Patadas y Gambetas

Celular no vestiário revolta a Argentina: ‘Sem respeito e sem compromisso’
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Tales Torraga

A goleada na Venezuela e o recorde de Messi, agora maior artilheiro da Argentina, ficaram em segundo plano. O assunto da seleção em Buenos Aires é a já clássica foto dos sete jogadores perfilados e usando seus celulares no vestiário de Boston.


Foi captada pelo lateral Rojo e postada no Instagram pelo atacante Lavezzi, primeiro à direita. Ao seu lado, Messi, Agüero, Banega, Mascherano, Maidana e Higuaín.

Antes do banho. No meio da sujeira e da bagunça.

No chão, as camisas da Venezuela e da Argentina – razão de muito barulho da torcida pelo que teria sido falta de respeito dos jogadores com um símbolo nacional.

Educadores e psicólogos foram às TVs e rádios portenhas para falar da foto.

As análises mais extensas ponderaram que apesar da fama e da fortuna, os jogadores são, óbvio, humanos comuns sofrendo para moderar a tecnologia em suas vidas. 'Síndrome da cabeça baixa', como a Argentina trata o vício pelo celular.

Sobrou também para o técnico Tata Martino por falta de pulso em limitar o uso do celular em ambiente que deveria ser de estrita interação humana e profissional.

(Necessário avaliar: comissões técnicas hoje passam estatísticas e outros materiais a jogadores pelo celular. Não parece ser o caso, mas convém colocar no contexto.)

Há também as queixas sobre o mau exemplo – um pouco desubicadas por ser a típica situação privada que sequer deveria vir a público: E agora, como cobrar dos pais que tenham firmeza para frear as crianças no uso de consoles e celulares?

São clássicas as brigas nos cinemas de Buenos Aires por gente incomodada por ruídos banais como alguém mastigando pipoca. O uso do celular, claro, gera discussão e agressão física. Se agarran a trompadas mal, están todos re locos.

Daí a fúria de certas análises em direção aos jogadores.

“Não são homens que jogam futebol, são meninos do Playstation que trocam um pouco o game pelo futebol. Se perdem, dizem 'vamos seguir trabalhando' e ya está.''

Así, de una.

''Acabou o coletivo, a comunhão da experiência em conjunto. É o individualismo absoluto, o isolamento feroz, não à toa a seleção não ganha nada há 23 anos.''

Outras vozes escuchadas nos cafés, bares, restaurantes, calles, subtes y colectivos:

''É a nova geração em seu habitat. Não é a imagem de uma seleção vitoriosa, e sim de uma humanidade derrotada.''

''As pessoas estão encapsuladas a maior parte do dia enquanto o mundo passa por fora das maquininhas. É a estupidez instalada em cada um de nós.''

''O celular matou a adrenalina do momento.''

''Sabe o que eles estavam olhando? O Google, para descobrir como ser campeões.''

''Esta é a nova forma de concentração!''

''Zero concentração! Estavam todos no Tinder!''

''Não podiam pegar o celular no hotel? Ou a caminho dele? Vergonha! Assim sentem a camisa argentina!''

''Com tal nível de estupidez, como ser campeões de algo?''

''Têm o cérebro abduzido por uma tela. Que surpreendente capacidade de comunicação entre eles.''

''O dia em que houver Mundial de Playstation, Argentina campeã dez vezes seguidas.''

''São uns viciados individualistas que vivem pendentes de si, não do momento real.''

''Os que acham isso normal só provam como a sociedade está doente.''

''Os que criticam são todos uns loucos. Se festejam a vitória, criticam que comemoraram ganhar da Venezuela. Se estão falando com a família, ou se estão fazendo qualquer outra coisa, criticam também. Argentina: país de gente doente e de um bando de velhas futriqueiras.''

Há um mês e meio, D'Alessandro – 35 anos, longe de ser um garoto incapaz de controlar seus impulsos – foi mostrado usando celular no banco de reservas do River Plate enquanto o time perdia clássico para o San Lorenzo pelo Argentino.

Foi repreendido publicamente por Enzo Francescoli, dirigente do clube: ''Não é o ideal, pois assim não conseguimos pôr limite nos jovens. Mas também não é para arrancar seus cabelos''. D'Alessandro pediu a palavra numa reunião e se desculpou.

Foi citada também a foto de Maradona e Olarticoechea na fila do telefone público, único meio de comunicação da última Argentina campeã mundial, no México 1986.

Por falar em México, claro que lembraram do vestiário da seleção – gritando e pulando – comemorando a vitória sobre os ingleses, contraste total de eras.

Convenhamos, muchachos: também de relevância de partida com o 4×1 Venezuela.

O excesso do uso de celular e a necessidade de limitá-lo geraram este simpático clipe dos portenhos do Tan Bionica com o colombiano Juanes. Pegadizo, el tema.

(…) Estoy un poco perdido y lo saben
Estoy un poco perdido, encontrame
Estoy un poco perdido y me cabe (…)
 


Recordista, Messi chega à soma de gols de Kempes e Maradona pela Argentina
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Tales Torraga

A comemoração blasé ao final diz o que foi Argentina 4×1 Venezuela: um trâmite.

O recorde de Lionel Messi, agora 54 gols pela Argentina e maior artilheiro dos 115 anos de história da seleção, empatado com Gabriel Batistuta, também.

Anibal Greco/La Nación

As curiosidades do feito de Messi neste sábado à noite:

* Seus 54 gols são a exata soma de Mario Kempes (20 em 43 jogos) e Diego Maradona (34 em 91), heróis dos títulos argentinos nas Copas de 1978 e 1986.

* Messi passa a ser o maior artilheiro da história do Barcelona, da seleção argentina, do Campeonato Espanhol e do clássico Barcelona x Real Madrid (!).

* Acima de Messi e Batistuta na América do Sul só o trio de ases do Brasil: Pelé (77 gols), Ronaldo (62) e Romário (55).

* A idade com a qual saiu o gol 54 de cada um: Pelé, 25 anos; Ronaldo, 27; Messi, 28; Batistuta, 33; Romário, 35.

* Os 54 gols de Messi saíram com 111 jogos pela Argentina; de Batistuta, com 77.

* Quando falarem que Batistuta na verdade tem 56 gols, saiba:

@2010MisterChip

* São 9 autores diferentes para os 14 gols da Argentina nesta Copa América: Messi, Di María, Banega, Otamendi, Agüero, Cuesta, Lavezzi, Lamela e Higuaín.

* É o melhor ataque de uma seleção na Copa América desde 1959 (Argentina e Uruguai, também 14).

A foto abaixo é do vestiário da Argentina minutos depois do jogo. Chocante.

Desmonta qualquer comparação entre eras. Pelé e Maradona mal passavam na TV.

A vida hoje passa no celular.


Clássica cabeluda, Argentina tenta sair da fila agora com barba e tatuagem
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Tales Torraga

A história do futebol argentino se escreve com cabelo comprido, cravou Diego Armando Maradona há 20 anos. Quem tem mais de 30 e viu Kempes, Luque, Redondo, Caniggia – e o próprio Maradona, Pelusa pela cabeleira de jovem – sabe.

História escrita até a Era Maradona, a última a fazer da Argentina uma campeã.

El Diez saiu da seleção em 1994. E a Argentina não ganhou mais nada. Incrível.

Sem cabelo comprido – mas com barba e tatuagem – a Era Messi terá um crucial sábado à noite. Joga às 20h contra a Venezuela pelas quartas-de-final da Copa América. Se perder, aumentará a fila da seleção argentina, hoje 23 anos sem títulos.

A pressão faz cair o cabelo e põe as barbas de molho até de um gênio como Messi.

Cabeludo até 2008, Lionel tem arrastado vários colegas na superstição de deixar a barba crescer nesta Copa América. Agüero, Romero (seu companheiro de quarto) e Higuaín são três deles e se somam a barbudos como Lavezzi, Maidana e Otamendi.


Supersticiosa que só, a Argentina não vive sem as cábalas. Mandinga é pouco.

As tatuagens – pelo menos as atuais, tão grandes e numerosas – são adereços também inexistentes nas gerações anteriores de argentinos. E os de hoje, un poco locos, seee, tatuam em si os escudos dos clubes de coração, um tiro no pé – ou melhor, na pele – no futebol extremamente profissional e pouco passional de hoje.

Ángel Di Maria tem uma gigante tatuagem do Rosário Central em uma das canelas. Banega é mais discreto: colocou o Newell's Old Boys na panturrilha direita.

Outros que levam o clube no corpo são Kranevitter e Maidana, campeões pelo River, e Andújar e Rojo, pela Libertadores conquistada pelo Estudiantes em 2009.

O visual na Argentina é tão valorizado que houve tempo em que a seleção discutia mechas, e não Messi. Tiaras e cabeleiras geraram tamanha discussão que o técnico Daniel Passarella impôs cabelo curto para os jogadores da Copa de 1998.


Fernando Redondo mandou Passarella passear. Copa ou cabelo? Quis o cabelo.

Símbolo de rebeldia frente aos militares e sinal da paixão pelo rock – gênero mais ouvido no país -, a cabeleira argentina está sumindo também fora dos campos. O tempo destinado a ela hoje vai para as novas distrações neste mundo repleto delas.

'Toda su locura sale por el pelo', cantava Juanse. No más, viejo. No más.


Sem salário e despejado, atacante do Quilmes vai morar na casa de torcedor
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Tales Torraga

Ao mesmo tempo, uma história triste e feliz.

Fundado há 128 anos – disputou contra o São Paulo a Libertadores de 2005 -, o Quilmes passa por grave crise financeira. Um de seus jogadores, Sergio Hippendinger, está sem receber do clube há sete meses. Não viu a cor do dinheiro em 2016. Morava em um apartamento alugado pelo clube. Foi despejado.

Cristian Muñoz e Sergio Hippendinger. As fotos são do ''Olé''

E recebeu, de um fanático, a amizade e solidariedade que não teve do clube. Sergio, 22 anos, no Quilmes há nove, mora hoje na casa de um torcedor do time.

Sergio contra o Boca na Bombonera

Cristian Muñoz abriu a porta da casa onde vive com a mulher e o filho de seis anos. Sergio espera propostas. No Quilmes não joga mais: ''Cristian é amigo de um outro jogador do clube. Quando ele me ofereceu para morar com sua família, logo aceitei''.


''Parece que estou em um hotel de luxo. Me tratam perfeito, são muito amigos. Só preciso jogar videogame com o nene. Já virei seu irmão mais velho, je.''

Cristian, o dono da casa, diz que ela estará aberta a Sergio pelo tempo que precisar: ''Seja um mês ou um ano. Ele veio do interior e não tem maldade, é um tipo bárbaro''.

Quilmes é uma cidade-quase bairro de Buenos Aires. O time é rival dos vizinhos Lanús e Banfield. Ficou famoso no Brasil pela confusão entre o zagueiro Leandro Desábato e o atacante Grafite, do São Paulo, por ofensas racistas no Morumbi.

Curioso: o apelido de Sergio é 'Negro'. O de Cristian, 'Pela' – pelado, pela careca.

O Quilmes está na Primeira desde 2012. É o clube que mais caiu e também o que mais subiu na Argentina. Espera eleições em agosto, o que deixa os dirigentes atuais ainda mais omissos para honrar pagamentos: ''Dos últimos nove meses só pagaram dois, e com toda fúria'', contou Sergio. Há, claro, uma enorme debandada.


Italiano e ‘Bilardo brasileiro’: Argentina aplaude Tite, mas prevê confusão
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Tales Torraga

Nada de ironia, só elogios para a escolha de Tite para a seleção brasileira. A Argentina destaca nesta quinta (16) que ele é o melhor técnico do país há muitas temporadas, citando o Corinthians campeão da Libertadores de 2012 contra o Boca.

Embora o tom geral seja de aplausos, a consideração óbvia do estilo de Tite: 'não é exatamente um lírico', alertando saudosistas que esperavam a volta do Jogo Bonito.

Lembraram de seu estágio com Carlo Ancelotti. O ''Olé'' o chamou de 'o italiano Tite' em alusão à disciplina tática e defensiva e times que ganham apertado, con lo justo.

No apertado banco da Bombonera

Entre os fanáticos por futebol em Buenos Aires, Tite é a versão brasileira de Carlos Bilardo, campeão da Copa de 1986 e legítimo símbolo do futebol de resultados.

Tanto público quanto meios de comunicação concordam em uma coisa: o estilo Tite, de muita disciplina e entrega, não combina com o atual momento da seleção.

A sua exigência, aliada à pequena disposição de jogadores que não veem a hora de retornar aos clubes, vai gerar confusão até que haja uma mudança de mentalidade.

Lembraram seus atritos com Neymar em clássico contra o Santos e com D'Alessandro no Internacional. Também os elogios de Tevez e Sebá Domínguez pelo seu trabalho no Corinthians de 2005. 'Un tipazo fenomenal', definiu o zagueiro.

É de se destacar também trecho da análise de César Luis Menotti no jornal ''La Nación''. Não menciona Tite, mas faz a reflexão:

''É muito triste, o Brasil. Admirei muito seu futebol. Vivi e joguei lá e fui amigo de Rivellino, Tostão, Zito. Não sei como eles vão se sentir, mas diria a eles que façam um caminho contrário, que se inspirem em Caetano Veloso e outros poetas, que voltem a olhar um pouco as praias do Rio e comecem a sonhar um pouco com Pelé, porque perderam a identidade de uma maneira que não posso imaginar''.

Com policiais e escudos, outro postal de La Boca

Curiosa também a recorrência de erros na imprensa: ontem na ESPN argentina diziam que Tite iria preferir atacantes leves citando o atual Alexandre Pato no Corinthians. Mas ele deixou o clube no fim de 2013. Alguns meios chamaram o técnico de Tité, com acento, e a seleção de 'canarinha' ou 'verdeamarelha'.

Nem na 'pátria do saber', como a Argentina se olha, a imprensa é livre de gafes.


Brasil demite, Argentina ri: cinco técnicos classificados na Copa América
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Tales Torraga

A terça-feira que entrou para a história pela demissão de Dunga terminou com a constatação do chocante abismo que separa os técnicos brasileiros dos argentinos.

Enquanto a CBF se vira para arrumar quem treine sua equipe, a Argentina põe cinco técnicos entre as oito seleções classificadas às quartas-de-final da Copa América.

A lista:

– Tata Martino, Argentina
– José Pékerman, Colômbia
– Juan Antonio Pizzi, Chile
– Gustavo Quinteros, Equador
– Ricardo Gareca, Peru

Único argentino a não se classificar: Ramón Díaz, que pediu demissão do Paraguai.

Gareca, Martino, Quinteros, Pékerman e Pizzi

As outras três seleções vivas na Copa América têm técnicos alemão (Klinsmann, EUA), colombiano (Osorio, México) e venezuelano (Rafa Dudamel, Venezuela).

Os cinco classificados repetem a Copa América 2015, quando os técnicos argentinos foram além. Dominaram as quatro primeiras posições na competição vencida pela anfitriã Chile – então comandada por Jorge Sampaoli, hoje no Sevilla.

O desempenho se soma ao brilho nos clubes. O Atlético de Madri de Diego Simeone há anos é sensação na Liga dos Campeões. Edgardo Patón Bauza carrega o sonho do tetra do São Paulo na Libertadores – desde 2014, só vencida por DTs argentos.

A razão do sucesso argentino é básica: sede por conhecimento, literatura farta, incentivo ao desenvolvimento intelectual e quase um século estudando o futebol em todas as frentes, especialmente táticas e psicológicas. Uma gigante pátria do saber.

Melhor técnico do mundo nos últimos anos, Pep Guardiola é habitué de Buenos Aires para encontrar dois ídolos seus, César Luis Menotti e Marcelo Loco Bielsa.

Tite, o preferido para assumir o Brasil, é um reconhecido admirador/discípulo do Mister Libertadores Carlos Bianchi. Foi à capital portenha em 2014 só para vê-lo.


Sem Brasil e Uruguai, Argentina se vê forçada a acabar com jejum de títulos
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Tales Torraga

A Argentina nem fechou participação na primeira fase da Copa América e já encontra, na sua torcida, um total clima de 'já ganhou'. Motivos: o bom futebol desempenhado pelos comandados por Tata Martino e, claro, as precoces eliminações dos tradicionais e, para muitos, os únicos rivais Brasil e Uruguai.

Não passa pela cabeça de ninguém na sempre pensante Buenos Aires que a Argentina vai deixar escapar a chance de sair da fila de 23 anos sem títulos.

A adversária de hoje, a Bolívia às 23h, não inspira maiores emoções no país que já olha para a frente tanto como campeão (mirá vos…) quanto na inevitável passagem de coroa de Batistuta para Messi como maior goleador em 115 anos de seleção.

La Pulga está a apenas um de Batigol – 53 a 54 – e é bem provável que nesta terça haja a modificação nesta tabela. É o duelo de Superman contra Batman, brincam, com os nomes de Batistuta e Batman e com os três gols de Supermessi no Panamá.

Tanto a cabeça está adiante que Martino deve escalar um time misto. Mercado, Pastore, Di María e Biglia estão machucados; Augusto Fernández, Gaitán, Rojo e Mascherano, pendurados em dois cartões. Serão cuidados contra a lanterna Bolívia.

Com Messi no banco, a Argentina começaria com Romero; Roncaglia, Otamendi, Cuesta e Funes Mori; Banega, Kranevitter e Lamela; Lavezzi, Agüero e Higuaín.

E, seguro, já pensando na Venezuela nas quartas-de-final às 20h de sábado.

(A eliminação do Uruguai causou espanto. A do Brasil não. A Argentina olha hoje para o Brasil como um pálido retrato do passado, um sinal dos velhos tempos devorados pelos atuais. Um Falcon 73 do futebol. Não entendem Dunga como técnico, não entendem o infantil Neymar como craque da geração, não entendem como, mesmo com o mau momento do vizinho, não conseguem finalmente ser campeões. A ver agora. O fato é que a Argentina hoje vê o Brasil com indiferença, quase piedade. Falam de década perdida. Mundial 2006 adiante, ladeira abaixo.

'Tristeza não tem fim', canta Calamaro em um grande rock argentino. Fatal, che.)


15 anos hoje: Os bastidores do ‘baile’ de Riquelme no Palmeiras em plena SP
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Tales Torraga

A torcida do Boca Juniors começou a semana sorrindo e lembrando quando Juan Román Riquelme 'bailou os brasileiros na própria terra', como repetem sem parar.

Foi no Parque Antarctica há exatos 15 anos.

Era semifinal de Libertadores e repetição da finalíssima do ano anterior – vencida pelo Boca também nos pênaltis e também em plena São Paulo, mas no Morumbi.

Década e meia atrás, o Parque Antarctica transbordava ódio.

Além da sede de revanche contra o Boca, outros dois fatores: 1) A arbitragem de Ubaldo Aquino no 2×2 da Bombonera, com pênalti inexistente ao Boca e sem dar penal legítimo ao Palmeiras; 2) A Mercosul perdida para o Vasco no mesmo Parque Antarctica meses antes, um 3×0 virado para 4×3 por um rival com dez em campo.

Nem bem o Boca chegou ao Parque Antarctica e sentiu al calor de las masas. ''Fecharam o portão e a torcida veio para cima do nosso ônibus'', conta Riquelme.  

Calenchu, em espanhol, é quem não sabe perder: ''Boca bancou as patadas e até a pedrada que abriu a cabeça de Bianchi, passou à final da Copa e deixou o Palmeiras nervosinho de novo'', destacou o sempre irônico jornal portenho ''Olé''.

As patadas quem bancou foi Riquelme, então com 22 anos. Deu um show de guapeza. Aos 17min já estava 2×0 Boca – o segundo, em histórico lance seu passando por Felipe e Alexandre e chutando rasteiro no canto direito de Marcos.

No primeiro gol, de Gaitán, quebraram o banco de reservas.

O Palmeiras descontou com Fábio Júnior. Em seguida, a loucura.

Dois torcedores deram murro e voadora – patada voladora y puñetazo – no bandeirinha colombiano Daniel Wilson. Seis minutos de paralisação por Oscar Ruiz.

A Argentina até hoje não entende como a partida não foi encerrada ali.


Na sequência, o zagueiro Alexandre levou cartão vermelho direto por duas atitudes insanas, um pontapé no zagueiro Traverso e um pisão na cabeça do volante Serna.

Aí, agrediram o técnico Carlos Bianchi: ''Me jogaram uma lata de cerveja. Voltava do intervalo por baixo de uma arquibancada com dois policiais que me protegiam com seus escudos, eu olhava para cima e vi que vinha uma lata. Acertou minha cabeça''.

Argel, Magrão e Galeano caçavam Riquelme. ''O Galeano me deu um soco na boca. E eu o cumprimentei, apertei sua mão, só queria jogar'', disse Román à TV América.

O 10 do Boca gozou a calentura palmeirense: ''Aquele jogo estava bom, eh?''.

Disse também que as agressões no Parque Antarctica foram ''normais'': ''Com 14 anos eu jogava na favela contra os adultos valendo dinheiro. Era a briga que terminava o jogo. Ninguém me defendia. Por que iria tremer contra o Palmeiras?''.

Dizem que Riquelme, nos tempos de pibe, enfrentava marcadores armados.

Sim – com revólver no calção.

Riquelme converteu seu pênalti e o Boca despachou o Palmeiras com ajuda polêmica: o roupeiro Roberto Prado, atrás do gol, cantou os lados das cobranças para o goleiro Córdoba. Defendeu os de Alex e Basílio. Arce chutou no travessão.

Poucos sabem: o Boca brigava demais entre si, e os jogadores comemoram a classificação no vestiário xingando os dirigentes (entre eles o então mandatário Mauricio Macri, hoje presidente da Argentina) e pintando camisetas com ofensas.

O Palmeiras x Boca de 2001 valia também o Intercontinental para pegar o Bayern. O outro finalista da Libertadores seria o Cruz Azul, e mexicanos não iam a Tóquio.

Por aquele baile, muitos corintianos batizaram seus filhos de Riquelme. Não sabiam depois onde pôr a cara quando o ídolo do Boca surpreendeu Cássio de muito longe e eliminou o Corinthians nas oitavas da Libertadores de 2013 no Pacaembu.

Um compilado da fantástica atuação de Riquelme no Parque Antarctica está aqui.


Os (muitos) recordes da histórica noite de Messi, 26min e 3 gols em Chicago
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Tales Torraga

A Argentina atropelou o Panamá como se imaginava – 5×0.

Difícil de supor, só a façanha de Lionel Messi.

Reserva, assim como na estreia contra o Chile, foi a campo aos 16 minutos do segundo tempo. Aos 23, 33 e 42 (26 minutos desde a entrada), fez três históricos gols para chegar aos 53 pela seleção e ficar a apenas um de Gabriel Batistuta, 54.

A Argentina já está em contagem regressiva para ver Messi igualar e superar El Batigol às 23h da próxima terça, contra a lanterna Bolívia, no fechamento da fase.

Outros dados que dão o tamanho de sua histórica noite em Chicago:

* Primeira tripleta de Messi em jogos oficiais de seleção. Antes, havia feito três gols em um mesmo amistoso contra Brasil, Guatemala e Suíça.

* Só o segundo na centenária história da Copa América a ser reserva e fazer três gols no mesmo jogo. Antes, só Paulo Valentim em 1959.

* Segunda vez na história de 114 anos da seleção argentina que um suplente faz três gols em única partida oficial, igualando marca de 1940 (Luis Arrieta).

* Com apenas meia hora em campo, Messi já igualou Philippe Coutinho como o artilheiro desta Copa América.

* Justo no dia seguinte ao comentário de Maradona ('Messi não tem personalidade'), obteve o que El Diegote jamais alcançou: 3 gols em único jogo oficial.

* Igualou a soma das suas participações anteriores em Copa América (também 3 gols em 16 jogos).

Foi contra o Panamá, tudo bem, que jogava com homem a menos, é verdade. Mas até a entrada de Messi estava só 1×0 e a Argentina atuava mal, com displicência.

O furacão Messi amenizou o susto com Ángel Di María em nova lesão muscular.


Foi assim na Copa do Mundo do Brasil, quando Angelito se machucou contra a Bélgica nas quartas e não jogou as muy bravas com Holanda e Alemanha.

Foi assim na última Copa América, na final ante o Chile, ainda no primeiro tempo.

Di María chorou a morte da avó ao fazer gol no mesmo Chile na segunda-feira.

Hoje, quase chorou de novo.

O mito Indio Solari já cantava: 'Ángel de la soledad…Y de la desolación…'.


Reserva nos clubes e recordista na seleção. O curioso caso de Sergio Romero
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Tales Torraga

A Argentina joga às 22h30 desta sexta (10) em Chicago contra o humilde e inevitável goleado Panamá. Mas a seleção não deveria se preocupar em conseguir seu 7×1 – e sim em encontrar um goleiro que dê segurança ante rivales en serio.

Famosa pela perfeição dos antigos arqueros, a Argentina há quase 30 anos não conta com luvas à altura de suas escolas. Hoje, Sergio Chiquito Romero é o ocaso.

Não sai da reserva dos clubes desde 2013. E aos 29 anos, com no mínimo mais cinco a jogar, é o goleiro recordista de presenças na história argentina – 74 jogos.

Curioso demais, o caso de Romero.

Argentino ''por centímetros'', nasceu na fronteira seca com Paraná e Santa Catarina.

Fez as divisões de base pelo Independiente e jogou como profissional no rival Racing. Aos 20 anos, foi para o AZ Alkmaar, da Holanda. Com 23, levou 4×0 da Alemanha na Copa de 2010. Em 2011, levou seu mate para a rebaixada Sampdoria. Depois, Mônaco e Manchester United, onde esquenta o banco do espanhol De Gea.

Corre sério risco de ser dispensado pelo recém-chegado técnico José Mourinho.

Indicam que sua continuidade na seleção se dá mais por coleguismo – com Messi e Martino, embora Romero seja titular desde o ciclo Maradona – que por eficiência.


Inútil argumentar seus méritos na Argentina pelas defesas nos pênaltis contra a Holanda na semifinal da Copa. Para muitos, Romero não levou a Argentina à final – e sim a perdeu ao falhar no chute que terminou no gol de Götze no Maracanã.

Os reservas de Romero são Andújar (32, Estudiantes) e Guzmán (30, Tigres-MEX).

Ao menos dois goleiros argentinos hoje estão bem acima de Chiquito: Willy Caballero, Manchester City, e o fantástico Gerónimo Rulli, 24 anos, Real Sociedad.

Rulli é visto como o novo Pato Fillol, último grande goleiro argentino a ser admirado e contratado inclusive pelo equipazo fatal brasileiro contemporâneo, o Flamengo.


Tão bom, pediam seu brilho e suas brigas na seleção até com 40 anos, em 1990.

Os herdeiros das luvas argentinas pós-Fillol: Pumpido (1986), Goycochea (1990), Islas (1994), Roa (1998), Cavallero (2002), Abbondazieri (2006) e agora Romero.

Distinto, El Pato.