Patadas y Gambetas

Obsessão? Brasil já virou as costas e deixou de disputar a Libertadores

Tales Torraga

Inflada e com a pompa de ser uma ''obsessão'' para os clubes grandes do Brasil, a Libertadores arranca sua fase de grupos nesta semana com Grêmio, Palmeiras, Vasco, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Santos como representantes do país.

Quem tem menos de 30 anos talvez custe a acreditar, mas houve um tempo em que o Brasil simplesmente virava as costas para a Libertadores e se recusava a disputá-la, como ocorreu nas edições de 1966, 1969 e 1970.

O Divino Ademir e o Verdugo Pedro Rocha, craques do tempo em que o Brasil sorria e não se estressava com a Libertadores – Foto: Portal Terceiro Tempo/Que Fim Levou?

A primeira ausência, em 1966, foi causada pela discordância dos dirigentes brasileiros com o regulamento, que naquele ano começou a prever a participação não só dos campeões de cada país, mas também do vice de cada nação.

(Quem viveu esta fase deve mesmo custar a aceitar o formato atual…)

O segundo ano em que o Brasil não quis saber da Libertadores foi 1969. Além das barganhas políticas de sempre, a alegação mais forte da época era a impossibilidade de designar seus representantes, pois a Taça Brasil do ano anterior – 1968 – foi caótica e durou simplesmente 14 meses.

Uma das alternativas colocadas em prática foi chamar Santos e Internacional, campeão e vice da Taça Roberto Gomes Pedrosa daquele 1968 – mas ambos abriram mão das vagas.

O terceiro e último ano em que o Brasil ignorou a Libertadores foi 1970. A CBD, que então comandava o futebol nacional, discordou do calendário da competição, alegando que ele atrapalharia a preparação para a Copa do Mundo que seria realizada no México. A Libertadores de 1970 foi de fevereiro a maio. A estreia do Brasil no Mundial contra a Tchecoslováquia ocorreu em 3 de junho.

Outra razão alegada pela CBD era a violência excessiva do torneio – mais uma maneira de justificar a prioridade pela seleção e pela integridade física dos seus jogadores, que naqueles tempos atuavam todos no futebol local.

Além das datas e da violência, as outras três justificativas que faziam parte do discurso anti-Libertadores dos dirigentes brasileiros eram: 1) As arbitragens tendenciosas; 2) A complicada logística para viagens; 3) O baixo retorno financeiro.

Era por isso, por exemplo, que o Santos de Pelé preferia fazer excursões e encher os bolsos pela Europa em vez de bancar as pancadas de jogadores e torcedores argentinos e uruguaios.

O Santos seria o representante brasileiro nas Libertadores de 1966 e 1969 – e encampou as ausências do país em ambas. Em 1967, fez mais: vice da Taça Brasil de 1966, simplesmente ignorou a Libertadores, deixando o Cruzeiro como único clube do país.

As Libertadores sem brasileiros foram conquistadas por Peñarol (1966) e Estudiantes (1969 e 1970).

Hoje, a distância da Argentina para o Brasil em número de títulos é de seis conquistas – 24 a 18. O Uruguai fecha o pódio, com oito troféus.