Patadas y Gambetas

Recém-lançada, autobiografia de Cruyff questiona título da Argentina em 78
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Tales Torraga

As fartas e imbatíveis livrarias de Buenos Aires estão pintadas de laranja. O lançamento da semana é a autobiografia de Johan Cruyff, publicada na capital em alusão ao aniversário da sua morte ocorrida exatamente em março do ano passado.

Os portenhos correram para conferir o depoimento de Cruyff para saber por que ele não disputou a Copa do Mundo de 1978 jogada na Argentina. A versão deixada por Johan confirma que foi pelo sequestro que sofreu em Barcelona no ano anterior e pela resistência em deixar a família sozinha por longo período depois do trauma.

O capítulo está na íntegra aqui.

Outro trecho interessante foi o de Cruyff abrindo o coração sobre o Mundial 78:

''Perdi a oportunidade de me aposentar por cima. Quando a Holanda voltou a se classificar para a final contra os anfitriões, a BBC me pediu para ser o comentarista. Passei muito mal no estúdio da TV. A Argentina abriu o marcador no minuto 38 de uma partida com um ambiente extremamente ruim. Nos negaram um pênalti no segundo tempo, igualamos o placar muito tarde e mandamos uma bola na trave no último minuto para acabar perdendo por 3×1 só na prorrogação.''

''Vendo o jogo se desenvolvendo assim, passou pela minha cabeça que, estando ali, minha carreira talvez acabasse com o título mundial. Não me ocorria sempre, mas ali sim. Sentia que poderia conseguir, mas precisaria deixar a família para trás para alcançar. E eu não faria isso. Minhas qualidades poderiam ser uma soma à equipe. Poderia ter me unido a ela, mas decidi não fazer. Então, na BBC, me peguei pensando: como gostaria de estar em campo…Foi todo muito raro e triste''.

O livro é delicioso mesmo para quem não domina o espanhol. A versão editada pela Planeta tem 336 páginas e custa cerca de R$ 70 – bem investidos, adiantamos.


Opinião: Argentina de Bauza escancara arrogância até para marcar amistosos
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Tales Torraga

Difícil saber o que anda pior em Buenos Aires, se é o calor sufocante que está deixando a capital insoportable nesta semana ou se é a bronca portenha com Edgardo Patón Bauza e sua face recém-revelada – a de fanfarrão, de acordo com os cada vez mais ruidosos e numerosos argentos que assim avaliam o seu trabalho.

A novidade da vez é o amistoso contra a Rússia agendado para 11 de novembro para a inauguração do estádio da final da próxima Copa. A notícia desceu como uma medialuna estragada nos cafés e bares da capital, que logo lembraram aos berros que a repescagem das Eliminatórias vai ser disputada nos dias 6 e 14 do mesmo mês, e que a Argentina hoje é a quinta colocada e precisaria dessas duas partidas extras para se garantir no Mundial do ano que vem e dar adeus à generación dorada (?!) de Messi, Mascherano, Agüero, Di María e Higuaín.


A posição na tabela é sempre minimizada por Bauza, que reverteu todo o seu histórico de homem sensato em troca de um sentimentalismo barato que é tratado como mera arrogância e insegurança em qualquer divã da Villa Freud.

Se Patón ficar repetindo – até escrevendo em lousas! – que ''a Argentina com certeza vai ser campeã'' e que seu sonho é ''entregar a Copa ao Papa'', vai ser impossível reverter a fúria dessa gente com a cabeça torrada pelo calor, pela fila de 24 anos sem títulos e pelo vergonhoso momento vivido nas Eliminatórias.

A Argentina ''convencida que vai ser campeã'' – pode uma coisa mais absurda que esta para quem não ganha nada há um quarto de século? – é a quinta nas Eliminatórias e vai enfrentar três das quatro seleções que estão à frente: Uruguai, Equador e Chile. Uruguai e Equador fora de casa, e Chile no Monumental no próximo dia 23. E quem é a Argentina para sacar pecho e achar que vai ganhar fácil do Chile depois de perder e chorar nas duas últimas finais da Copa América?

Depois do Chile vem a Bolívia em La Paz, um dos piores lugares do mundo para a Argentina jogar, onde perde quase sempre. Na sequência, o Uruguai no Centenário (um dos maiores partidazos da história, seguro), Venezuela e Peru em casa, e Equador, de novo na complicada altitude, para definir a ida ao Mundial.

É para se preocupar mais e falar menos, clama a Argentina – e é mesmo o cúmulo da contradição o torcedor argentino pedir para qualquer um falar menos. Mas há um óbvio e real risco de nem sequer obter a vaga na repescagem: seja pela projeção dos jogos, seja pelo pobre futebol jogado pela seleção de Bauza até aqui.

Mas este risco, pelo visto, é coisa da cabeça de la gente que sofre com o calor e com a fila, não dos que enchem os bolsos com os amistosos, muito menos dos técnicos que um dia prometem títulos e depois dizem que é preciso mudar a cultura de um país triunfalista que flerta cada dia mais com o abominável discurso da superioridade racional argentina. Um país que, convenhamos, não seria o que é no futebol sem esta dicotomia tão pungente entre a loucura e a genialidade, entre não saber perder e viver perdendo e perdendo, chorando e não aprendendo.


Como uma granada transformou Bielsa em ‘El Loco’ há 25 anos
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Tales Torraga

Por que Bielsa é mais chamado de El Loco que pelo próprio nome (Marcelo)? O episódio que deu origem ao apelido completa 25 anos exatamente hoje (26).

Há um quarto de século, o Newell's Old Boys comandado por Bielsa estreou na Libertadores da América contra o San Lorenzo. O jogo foi em Rosário, no Coloso del Parque, e terminou com um placar impensado: derrota do Nils por 6×0.

Bielsa, então com 36 anos, foi considerado o culpado pela goleada. Cerca de 20 torcedores foram à casa do treinador em plena madrugada para protestar.

Com raiva, os torcedores começaram a chamar por Bielsa para falar, na sua cara, o que estavam sentindo. E o próprio Marcelo apareceu, com o semblante desafiador e aéreo que hoje todos nós conhecemos, com uma…

…Granada na mão.

Ameaçador, andando lentamente em direção aos torcedores, Bielsa encarou: ''Se não forem embora agora mesmo, tiro o pino e jogo em vocês''.

''A loucura brilhava em seus olhos. Ninguém conseguia olhar para Bielsa, só para a granada em suas mãos. 'Imaginamos que ele nos encarasse com uma escopeta, não com uma granada''', declarou um dos torcedores, segundo este relato.

O restante é história. Bielsa virou El Loco para sempre e sua importância para o Newell's é tamanha que hoje ele dá o nome ao estádio do clube. Aquela Lepra surpreendeu depois da desastrosa estreia e chegou até a final da Libertadores, parando só no São Paulo de Telê Santana no Morumbi – e nos pênaltis.


Riquelme abre o jogo sobre a vida pós-Boca: “Virei um velho bobo e chorão”
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Tales Torraga

Juan Román Riquelme deu uma entrevista hilária ontem (24) à FOX Sports em Buenos Aires. O maior ídolo da história do Boca está com 38 anos, mas com um comportamento, como reconhece, de ''velho bobo, ranzinza e chorão''.

(Imaginem como é difícil lidar com um ''velhinho'' portenho nessa situação…)

Ele deu sinais disso logo de cara, quando interrompeu o repórter e o corrigiu, um pouco irritado: ''Juan Román Riquelme? Me chame só de Román''.

Gambeteador em campo, Román agora sai distribuindo patadas por aí.

Sem uma bola para correr atrás já há dois anos, o grande desafio de Riquelme agora é lidar com os fãs que lhe transbordam de carinho por onde quer que vá: ''Estou mais sensível depois que parei de jogar. Fui tomar um mate com uma criança que estava na cadeira de rodas e o amigo que estava comigo começou a chorar. Nesse dia eu fiquei tão sensibilizado que nem tive condições de jantar. E hoje acontece comigo sempre, estou sempre chorando''.

''O torcedor me dá muito carinho, me deixa bem sensível. O volante do Lanús que tatuou um braço por mim…É uma loucura! Fui somente um jogador de futebol com sorte e com companheiros que facilitaram muito a minha vida.''

Riquelme foi cortante também ao falar do que espera da sua vida a partir de agora, sem saber com o que trabalhar: ''O meu trabalho hoje é o mais difícil do mundo, que é ser um bom pai''. Florencia (16), Agustín (12) e Lola (8), a prole romaniana.

Román deve ter sua partida despedida na Bombonera em dezembro – e esta vai ser, seguro, uma das maiores comoções coletivas da história recente da Argentina.


1992, aí vamos nós
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Tales Torraga

Na próxima semana vamos abrir uma série de posts especiais para reviver um grande momento da história do futebol argentino: os 25 anos do vice-campeonato do Newell's na Libertadores de 1992. Ao lado do Vélez 1994 e do River 1996, aquele enorme Nils integra a santíssima trindade do país na década de 1990.

Adiantamos: são incomparáveis as razões que fazem daquele rival do São Paulo de Telê Santana uma referência que segue dando muito o que falar no futebol mundial.

Tanto no banco, com Marcelo Bielsa, que virou El Loco justamente naquela campanha, como em campo, com Berizzo, Pocchetino e Martino, que mais tarde seriam (e são) treinadores de sucesso, aquele Nils é uma fábrica de boas histórias.

Elas vão ajudar a entender também aquela célebre decisão do Morumbi de 25 anos atrás, com depoimentos marcantes de protagonistas como o zagueiro Gamboa, parado por Zetti no pênalti decisivo, ou o excêntrico goleiro-roqueiro El Gringo Scoponi, que – ele sim! – se negou a cortar o cabelo para disputar a Copa de 1998.

No Brasil, quem revive 1992 com brilhantismo e faz o são-paulino chorar de saudades é o pessoal do Projeto Tóquio, que resgata absolutamente tudo daquela temporada. Vale la pena conferir (e aplaudir, pois está mesmo demais).

Há muito o que contar – no Morumbi ou em Rosário. Da nossa parte argenta? Rosario siempre estuvo cerca y tu vida transformó la mía, esto es verdad.


Prisão, bebida e doping de Maradona. O louco técnico que mudou Lucas Pratto
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Tales Torraga

Hoje começando a brilhar no São Paulo, Lucas Pratto bem que poderia ter sua carreira cortada com um claro A.C/D.C: Antes de Coco e Depois de Coco Basile.


Em 2013, Pratto disse à revista ''El Gráfico'' que mudou radicalmente sua forma de jogar com Coco Basile, técnico do Boca no curto período do atacante no clube.

“Conhecer o Coco fez daquele semestre um dos mais positivos da minha carreira'', afirmou Pratto, que passou pelo Boca por poucos meses em 2009. O que foi dele depois dali comprova o cartaz de Basile: Pratto evoluiu mais e mais a ponto de ser fundamental na Universidad Católica e no Vélez antes de chegar ao Brasil.

''Basile mudou minha forma de jogar. Antes eu me baseava na força, para mim a jogada precisava terminar em um cruzamento ou um passe ao companheiro quase sempre. O Coco me deu confiança  e eu comecei a me animar, a jogar mais, a procurar o jogo e buscar a finalização com mais decisão'', concluiu.

Os mais velhos ou interessados pela Argentina sabem bem quem foi Alfio Coco Basile. Ex-treinador da seleção, foi sob seu comando, aliás, que a Argentina conquistou seus últimos títulos, o bi da Copa América em 1991 e 1993.

O que poucos no Brasil sabem é que Basile foi um esforçado zagueiro, campeão da Libertadores e do Interclubes com o Racing em 1967. Esforçado e às vezes violento. Em 1971, ao ser expulso, foi preso (!) por um então decreto do general Juan Carlos Onganía, presidente da república que determinou cadeia aos jogadores que levassem cartão vermelho naqueles tempos sombrios de ditadura.

Hoje com 73 anos, Basile encarna a figura do idoso boêmio e que fala sem parar – quase um arquétipo de Buenos Aires. Em um mero passeio pela capital portenha à noite é possível ver centenas de ''Basiles'' perambulando pelos bairros.

A relação de Coco com a noite e com a bebida é tão intensa que ele sempre está na TV com algum tema relacionado ao assunto. Na semana passada, por exemplo, ele apareceu cantando e fazendo as vezes de degustador de whisky.


O jeito fanfarrão que hoje faz a Argentina rir lhe custou o cargo de técnico da seleção. Em 1994, o país todo considerou que o comportamento ''boleiro'' demais de Basile foi responsável pela desorganização que culminou com o doping de Maradona naquela Copa e a eliminação para a Romênia ainda nas oitavas.

No lugar de Basile entrou o seu contrário, o linha-dura Daniel Passarella, que durou até 1998. El Kaiser caiu junto com a até hoje muito sofrida derrota para a Holanda no último minuto das quartas-de-final do Mundial da França.


Magoada com Tevez, maioria da torcida do Boca não o quer de volta da China
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Tales Torraga

Carlitos Tevez mal foi e já pode voltar da China, cravou ontem (21) o diário ''Olé''. E se a intenção do Apache é retornar ao Boca, ele que prepare o ouvido.

A maior parte da torcida do Boca ficou extremamente ofendida com a maneira escolhida por Tevez para deixar a Argentina. Sem uma despedida e sem uma declaração de carinho, ele praticamente fugiu do país antes de fazer um frio anúncio nas redes sociais dizendo que estava acertado com o Shanghai Shenhua.

O pior de tudo foi constatar que sua foto com a camisa do novo clube – forte sinal de negócio fechado – havia sido tirada enquanto ele ainda falava e alimentava a ilusão da torcida de que seguiria no bairro de La Boca.

Prova do desgaste que espera Tevez em Buenos Aires foi dado ontem nas TVs que percorreram as ruas para saber se os torcedores o queriam, e a resposta foi um sonoro ''não'' – em torno de seis ou sete negativas a cada dez consultas.

Impactado com isso, o ''Olé''  hoje colocou em seu site uma enquete para avaliar a temperatura da relação de Tevez com a torcida, e a parcial da pesquisa comprova o que se ouve na capital argentina – la gente anda re caliente con Carlitos.

O tamanho exato da bronca xeneize com o ídolo ainda está por ser descoberto – e as broncas argentinas são como câimbras; elas chegam, te arrebentam e muitas vezes passam sem grandes vestígios, mas não convém brincar com ninguém por esses lados, muito menos com uma casta irascível como a torcida do Boca.

Atualizada 9h09 de quinta (23): A enquete do ''Olé'' terminou com a rejeição a Tevez apontando 53%, o que gerou uma nota no site do diário, esta aqui.


Opinião: Voltou Bielsa. Voltou a loucura
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Tales Torraga

Marcelo Bielsa finalmente voltou. Depois de 18 meses sem trabalhar, vai dirigir de novo na França, mas o Lille – e não o Olympique de Marselha que revolucionou e sugou até a última gota antes de brigar com os dirigentes e sair em agosto de 2015.


A notícia estourou num domingo de calor sufocante em Buenos Aires, termômetro perfeito para a turbulenta relação da capital argentina com o Loco treinador.

Muitos simpatizantes agregaram seu selo pessoal à novidade e até colocaram a famosa geladeirinha de sua fase Olympique como fotos de rede social. Muitos – a maioria, na verdade – criticaram sem parar: O que ele ganhou? Que revolução ele fez? Quanto dinheiro levo se apostar que ele abandona antes da décima rodada?

Bielsa? O louco que tirou a Argentina da Copa de 2002 na primeira fase e não convocou Román Riquelme no auge?

Não, Marcelo não é profeta em sua terra, apenas na Europa, onde é o mentor de Pep Guardiola e de tantos outros discípulos bielsistas como Diego Simeone, Jorge Sampaoli, Mauricio Pocchetino e longa lista a seguir.

O próximo desafio do Loco é, de acordo com os críticos, a prova final de que ele virou a versão europeia de Caruso Lombardi, o famoso treinador argentino salva descenso mais conhecido pelas bizarrices que pelas proezas em campo.

Bielsa vai assumir o Lille em 1° de julho, mas suas ideias vão ser vistas desde agora. Ele já está praticamente acampado nas instalações do clube que ocupa o 14° lugar e luta para não cair no Francês. Seu assistente dos tempos de Marselha, Frank Passi, já é o treinador – uma óbvia e mera interface do Loco.

Gérard López, presidente do clube, deixou claro que foi Bielsa quem escolheu o Lille – ''pois tem capacidade de escolher qualquer equipe do mundo'' – e que o projeto apresentado o interessou a ponto de voltar a trabalhar depois de tanto.

O que seduziu Bielsa, só ele vai poder dizer naquelas intermináveis coletivas de imprensa. Mas se sabe de longe que sua motivação é formar jovens jogadores (e futuros treinadores), não assumir gigantes como o Barça, o Real ou o Bayern.

Muito longe de ser coincidência, o Lille acaba de contratar seis atletas de 23 anos ou menos, incluindo o badalado atacante holandês El Ghazi, de 21, ex-Ajax.

Bielsa é famoso por aperfeiçoar e inspirar o seu entorno. Desde os jovens aos astros da seleção argentina, há unanimidade em reconhecer no Loco um nível intelectual muitíssimo acima da média, mas sua personalidade impositiva e exigente é uma bomba-relógio sempre na contagem regressiva e no peito dos seus patrões.

Genialidade + desavenças/peleas + times que jogam de maneira espetacular e que sem alertas viram o fio e deixam de ser o que eram. Este é o Bielsa que o mundo conhece. Resta saber se agora, aos 61 anos, ele vai apresentar algo novo, não ceder ao personagem e trabalhar no altíssimo nível pelo qual é reverenciado.

Foi assim no Newell's, no Vélez, no México, na Espanha, na seleção argentina, na seleção chilena, no Athletic Bilbao e no Olympique de Marselha.

Foi assim até a corda estourar. Bielsa é tão complexo, amado e detonado na mesma medida que os bielsistas portenhos têm até um hino, este aqui, do La Pelotas, ''personalmente creo que todo esto es una locura'', uma música das mais lindas do rock argentino, e só ela já é suficiente para desejar ótima sorte ao Loco. ''A única loucura de Bielsa é o excesso de virtudes'', repete Jorge Valdano, e quem somos nós para discordar do maior filósofo do futebol argentino e mundial?


Técnico argentino invade campo e acerta patada em rival em pleno clássico
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Tales Torraga

Das personalidades mais explosivas da Argentina, onde sobram fios desencapados, o técnico Ricardo La Volpe teve, nesta madrugada, mais uma atitude reprovável.

A 15 minutos do fim do clássico mexicano entre Chivas e América, La Volpe entrou em campo com o jogo paralisado e deu uma sorrateira patadita no lateral adversário Jesús Sánchez, que conduzia a bola. O seu América perdia (e perdeu) por 1×0.

La Volpe foi logo expulso, e sua equipe não encontrou forças para superar o Chivas comandado por outro argentino e outro calentón que parece ter encontrado a paz – estamos falando de Matías Jesús El Pelado Almeyda, bandeira viva do River Plate.

El Bigotón Ricardo La Volpe era o goleiro reserva de Fillol no Mundial 1978, e o ''Futebol Portenho'' recentemente subiu um excelente perfil sobre ele. Está aqui.

Ex-treinador de Boca, Vélez e seleção do México, La Volpe, 65, coleciona confusões. A mais grave, quando saiu do Chiapas, clube da cidade de Tuxtla Gutiérrez, acusado de assédio sexual – foi declarado inocente mais tarde.


Quando Buenos Aires torceu por Guga contra os argentinos
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Tales Torraga

O Aberto de Buenos Aires termina neste domingo no Buenos Aires Lawn Tennis Club, o ''Roland Garros portenho'', como o histórico clube gosta de ser chamado.

E uma dessas histórias é também uma das mais bonitas do esporte brasileiro na Argentina, quando Gustavo Kuerten conseguiu a proeza de contar com o apoio da torcida mesmo jogando contra tenistas da casa.

A façanha ocorreu em 2001, ano em que Guga retomou o posto de número um do mundo justamente na frente dos portenhos – que, sem exagero nenhum, enlouqueceram com seu título em cima de José Acasuso, tenista de Misiones, única província argentina a fazer fronteira com a Santa Catarina natal de Kuerten.

GUGA BEIJA TAÇA DO ATP DE BUENOS AIRES EM 2001 – ENRIQUE MARCARIAN /REUTERS

A decisão entre Guga e Acasuso foi um passeio em favor do ''surfista do saibro'': 6/1 e 6/3, em meros 57 minutos. Sem uma partida de equilíbrio, restou aos portenhos degustar a arte de Kuerten em seu auge. Meses depois, ele ganharia Roland Garros pela terceira vez.

''Os argentinos estavam loucos para torcer contra mim. Não poderia fazer movimento exaltado para permitir isso'', comentou Guga à época. ''Tentei também não cometer erros para que Acasuso não crescesse na partida.''

Seu carisma foi especialmente sentido na semana em que venceu também outro argentino – o portenho (!) Guillermo Canãs, nas quartas, por 2 sets a 1.

Como um Vinicius de Moraes de seus tempos, Guga caprichou na arte de conquistar os corações argentinos. Enfatizou a paixão que tanto caracteriza Buenos Aires, dançou até tango, falou sempre um espanhol muy correcto e vibrou:

''Aqui eu ganhei meus primeiros pontos (quando participava de eventos menores) e aqui voltei a ser o número um do mundo. Espero defender meu título''.

Acabou mais aplaudido pelas 5.500 pessoas que lotaram as instalações da calle Olleros que o próprio argentino Acasuso, como destacou a ''Folha de S.Paulo''.

O ''La Nación'' claro, foi mais romântico: ''Buenos Aires curtiu Gustavo Kuerten, que passou a ser o brasileiro mais amado da Argentina. Uma presença cativante, que cumpriu o seu papel: era o favorito e, como tal, levou o troféu a Florianópolis. Um número um diferenciado, amável e simpático, daqueles que servem para seguir acreditando que ainda há superprofissionais que creem no lado puro do esporte''.

Uau.

Ou como dizem os portenhos: guau.

Atualizado 13h13: Uma música que tão bem descreve o triângulo amoroso Guga-Argentina-tênis é esta aqui, hitazo rock-pop de agora dos Caligaris.

Y hoy me voy aunque no quiero
Y que pase lo que tenga que pasar
Y que el tiempo cicatrice las heridas
Que acomode todo en su lugar

Y hoy me voy aunque no quiero
Y aunque duela no lloremos que hace mal
Si vivimos esperando la caída
Ya no podremos volar

¡Te queremos hasta el fin de nuestros dias, Catarina!