Patadas y Gambetas

“A torcida pedia pro Romário ir pra boate”, diz argentino amigo do Baixinho

Tales Torraga

A relação dos argentinos com Romário, engraçado, é bem diferente da verdadeira paixão que pelo menos os portenhos nutrem por Ronaldo.

A explicação é bastante óbvia: os argentinos enxergam em si muito mais da história de superação do Fenômeno que a malemolência e a vida tão peculiar de Romário.

Não dá para desconsiderar também as brigas do Baixinho com Simeone e El Chino Zandoná, para ficar só em duas, mas houve ao menos um argentino que teve o atacante brasileiro como um verdadeiro amigo. Foi o goleiro Gustavo Campanguolo, que fazia parte do Valência na temporada 1997/1998, quando Romário amealhou festas e 14 gols em 17 partidas por lá.

''Quem levou Romário ao Valência foi Jorge Valdano, que ele respeitava demais, tinha um bom relacionamento, era bem tranquilo. Mas depois Valdano saiu [era treinador] e veio Claudio Ranieri, e aí o Romário ficou desprotegido'', contou Campagnuolo à revista ''El Gráfico'' deste mês.

Campagnuolo hoje é treinador de goleiros da seleção argentina. E vale demais contextualizar a passagem de Romário pelo Valência. A ideia de Valdano era prepará-lo para a Copa do Mundo de 1998 dando-lhe toda a liberdade e fazendo com que sua motivação pré-Copa fosse necessária para o sucesso do Valência.

Mas Romário se machucou, a equipe despencou de rendimento neste mês de ausência e Valdano foi demitido. O parceiro do Baixinho em Valência era El Burrito Ariel Ortega – de fato um Romário argentino em sua afición por la noche.

''Ranieri era linha-dura, punha multa para tudo, e no dia em que houve esta determinação, Romário apareceu com uma pilha de dinheiro e entregou para o Zubizarreta, que era o nosso capitão: 'Olha, está aqui, a minha multa eu pago antecipado' (risos). Era um craque.''

''Começa a temporada e fazemos um triangular com Flamengo e Palmeiras. Romário marca dois gols em um jogo e três em outro, algo assim [três no Palmeiras e um no Flamengo, na verdade], aí a imprensa o encontrou na boate às 7h. Foram perguntar para ele, que respondeu: quando fiz três gols, fui dormir às 8h.''

''No dia seguinte a torcida já cantava: Saia de festa, Romário saia de festa…''

''Na área, como Romário, nunca vi nada igual.  Eu treinava com ele, saía, entrava o Zubizarreta, e ele cravava igual. Ele tinha muitos recursos, muitas definições com diferentes partes do pé. Ele esperava até o último instante e definia. Você nunca sabia se o chute ia forte ou fraco, se ia de cobertura ou rasteiro.''

''Ele era meio cansadão, meio morto fora da área, mas dentro dela ele te matava.''

''Depois eu o encontrei em um Vasco x San Lorenzo pela Mercosul [2000], e peguei um pênalti que ele cobrou. Ele depois fez dois gols e veio sempre na minha direção, brincando, que era pelos pênaltis que eu peguei. A gente se dava muito bem.''