Disputado há exatos 40 anos, Brasil x Argentina de 78 tem polêmica até hoje
Tales Torraga
Foi também em uma noite de 18 de junho, mas de 1978, que Brasil e Argentina fizeram aquele que talvez seja o duelo mais tenso da história do confronto em Copas. No nefasto Mundial dos militares de quatro décadas atrás, o 0 a 0 teimou em persistir em Rosário na partida que gera polêmica nos dois países até hoje.
Foi, afinal, uma ''batalha'', como se repete no Brasil desde então?
Ou acabou sendo uma partida ''normal'', como relembram os argentinos?
Dedicado às histórias da seleção argentina nos Mundiais, o livro ''Copa Loca'', lançado no Brasil há duas semanas, descreveu da seguinte forma o ambiente e os movimentos daquela partida que paralisou os países vizinhos diante da TV. Confira:
O cruzamento das chaves determinou que Argentina, Brasil, Polônia e Peru decidiriam um lugar na finalíssima, com óbvio favoritismo para os arquirrivais sul-americanos. Ambos começaram bem: o Brasil fez 3 a 0 no Peru e a Argentina bateu a Polônia por 2 a 0, partida em que a estrela de Mario Kempes começou a brilhar no Mundial (os dois gols foram dele). A segunda rodada da fase semifinal colocou Argentina e Brasil frente a frente no gramado do Gigante de Arroyito, em partida que ficaria conhecida como o inevitável apelido de “Batalha de Rosário”.
Disputado na gelada noite de 18 de junho de 1978, o clássico foi, de fato, um festival de patadas – ainda que alguns de seus personagens se recordem do duelo como um típico Argentina x Brasil, e nada muito além disso. “Um jogo desses sempre vai ser pegado”, diz Pato Fillol. “A partida foi muito dura, mas não aconteceu nada de anormal ou chocante.”
Do outro extremo do campo, Leão viu mais ou menos a mesma coisa: “Um jogo duro entre dois grandes rivais, mas não uma batalha”, resume o arqueiro do Brasil. “Comparado ao que se já se viu em outras partidas, aquilo foi um Shangri-La.”
Só tipos com muchos huevos como Fillol e Leão seriam capazes de minimizar a rispidez das divididas daquele embate. A escalação do volante Chicão pelo técnico Cláudio Coutinho costuma ser citada como um sinal mais do que evidente do que se esperava no clássico. Um dos jogadores mais duros e temidos de uma década marcada por um futebol muito mais bruto que o atual, o bigodudo do São Paulo era capaz de colocar até o capeta para correr.
O xerife de Piracicaba grudou em Kempes e anulou o artilheiro da Copa. Outro duelo particular foi travado por Luque e Oscar. O argentino desferiu uma cotovelada no zagueiro brasileiro quando a partida mal havia começado. Oscar retribuiu na mesma moeda e avisou: “Se der mais uma, te quebro”.
Com exceção do variado cardápio de pancadas, o jogo pouco ofereceu à torcida que lotou o estádio do Rosario Central. Roberto Dinamite teve uma chance de ouro para marcar, mas parou em Fillol; Ortiz também desperdiçou bela oportunidade para os argentinos, e foi só. 0 a 0.
O empate sem gols deixava os rivais empatados na tabela e adiava a definição da vaga na final para a rodada derradeira daquela fase. O Brasil, ainda invicto, pegaria a Polônia em Mendoza, enquanto a Argentina permaneceria em Rosário para encarar o Peru. E o general Videla não se limitaria a torcer da tribuna…