Final Boca x River vira tema de saúde pública na Argentina
Tales Torraga
A decisão da atual Libertadores da América é o jogo mais desejado e mais temido da história do futebol na Argentina. Muitos torcedores de ambas as equipes seguem anestesiados e, por pura tensão, evitam consumir o noticiário para esta final que se encaminha para deixar o país em uma convulsão sem precedentes. As TVs e rádios de Buenos Aires tratam a partida como ''o acontecimento social mais importante da história recente da Argentina''.
Na esteira desta apreensão, os órgãos de saúde e os jornais sempre devorados pelos portenhos estão insistindo nos cuidados aos riscos físicos que a partida traz para nada menos que 70% da população argentina, que hoje é de 44 milhões de habitantes. É esta a soma equivalente às torcidas de Boca e River.
A Fundação Cardiológica da Argentina, a FCA, vem fazendo seguidos alertas nas redes sociais e na mídia convencional. ''Boca-River: final de Libertadores. O risco de infarto se triplica. Aproveite, não sofra, e se você teve um problema cardíaco e não se sente bem quando acompanha o futebol, não deixe a medicação. Consulte o seu médico'', informava uma postagem do órgão nas redes sociais, neste final de semana.
''O estresse emocional não depende da vitória ou da derrota, e sim da tensão própria de se acompanhar um jogo de características tão dramáticas'', afirmou o cardiologista Jorge Tartaglione ao portal argentino ''Infobae''. ''A relação entre as emoções e o coração já está altamente documentada''.
Tartaglione cita, por exemplo, um estudo médico inglês de 1998 demonstrando que as internações por infarto no Reino Unido aumentaram em 25% nos três dias seguintes ao histórico Inglaterra x Argentina que terminou com classificação azul e branca na cobrança por pênaltis. Eram as oitavas de final do Mundial da França. ''É capaz que a quantidade beire os 30% com este Boca x River.''
''Mesmo sendo apenas um esporte, as pessoas o assimilam com um estresse agudo semelhante a terremotos e bombardeios'', seguiu o cardiologista, defendendo que as pessoas com antecedentes de problemas de saúde não deveriam ver esta decisão. Ele defende, também, que as definições por pênaltis deveriam ser abolidas ''para proteger a saúde cardiovascular das pessoas''.
A situação tanto é alarmante que o jornal ''Clarín'', o mais lido da Argentina, trouxe neste domingo uma completa lista com ''conselhos para corações delicados'' e as ações que evitariam um infarto decorrente da decisão.
O blog apurou também que o efetivo de cardiologistas que vai trabalhar em muitos hospitais públicos de Buenos Aires será reforçado nos plantões dos finais de semana em que forem disputadas as partidas.
As decisões devem ser realizadas em dois domingos, 11 e 25, a pedido das equipes, que pretendem assim respeitar o sábado de descanso dos judeus, que mantêm uma grande quantidade de sócios nos dois clubes.