ''Quem organizava a Copa naqueles tempos tinha a ida à final praticamente assegurada. Era muito difícil brigar contra isso.''
(A desavença originou o uso dos cartões amarelos e vermelhos no futebol – adotados em Copas pela primeira vez no Mundial seguinte, em 1970, no México. Rattín foi expulso verbalmente: 'Off! Off', gritava e assinalava o árbitro alemão.)
Aquele duelo ficou famoso também pelos insultos do público, que chamava os argentinos de animais a cada instante. Alf Ramsey, técnico inglês, declarou o mesmo depois do jogo – quis inclusive impedir os jogadores de trocar camisas com os argentinos terminado o encontro em 1×0, gol de Hurst a 12 minutos do fim.
A Inglaterra ganhou a Copa de 1966 ajudada por um gol ilegal também de Hurst – a bola não entrou. Foi o terceiro na vitória de 4×2 contra a Alemanha na prorrogação.
O livro 'Argentina x Inglaterra, Mundiais de futebol e outras guerras', do escritor inglês David Downing, define a rivalidade como mera questão de atração.
Ingleses e argentinos se caracterizam mutuamente no futebol por doses de rebeldia e violência, e as conexões surgidas daí geraram a agressividade que atingiu o ápice no período pós-Guerra das Malvinas, nos anos 80.
Em Copas, vieram depois os jogos de 1986, 1998 e 2002 – a mão de Deus, o gol do século, o coice de Beckham em Simeone e seu gol redentor no Mundial da Ásia.
São 14 confrontos na história, com 6 vitórias inglesas, 6 empates e 2 vitórias argentinas. O último jogo foi em 2005: Inglaterra 3×2 em amistoso na Suíça.