Patadas y Gambetas

Entenda o “escândalo da agulha” que está estremecendo o futebol argentino

Tales Torraga

Um jogador esconde duas agulhas na caneleira para furar os adversários.

Tática antiga, do futebol pré-histórico? Na Argentina não.

Foi que aconteceu no jogo Pacífico de Mendoza x Estudiantes pela Copa Argentina, no último domingo (11). Integrante da Quarta Divisão, o Pacífico eliminou o Estudiantes por 3×2 – a derrota culminou na demissão do técnico Nelson Vivas.

Federico Allende, do Pacífico – Diário Hoy / Reprodução

A história pesadíssima que envolve a façanha foi admitida pelo zagueiro Federico Allende, do Pacífico, que confessou, rindo, que pegava as agulhas na mão para espetar os adversários do Estudiantes: ''Eu matei [o atacante] Otero. O que você quer que faça? O futebol é para vivos. Sabíamos que seria assim, que a gente precisaria sujar o jogo para ganhar'', disse ele à Rádio Vorterix ontem (13).

O Pacífico (olhem a ironia do nome) é uma equipe amadora, formada por pedreiros, vendedores e enfermeiros. A tática imunda foi estudada previamente, segundo o zagueiro que – por supuesto – agora corre risco de sofrer um gancho pesadíssimo.

''Sabemos que o jogador profissional não gosta do choque, da cera, de que joguem sujo com ele. Víamos que era essa a maneira. O futebol é assim. Pobre negro, deve ter me odiado'', seguiu falando Allende, sobre o atacante Otero. ''Escondi duas agulhas na caneleira. Uma estava quebrada. Por sorte, a segunda estava bem.''

O zagueiro disse que se aproveitou do colombiano Juan Otero, de 22 anos: ''Um jogador de mais experiência, como o Braña, eu não espetaria nem f….''.

Atacante do Estudiantes, Otero reconheceu que foi sim espetado: ''Me deram com a agulha quatro vezes. Eu trocava de lado porque me espetavam a cada pouco. Avisei o juiz, e ele não me deu bola. Avisei o auxiliar, e ele começou a rir. Acharam que era mentira, mas me espetavam nas costas'', afirmou o colombiano.


Quem voltou atrás foi Allende, que declarou depois que era tudo brincadeira.

Tarde demais. Sua entrevista desatou um verdadeiro escândalo na Argentina, com dirigentes e ex-jogadores defendendo até o fechamento de portas do Pacífico.

O uso de agulhas e alfinetes é famoso na Argentina desde os anos 60 por ser marca registrada de Carlos Bilardo, meia que brilhou exatamente no Estudiantes, agora sofrendo com o escândalo que desatou enorme briga na sede do clube.

(Sim, é o mesmo Carlos Bilardo técnico campeão da Copa do Mundo de 1986.)

O apelido do Estudiantes, vejam só, é ''pincharrata'' – ''espetar o rato'' – por muitos estudantes de medicina serem torcedores do clube no começo do século passado.

* Atualizado às 16h26: 1) Allende, o zagueiro furão, foi mandado embora do Pacífico na tarde desta quarta-feira.

2) Juan Sebastián Verón, presidente do Estudiantes, acaba de dar entrevista coletiva quase chorando ao analisar o episódio e todos os desdobramentos no clube. ''Vivemos numa sociedade doente demais'', falou, sobre a briga que culminou na saída do técnico Lucas Nardi, que sequer havia assumido o time, por uma antiga desavença com Bilardo. ''Estou com vontade de largar tudo'', ameaçou La Brujita.