Como Centurión virou a ‘arma secreta’ da Argentina para a Copa
Tales Torraga
A quinta-feira (1º) será agitada no Racing, time de Ricardo Centurión e Lautaro Martínez, dois nomes seguidos bem de perto por Jorge Sampaoli, técnico da seleção argentina. Sampaoli é esperado no clube para conversar com ambos – ontem (31), fez o mesmo com os atletas observados no vizinho Independiente.
Centurión voltou ao Racing há duas semanas. Está se readaptando ao futebol argentino depois da sua frustrante expulsão do Boca e da sua passagem de só cinco jogos e nenhum gol pelo Genoa, da Itália. Mas gente próxima a Sampaoli revela que o técnico tem o encrenqueiro jogador de 25 anos na mais alta consideração para fazer parte até mesmo da convocação para a Copa do Mundo.
Sampaoli afirma que gostaria de ver Centurión ao lado de Messi, mas de uma maneira diferente da qual todo mundo imagina: Centurión seria o garçom; Messi, o finalizador, como foi no jogo que selou a ida argentina ao Mundial com os seus três gols no 3 a 1 sobre o Equador em Quito.
Jorge analisa também que Centurión tem qualidades raras no futebol mundial: a habilidade para conduzir a bola, furar as linhas defensivas e a coragem de bancar as patadas e as provocações que Centurión diz abertamente gostar.
Como dizem os argentinos, ele é um ''atorrante'', o que em português, em seu caso, seria uma mescla de irresponsabilidade, inconsequência e falta de vergonha. É esta inconsequência argentina que Sampaoli, um próprio fruto deste estilo, quer levar para o Mundial. O treinador repete a todo momento que sonha com sua seleção jogando como o Independiente na final da Sul-Americana – com atletas de bagagem escassa, que seja, mas que não tremeram as pernas um segundo sequer na missão de calar o Maracanã mais infernal dos últimos tempos.
(O discurso de Sampaoli é encarado também como uma farpa indireta a Icardi, Dybala e Benedetto, mas mas vamos ficar só em Centurión.)
A única barreira que o ex-são-paulino vai precisar superar é a sua conduta. Sampaoli faz questão de afirmar sempre que quer atletas locos e quilomberos em campo, mas jamais fora. É por isso que a presença de Tevez na lista para ir à Rússia não é considerada pelos colaboradores do treinador. Já Centurión não se faz de rogado. Ao ser perguntado nesta terça (30) pelo jornal ''Olé'', falou em voz alta que se vê na Copa, que é ''mera questão de retomar o nível que sabe que tem''.
Que ninguém espere de Sampaoli um arroubo parecido. Ele avalia que Centurión pode sim oferecer um ganho importante – mas que a inconstância do jogador não permite considerá-lo mais que uma ''arma secreta'', uma opção com impacto grande ao ser colocada em prática, mas que não geraria ruído algum se precisasse ser descartada. Jorge tem dois ajudantes na missão de domar Centurión: Chacho Coudet e Diego Milito, técnico e dirigente do Racing, seus amigos.
Coincidência com a visita de Sampaoli ou não, Centurión está treinando até por conta própria, como postou na noite de ontem em suas redes sociais. A Argentina tem uma abundância de nomes pesados em seu ataque. Mas com a exceção óbvia de Messi e Agüero, nenhum deles cativou Sampaoli a ponto de já garantir um lugar na Copa. Daí vem a espera por Centurión. Da reserva do Genoa à seleção argentina na Copa do Mundo. Buenos Aires não é a capital da psicologia à toa.