Tevez ou Ponzio? Quem será o ‘novo’ Capitão América?
Tales Torraga
Chegou o grande dia, aquele que vai marcar um antes e depois na história do futebol da Argentina. A épica decisão da Libertadores da América entre River Plate e Boca Juniors, a partir das 18h (de Brasília), no Monumental de Núñez, será também a última batalha entre dois grandes, enormes ídolos de River e Boca. Do lado vermelho e branco do campo estará o raçudo volante Leonardo Ponzio, enquanto o pícaro Carlitos Tevez, velho conhecido dos brasileiros, tentará a façanha de se despedir do clube dos seus amores com esta inesquecível conquista.
Embora rivais, ambos entram nesta decisão com muitos pontos em comum. O primeiro deles é a popularidade parecida perante os seus súditos. Número dois: a longa carreira. Ponzio, de 36 anos, é profissional desde 1999, enquanto Carlitos, de 34, corre atrás da bola desde 2001. São veteranos, de outros tempos e de outras culturas, bem mais aguerridas, o que obviamente se contrapõe aos milhões desembolsados na construção dos elencos com atletas jovens e de futuro europeu.
Os técnicos Marcelo Gallardo e Guillermo Barros Schelotto despistam, mas tanto Ponzio, o ''Rey León'', pela sua juba e pela sua entrega em campo, quanto Tevez, o ''Apache'', pelas suas origens humildes, devem ser titulares. Ponzio se recuperou de uma lesão e volta a campo depois de três semanas – sua última atuação foi contra o Grêmio, em Porto Alegre.
Reserva discreto do Boca durante toda a temporada, Tevez demonstrava, até a chegada das semifinais, que teria um fim de carreira melancólico – mas cruzar com o River em uma decisão o colocou em uma outra voltagem. Jogou bem nos 20 minutos em que esteve na Bombonera na primeira final e até armou um churrasco em sua casa com todos os companheiros nesta semana. Sua presença como titular é pedida a los gritos por toda a torcida.
Ponzio, não custa lembrar, é o capitão formal do River já há quase três anos. No Boca, quem carrega a tarja é o desajeitado volante Pablo Pérez; mas o comandante em campo, não resta dúvida, é realmente Tevez. E obviamente não se descarta que Carlitos, neste duelo tão importante, leve também a cinta de capitão, tamanha a sua representatividade para os colegas e para a decisão em si.
Por fin: o duelo entre os caciques é ainda mais saboroso pelo fato de nenhum dos dois seguir jogando em 2019. Tevez, desde o começo do ano, disse que se aposentaria caso conquistasse a Libertadores. Embora não tenha prometido nada a respeito, Ponzio sabe que não haveria oportunidade melhor para se despedir dos gramados do que com tamanho título sobre o rival de toda a vida. Ainda mais com a chance – para ambos – de jogar a final do Mundial de Clubes contra o Real Madrid no mês que vem.
Em caso de título, seria realmente para abandonar a carreira no ponto mais alto possível; em caso de derrota, seria para constatar que a idade elevada impede começar tudo de novo – e de novo… – em mais uma temporada.
Mais do que determinar o encerramento de um jogo, o apito final neste sábado no Monumental vai marcar o fim de uma carreira e cravar o início de uma lenda. Resta saber qual: se o ousado Tevez ou o discreto e disciplinado Ponzio. O principal troféu das Américas estará em boas mãos. O perdedor não deve arranhar a sua imagem de grande ídolo do clube, mas o ganhador será facilmente alçado à condição de deus (vide Maradona…) que muitos argentinos amam apregoar.