Cruzeiro enfrenta o melhor Boca de todos os tempos
Tales Torraga
Buenos Aires está em uma semana de clima divino para aquele que olha mais para o céu maravilhoso da capital argentina e menos para o verdadeiro caos que ronda o clube mais popular do país. O Boca Juniors nesta quarta (19) recebe o Cruzeiro às 21h45 (de Brasília) em uma Bombonera infernal e lotada – de gente e de pressão sobre uma equipe que conquistou quatro Libertadores em oito possíveis na década passada e que desde 2007 não a ganha mais.
Esta fila de 11 anos é um verdadeiro pesadelo para os xeneizes, que perderam espaço internacional para o River Plate e resolveram se reforçar com tudo e un poco más. Na pausa para a Copa do Mundo, por exemplo, chegaram ao clube o atacante Zárate, o meia colombiano Villa, o central Izquierdoz, o goleiro Andrada e o lateral uruguaio Olaza.
Não é mero ufanismo azul y oro: este Boca é uma verdadeira seleção, chamada de ''Dream Team'', ''Galácticos'' e muito mais por toda a Argentina. Cruzar com um xeneize no país por esses dias é escutar aquilo que vem servindo de tema para os intermináveis debates nas rádios: este é o melhor Boca da história, ao menos em termos de elenco. De fato, o clube tem peças suficientes para montar dois times e meio de jogadores de elite para enfrentar qualquer equipe – incluindo as brasileiras.
Essa fartura que coloca o atual Boca acima do equipazo de Riquelme, Palermo e Carlos Bianchi, porém, se encaixa no velho dito ''tudo o que é em excesso faz mal''. Há uma verdadeira obsessão em torno da Libertadores e em torno das cifras despejadas em busca dela. Só neste último mercado de passes foram US$ 20 milhões em contratações – se somarmos as últimas três (2015, 2016 e 2018) Libertadores, todas sob o comando do mesmo presidente, Daniel El Tano Angelici, tal cifra decola para os US$ 65 milhões despejados em 38 reforços.
Em campo, pasó de todo.
Exemplo 1: trocaram de goleiro quatro vezes (Orión, Sara, Rossi e agora chegou Andrada). 2: formaram cinco duplas de zaga (Tobio, Cata Díaz, Torsiglieri, Insaurralde, Goltz e Magallán são alguns que jogaram). 3: A camisa 10 vagou entre Lodeiro, Tevez, Centurión e Cardona, que ainda não terminou de convencer.
O Boca que derrapa fora da Argentina fincou com força a sua bandeira no território local. Ganhou três Campeonatos Argentinos desde 2015 e comemorou outro ''tricampeonato'', seu terceiro balanço consecutivo de superávit.
A pressão está toda sobre o técnico Guillermo Barros Schelotto, no cargo desde março de 2016. Os bons jogadores brotam mesmo por todos os lados: Pavón, Barrios, Magallán, Nández e Benedetto têm futuro europeu e devem ser os próximos a fazer as malas – vão render, juntos, mais de 50 milhões de euros. A economia argentina voltou a viver um caos total. O dólar hoje vale 40 pesos, e tal cotação significa que o grupo vai ser desmanchado já nos próximos meses.
Mais um motivo de pressão para este Boca? O clube ter seis Libertadores conquistadas e estar a apenas uma de igualar o recorde de sete, hoje com o Independiente.
É bem provável que o Boca suba as arcaicas escadas em direção ao gramado da Bombonera nesta quarta com o seguinte 11 inicial: o goleiro será o recém-chegado Andrada, ex-Lanús; Jara, Izquierdoz, Magallán e Olaza formam uma linha de defensores totalmente nova e desentrosada. O meio-campo conta com Barrios, Nández e Pablo Pérez como volantes (trio de muita patada e questionável chegada) e Zárate abastecendo os dois atacantes, o ótimo Pavón e o oportunista Benedetto, enfim recuperado da lesão no joelho que o tirou de campo por dez meses.
Tevez é reserva, e está sereno/positivo como poucas vezes se viu. Outras boas opções de mudança vindas do banco são o zagueiro Goltz, os laterais Buffarini e Mas, o volante Gago e os meio-campistas Cardona, Villa e Almendra.
O Boca tem time, camisa, torcida, estádio, dinheiro e enorme influência nos bastidores. Só não tem nenhuma paz. Por isso, quase foi eliminado na primeira fase. Por isso, uma previsão bem sensata é uma repetição da campanha de 2016, chegando até a semifinal e não passando disso.
Schelotto está em xeque. E não demonstra recursos que possam transferir otimismo aos xeneizes mais sensatos, que duvidam demais da sua capacidade de conduzir o elenco e administrar as pressões das partidas mais importantes.