Tranquilo, Palmeiras. Este Boca anda bem ‘meia-boca’
Tales Torraga
Quando todos imaginavam que este Boca Juniors seria o grande time da Argentina neste 2018, eis que estamos aqui falando do ''Boca meia-boca'' que o país não cansa de criticar mediante a falta de resultados e, o que é pior para um argentino, a falta de brio em jogos importantes como este Palmeiras x Boca das 21h45.
A liderança do Campeonato Argentino merece uma observação mais profunda. O Boca é o ponteiro tranquilo, com sete pontos de vantagem para o segundo (o nanico Godoy Cruz) a quatro partidas do fim. Mas não há quem assista a este campeonato em Buenos Aires que não se refira a este Argentino como um torneio ''medio pelo'', gíria para definir o que é de baixa qualidade.
Outros vão além: como este Campeonato Argentino hoje é oficialmente chamado de Superliga (mamita querida…), há quem diga em alto e bom som em plena rádio que esta é a ''Superligarcha'' – ''garcha'' é uma palavra bem chula para o ato sexual.
Deixando a gritaria de lado, chama sim a atenção que o Boca perca no sábado (2 a 1, com os reservas, para o Defensa y Justicia, em plena Bombonera) e nenhum concorrente direto que venha atrás tenha capacidade de ganhar e colocar pressão na equipe. O Talleres perdeu, o San Lorenzo também. Assim fica bem mais fácil.
Sobre o time, vamos repassar o que se fala em Buenos Aires sobre cada um.
O goleiro é o fraco Rossi – e o Boca publicamente já corre atrás de um nome de mais peso para ser titular e fazer o que o monstro Franco Armani faz no River. O sonho xeneize é Marchesín, do América do México, reserva da seleção argentina.
Os laterais são Jara, pela direita, e Fabra, pela esquerda.
Jara joga mais contido, e Fabra é mais solto para apoiar pela esquerda. Ambos foram dois dos mais criticados depois da derrota do Boca para o River na decisão da Supercopa Argentina há um mês – 2 a 0 no ''superclássico do século''. Não por falhas individuais, e sim pela mescla de soberba e medo com o qual jogaram esta decisão que deveria ter perna firme, e não a cara de coitados que demonstraram.
A zaga é formada por Goltz e Magallán. Goltz é o ''xerife'' do técnico Guillermo Barros Schelotto desde o Lanús. Típico zagueiro argentino: quando passa a bola, o adversário não. Já Magallán entra no Allianz Parque sob grande pressão. Falhou feio na saída de bola e determinou a derrota do Boca para o DyJ na Bombonera.
Para ter ideia do estado de ânimo que ronda hoje este elenco, o locutor de rádio Daniel Mollo, famoso em Buenos Aires por narrar os jogos do Boca, berrou raivosamente que Magallán havia feito uma ''cagada maior que a da Sol Pérez''.
Sol Pérez é a ''chica del clima'' da previsão do tempo da TV TyC Sports.
É chulo, óbvio. E se não é chulo, é violento. O Boca chega a este jogo também em clima de ameaça – se estivesse tão bem, não receberia os seus terríveis barra bravas para uma conversinha em particular depois de perder a final para o River.
(Terceiro mata-mata perdido para o River! E seguido! Sul-Americana, Libertadores e Supercopa. Terrible! Se o Palmeiras está bravo por perder o Paulista para o Corinthians, multiplique-se por três – ou melhor, por uns cinco ou seis – e se chega ao grau da tremenda irritação dos xeneizes em Buenos Aires.)
No Allianz Parque, o meio do Boca terá Pablo Pérez, Barrios e Reynoso.
Pablo Pérez, não há comentarista argentino que pense diferente, está muy mal del bocho. Complicado da cabeça. Fez o gol da dramática vitória sobre o Talleres, que praticamente definiu o Argentino, e em vez de comemorar saiu xingando palavrões para a torcida. Wilmar Barrios é excelente jogador – mas inconstante demais. Bebelo Reynoso é o toque de qualidade. Tem só 22 anos e é o típico baixinho (1,72) da picardia argentina pura. Chegou ao Boca há pouco. Precisa de rodagem.
O ataque conta com Pavón, Ábila e Cardona.
Pavón é o melhor jogador deste Boca. O ''novo Caniggia'', como dizem em Buenos Aires, por sua velocidade. Tem só 22 anos e deve ser o único convocado do clube para defender a seleção de Sampaoli na Copa do Mundo.
Ábila é um centroavante oportunista, mas que anda devendo no Boca. Já Cardona, o ''Crackdona'', comparado a Riquelme em seu começo no clube, hoje é mais criticado pelo sobrepeso – sete quilos, segundo a Rádio La Red.
O técnico Guillermo Barros Schelotto tampouco anda bem. É chamado abertamente de ''aprendiz de técnico'' nas rádios e tem seu trabalho detonado por ídolos do Boca que foram inclusive seus companheiros de time.
(O futebol é o segundo esporte na Argentina. O primeiro é a crítica.)
Tevez ainda se recupera do seu ''ano vegetativo'' da China. Enquanto isso, a AFA se recupera deste deslize absurdo aqui.
Esta foi uma imagem postada nas redes – e depois tirada do ar – da reunião da AFA com a Conmebol na última segunda (9) em Buenos Aires. Chiqui Tapia, o presidente da AFA, e os demais brindaram com….taças do Boca!
Se precisar explicar: Tapia é torcedor assumido do Boca. E presidente da AFA.