Patadas y Gambetas

Brigas, lições e lágrimas. As histórias de Mário Sérgio na Argentina

Tales Torraga

Mário Sérgio Pontes de Paiva passou por três clubes em 1979. Começou o ano defendendo o Botafogo, se transferiu para o Rosário Central e depois voltou ao Brasil para brilhar pelo Inter. Em Rosário, foi recebido como um craque.

A torcida do Central até criou uma música para comemorar sua contratação: ''Assopre o apito e a corneta / Botafogo nos vendeu Mário Sérgio'', cantavam.

Foi uma relação conflituosa de meros cinco meses – e de histórias bem curiosas.

Mário Sérgio e Paulo Cezar Caju em 1983 no Grêmio

Mário, 28, chegou ao Central em abril e saiu em setembro. Em maio, jogou suas duas únicas partidas oficiais, sempre partindo do banco de reservas. Ganhou do Estudiantes por 3×1 no Gigante de Arroyito e perdeu por 0x1 para o Colón em Santa Fé. Somando as duas partidas, completou apenas 50 minutos pelo clube.

Atuou em outros dois amistosos também em maio. Foi titular (e substituído no intervalo) na vitória de 3×0 contra a Lazio e de novo reserva no 4×1 ante o Grêmio.

Era treinado por Ángel Zof, maior técnico da história do Central, acostumado a jogadores combativos e disciplinados, virtudes que Mário Sérgio não demonstrou em sua passagem argentina, logo esgotando a paciência do treinador.

Mário passou a fazer então o que revelou anos depois à revista 'Placar': brigar com colegas, com dirigentes e com o próprio técnico para forçar sua saída (abaixo).

Também à 'Placar', disse ter aprendido e incorporado ao seu futebol aquilo que caracteriza até hoje a forma argentina de jogar: a combatividade.

REPRODUÇÃO PLACAR (imagem do site FUTEBOL PORTENHO)

No material do Futebol Portenho (aqui) e do UOL (aqui), Mário Sérgio admitia o quão frustrante foi sua passagem pelo Central por três principais razões: 1) A saudade da esposa, que ficou no Rio enquanto ele chorava sozinho em Rosário, cidade famosa por ter as mulheres mais bonitas da Argentina; 2) A violência dos colegas durante os treinos; 3) Sua dificuldade para se comunicar em espanhol.

A equipe do Central que o recebeu era das melhores da Argentina, tanto que ficou famosa como a ''Sinfônica''. Conquistaria o título nacional em 1980. Mas Mário Sérgio não esteve nem perto de aproveitá-la. Estava determinado em voltar para perto da mulher no Brasil e integrar o Inter que ganharia o Brasileiro de 1979.

Um dos colegas de Mário Sérgio naquele Central era o zagueiro Patón Bauza, companheiro de defesa de José Van Tuyne, que disputou a Copa América de 1979 e a Copa do Mundo de 1982 pela seleção argentina.

Ao blog, Van Tuyne relembrou assim a passagem de Mário Sérgio pelo Central: ''Era um jogador tão habilidoso em campo quanto calado e chateado fora dele''.

Questionado sobre a violência afirmada por Mário Sérgio nos treinos, Van Tuyne respondeu: ''Não não, não havia nada específico contra ele. Era nossa forma habitual de jogar, talvez um pouco mais brusca do que ele estava acostumado, mas nada era feito de propósito, isso jamais. Até porque depois ele foi jogar, e jogou bem, em um futebol também ríspido, no futebol gaúcho'', seguiu o ex-zagueiro.

Outra lembrança de Van Tuyne da passagem de Mário Sérgio pelo Central é sobre a desconfiança com a qual ele encarava seus companheiros de equipe: ''Ele dava sinais claros de que não gostaria de estar ali, depois de um tempo ficou muito difícil de se aproximar dele, não havia contato, diálogo, nada'', seguiu Van Tuyne, hoje 61 anos, aposentado e vivendo em uma Rosário em guerra contra o narcotráfico.

As únicas conversas em um determinado tempo giravam em torno da política: ''Ele gostava de saber como a gente atuava em sindicatos, sobre como era nossa negociação com os dirigentes para fazer valer os direitos do jogador. Nossas tentativas de conversa com ele foram em cima disso, mas era difícil o papo fluir''.