Patadas y Gambetas

Opinião: Por que Messi é o melhor do mundo e o pior da Argentina
Comentários 19

Tales Torraga

Ganhar é exceção. Mas o ar de superioridade do argentino faz pensar que ganhar é coisa de todos os dias. Somos assim. Há muitas explicações.

Ao mesmo tempo não há nenhuma.

Olhamos tudo muito de cima. Ganhar virou mais que necessidade.

Ganhar ou ganhar é tudo.

Tudo é exitismo. Tudo é agrandado.

Faz muito tempo que a perversa mensagem que se tem também do futebol é: ganhar é obrigação. Ganhe como for. Ganhar é o único que interessa.

Mas o futebol é um jogo. Se perde, se empata. Se ganha.

Não sabemos perder. Parece que os únicos que merecem ganhar são os argentinos.

Ser segundo não nos alcança. Queremos ganhar. Só por isso paramos para ver.

Também por isso a Argentina está numa crise imparável e sem fundo.

O futebol precisa responder por tudo o que não é futebol.

Precisa responder mensagem no celular antes de tomar banho.

O Twitter faz do famoso um boludo. E do boludo um famoso.

Mais atento à rede social que à rede do gol.

A Argentina está em permanente estado geral de loucura que exige: ganhe. Não importa como. Todos os meios foram eliminados. Só se olha o resultado.

Ganhe.

Tal olhar se torna o martírio do jogador. Nas decisões finas e finais, como cobrar um pênalti, passa pela cabeça todo o filme do que representa o instante.

Jogar bem futebol exige certa inconsciência. Sentir mais e pensar menos. Um país louco precisa de um capitão muito louco. Não um capitão (apenas) muito capaz. Por isso a seleção triunfou unicamente pelos pés e mãos de Passarella e Maradona.

Aplaudidos por fazer de tudo para ganhar. Por encher a mão de merda para passar no adversário. Por meter a mão na bola. Drogar o contrário. Envenenar o colega.

De tão loucos, até um louco normal como Bielsa pediu para sair da seleção.

O 'tudo para ganhar' virou a amarga sensação de que hoje fazem 'tudo para perder'.

É o ápice da incoerência Messi justificar que renuncia à seleção para 'fazer o que muitos gostariam que ele fizesse' e haver clamor nacional por sua permanência.

Morde. Insulta e manda sair. Assopra. Pede para ficar.

Maradona o ataca. Depois o defende.

O jornal o trata em editorial como um 'serial caminhante em finais'.

E depois capa 'Não se vá'.

Pulga, não pule fora.

Sua renúncia, claro, saiu da víscera, não da mente. Voltar atrás estará tudo bem.

Como esteve com Tevez, Riquelme, Redondo – e está agora com Del Potro.

Agora pedem para que Messi fique, mas que saiam todos. A começar por Tata Martino. E que venha um estrangeiro. Um Mourinho, um Guardiola.

O argentino quer uma comissão normalizadora que venha de fora para controlar a gente, gente de fora para controlar argentinos com problemas para trabalhar juntos.

Temos muitos problemas conosco mesmos.

Muitos problemas de ego, muita corrupção.

Muitos jogam no exterior, mas a seleção segue o que é a Argentina como país.

É claro que a crise na AFA influencia. O futebol tem o tal componente mágico que separa vitória e derrota por centímetros, mas o resultado esportivo quase sempre é coerente com o que se vê fora de campo.

Fracassos dentro de campo? Fracassos são os dirigentes.

Messi é o melhor do mundo e dizem que não rende. Mas desde quando um jogador é um time inteiro? É parte de um time. Messi foi o melhor na final contra o Chile.

Foi insuficiente. Separados, todos somos. Ele também é.

A única análise é se o pênalti entra ou sai, não algo muito mais aprofundado.

A final contra o Chile escancarou isso. Mas vemos o Chile como um país pequeno, simplório. O subestimamos. Jamais houve cuidado de passar ao público que Chile, Espanha, Alemanha e Argentina são hoje as quatro melhores do mundo.

Bélgica, Espanha e Alemanha desenvolveram uma ideia de futebol na última década. O Chile também. Com Loco Bielsa – o que largou a Argentina.

A Argentina cria e destrói projetos no mesmo dia. Impossível obter resultados assim.

Mas a única análise é se o pênalti entra ou sai, não algo muito mais aprofundado.

Europeus pegaram o que de bom fizeram Argentina e Brasil e aproveitaram. Inclusive da mescla de raças e das naturalizações. Vide a Alemanha.

A Argentina sempre teve problemas de time maquiados por um grande desempenho de Messi ou de outros jogadores.

Isso ficou evidente na superioridade numérica mal utilizada na final.

É evidente que o respaldo coletivo de Messi no Barcelona não se vê na seleção.

Assim é. Está claro demais. Passa pelo sistema de jogo e funcionamento do time. Se Messi realmente se naturalizasse espanhol, todos brigariam pelo segundo lugar.

Sem Messi, a Argentina vira seleção comum no horizonte de outras cinco ou seis.

O patriotismo argentino também é um pouco raro. A Argentina cria conceitos sem racionalizar as coisas. O triunfo no futebol não é pessoal. O argentino idealizou a figura de Maradona e segue apegado a ele.

Maradona também precisou de Valdano e de Burruchaga. Também precisou de um time. Maradona também não fez gols nas finais que jogou. A Argentina quase perdeu em 1986. Mas Maradona acertou um passe fantástico, como tantas vezes acertou Messi, e a Argentina ganhou.

O futebol sempre vai carregar este mistério de não se saber por que um time ganha – ou não perde – um jogo.

Claro que Maradona foi herói. Na seleção e no Napoli. Dos melhores de todos os tempos. Mas vivemos outros. Menos heroicos. Mais complexos e sofisticados.

Cada um forma seu caráter de um jeito. Messi deixou o país quando criança. Foi muito desprezado quando pequeno. Segue muito desprezado agora. Não caiam no conto do clamor e da comoção, não tomem o que ocorreu antes e ocorre agora como resultado de uma minoria ruidosa.

Maradona foi o filho da necessidade, da pobreza, da rebeldia argentina. Maradona reflete a Argentina muito mais que Messi, mas isso não faz de Messi um culpado.

Cada jogador tem seu temperamento e sua forma de jogar. O futebol é união de talentos. 11 Mascheranos não fariam a Argentina campeã. 11 Messis também não.

Messi precisa de acompanhamento psicológico tanto quanto qualquer outro argentino. No caso dele, a necessidade maior é ser feliz com uma bola no pé.

Mas com cabeça tão rebuscada e com tantas contradições, com tanta gente que fala uma coisa e faz outra, é quase impossível ser feliz hoje na Argentina.


Fim de ciclo, medos e o adeus de Messi: as reflexões do pesadelo argentino
Comentários 2

Tales Torraga

1 – Retrato da insanidade, o goleador histórico da Argentina, no auge, em busca da sexta Bola de Ouro, renunciar à seleção. Fará bem à sua saúde mental, nem que a decisão seja depois revista. Mais que criticado, Messi passou a ser defenestrado. Há certo regozijo com sua derrota apenas pelo sadismo argentino de vê-lo fracassar.

A Argentina vive nas nuvens e carrega sempre mochilas muito pesadas. São os melhores e os piores com a mesma facilidade. Exigem que Messi seja Deus.

É perturbação demais para qualquer ser humano.

Embora compreensível, seu afastamento gera nova má fama. 'Um tipo valente não se entregaria nunca', se fala, defendendo que, afinal, Messi é catalão, não argentino.

Resta ver a reação da AFA e dos patrocinadores. Causou estranheza o anúncio ser ali, em alta temperatura, sem ninguém para levá-lo ao ônibus e ponderar o momento.

2) Martino é maldosamente chamado em Buenos Aires de Muertino. Não conseguiu ganhar a Liga Espanhola com Messi no Barcelona. Não conseguiu ganhar a Copa América com Messi na seleção.

Pior: conseguiu que Messi renunciasse à seleção.

Sua formação titular de ontem foi muito questionada. Di María não demonstrou condição física. E saiu para entrar o volante Kranevitter, não o ofensivo Lamela. Jogou para não perder – não para ganhar. Por isso manteve Biglia, mal todo o tempo. Era para sair, até por convalescer de lesão. Ficou até bater o pênalti. Perdeu.

3) À espera da debandada, a Argentina, assim como o Brasil, já teme não se classificar à Rússia (quando falamos da gangorra de fracasso e triunfalismo, eis).

4) Com Palermo em campo, a Argentina com certeza seria campeã. É a terceira vez pela terceira final seguida que se escuta isso. Higuaín é terrivelmente questionado, bem mais que Messi. Sem falar da ausência de Tevez, Dybala e Icardi.

5) A Argentina não trabalha suas bolas paradas e não tem armador definido. Tem muitos volantes ao redor de Messi. Carece de estratégias. Escanteios sem destino. Faltam bons cruzamentos. Laterais (Rojo e Mercado) inoperantes.

6) Nas três finais perdidas não fez gol. No tempo normal, também não tomou.

7) Outra repetição de história se vê no 'cardiograma' da final. Igualzinho aos do Maracanã e de Santiago. Começa melhor, cai no segundo tempo, diminui o ritmo, joga uma nula prorrogação. Psicólogos indicam medo. A equipe trava diante da chance de derrota e deixa de buscar a vitória. Daí, óbvio, perde nos pênaltis.

8) Há que aponte a felicidade de Diego Maradona pelo resultado e pela manutenção da 'identidade argentina' que apregoa – seja lá o que isto queira dizer.

9) Maradona foi e é atacado. Messi foi e é atacado. Os campeões de 1978 são atacados pelo 6×0 no Peru. Os de 1986 são atacados pelo gol de mão e pela irrelevância frente a Maradona. Quer paz? Jogue em outro país.

10) Que o inimigo Chile, então virgem de títulos e agora bi, desintegre a maior geração da história do futebol argentino, deixa o ferro ainda mais pesado.

11) A 'geração dourada' argentina ganhou no basquete, no tênis e no hóquei.

Não no futebol.


‘Tristeza não tem fim’ na eterna fila argentina
Comentários 3

Tales Torraga

Em seu maior sucesso, o rock de Andrés Calamaro canta que 'tristeza não tem fim'.

0x0 no tempo normal e na prorrogação. Pênaltis. Estados Unidos.

Brasil 1994? Não. Argentina 2016.

A fila de 24 anos sem Copas do Mundo para o Brasil em 1994.

A fila de 23 anos sem qualquer título argentino hoje.

Buenos Aires viveu noite tensa e madrugada explosiva.

'Hoje você se consagra herói', Chiquito Romero.

Não.

Não, Messi, impossível ser mais boludo.

O grito ensurdecedor de Mascherano.

O sangue frio de Agüero.

O silêncio nas cobranças chilenas.

O silêncio na vitória chilena.

Tristeza não tem fim.

Não há a menor lucidez portenha neste instante.

Eternos vice-campeões, máquina de perder finais, se ouve de tudo na capital.

O domingo frio, de 10 graus, terminou re caliente como nunca.

Higuaín, Messi, Agüero, Romero.

Martino.

''Se perder, melhor não voltar'', alertava Maradona.

Profético, El Diez.

Os jogadores explodiriam, estava na cara desde o hino nacional.

O jogo das pancadas vai machucar para sempre.

Buenos Aires vai se arrastar neste começo de semana.

Beberam, fumaram, berraram.

Viveram. Perderam.

Não à toa é a terra do tango.

Seja o tango, seja o rock, seja o futebol, seja a política, seja a literatura.

Tristeza não tem fim.

Este Chile não cansa de ganhar. Esta Argentina não cansa de perder.

Na Buenos Aires cinematográfica, filme repetido.

Déjà vu. E não há Darín que faça rir.

É para chorar, gritou o site do ''Olé''.

Precisa gritar, precisa mandar, precisa chorar?

Por que achar que o jogo seria decidido em 60 minutos?

Por que achar que a máquina argentina colocaria a história no lugar?

Por que olhar tanto para o umbigo e chutar pênalti na Lua?

Por que não ganha nada depois de Maradona?

Por que Mascherano segue 'comendo merda'?

Por que não aceitamos Borges e vemos o futebol como mera 'vulgaridade inglesa'?

Por que esta falta de autoridade para jogar finais?

Por que três finais jogadas e nem um gol marcado?

Por que sete finais seguidas perdidas?

Por que de novo um técnico argentino?

Por que a derrota é tão dura e tão difícil de lidar?

Por que uma bola, 22 homens e metros de grama podem fazer este estrago?

Tristeza não tem fim. Tem barba.

Não foi um jogo, uma final, uma derrota.

Sim um ponto de reflexão.

Mas como? Em Buenos Aires, na cidade da fúria?

¿Pero qué querés que te diga, loco?


Café veloz, ameaça de briga e fezes na mão: as táticas argentinas em finais
Comentários 2

Tales Torraga

Chegou o grande domingo. Nem ontem, nem amanhã. Hoy es hoy, Argentina.

Buenos Aires acordou com 6 graus do típico frio de junho e com a boca seca (e cheia) de ansiedade. A data já tem até sigla: 26J. A noite que pode representar seu primeiro título no futebol em 23 anos é também ocasião propícia para o país voltar a tocar em 'fibras sentimentais' pesadas e escancaradas ontem em Tata Martino.

Seu semblante gritou para todo o mundo a pressão e esgotamento deste domingo.

Só o muito insensível não reconhece seu fardo. O ''Olé'' nem mostra cara: só grita 'Hoje não podemos perder'. O ''Clarín'' pede revanche; o ''La Nación'', obsessão.

A sede de vitória que sufoca a Argentina é comum – incrível possa parecer. O exagero que sempre acompanha as conquistas e derrotas é razão para a seleção recorrer a táticas escusas mais de uma vez e dizer ''importante é ganhar, não como''.

(Daí a referência do discurso de Martino na capa do ''Olé''.)

Relembramos seis episódios do tipo. A partir das 21h, todos de olhos bem abertos.

1978. A Holanda punha medo e o capitão Daniel Passarella pôs…fezes na mão para ''jogar sujo'' e intimidar. ''Krol foi apertar sua mão e não entendeu nada'', diz aqui. Os próprios colegas condenaram: ''Passarella era um f… da p… nojento que punha merda nas maçanetas dos quartos'', falou o atacante Houseman. 

1986. O vestiário argentino antes do jogo contra a Inglaterra era só silêncio. Rompido pelo zagueiro Tata Brown. Tirou as chuteiras e começou a bater as travas nas paredes com toda a força. ''Essa é para o inglês que quiser passar por mim. Vou arrebentá-lo, vou levantá-lo''. Encheu a seleção de brio, contou Maradona.

1986 (2). O hábito no México 1986 era tomar refrigerante no café da manhã e almoçar hambúrguer. A superstição pouco saudável foi mantida, claro, até a finalíssima contra a Alemanha. ''São irresponsáveis, se esforçam para o Mundial e comem isso'', queixou-se o então médico Raúl Madero.

1990. A trama que terminou na água batizada oferecida ao lateral brasileiro Branco foi descrita em detalhes por Maradona. O jogo válido pelas oitavas do Mundial Itália 1990 acabou 1×0 para a Argentina que carrega em si uma grande vergonha.

''Buscamos o atalho e a trapaça e no fundo somos os bobos da história'', definiu certa vez Mauricio Macri, atual presidente da Argentina.

1990 (2). Maradona tinha estirado a coxa e estava sem condições de ser titular na final contra a Alemanha. O técnico Bilardo o colocaria no segundo tempo. ''E eu levanto do banco e te cubro de porrada'', devolveu Diego. Detalhes aqui.

1993. Argentina e Austrália disputaram entre si quem jogaria a Copa de 1994. A seleção foi dopada com 'café veloz' e ok de Julio Grondona, presidente da Associação Argentina. O 'café veloz ' é hoje comércio paralelo portenho. Mirá.


Guerra das Malvinas, soco em Messi e mordida de cão. A rixa Argentina-Chile
Comentários 23

Tales Torraga

Conversar em Buenos Aires do Argentina x Chile deste domingo exige ouvido e estômago blindados para lidar com os sérios insultos destinados aos chilenos. 

Sim, a final da Copa América do ano passado está fresquita e contribui com o aumento da rivalidade – embora o termo correto aqui infelizmente seja outro.

É hostilidade. Não é só ganhar. É também fazer o outro sofrer.

O olhar portenho em relação ao Chile é carregado de ódio há 34 anos, desde a aliança Pinochet/Thatcher para matar os argentinos na Guerra das Malvinas.

O rancor originou, na parte mais furiosa da Argentina, este cântico raivoso na Copa América do ano passado no Chile. Chamá-los de 'traidores' foi a ofensa mais leve.

(E os brasileiros reclamando do 'Tener en casa a tu papá…')

O revide chileno na Copa América veio com cartazes, na vaia histórica ao hino argentino na decisão e na loucura que foi agredir a família de Messi no estádio.

Engana-se quem pensa que os ânimos foram esfriados. O chileno Vidal e Tevez já bateram boca. ''A Argentina não tem rival'', falou Tevez, ''Está no direito dele de torcedor'', ironizou Vidal, tripudiando o Apache não ser chamado para a seleção.

Vidal disse também que a Copa América a ser defendida é a de 2019, ampliando a vigência do título do ano passado e escancarando:

– Se importante à Argentina, a final de domingo não é tanto para o Chile.

A rixa argentina com os chilenos é histórica também nos clubes. Quando Marcelo Salas foi para o River Plate em 1996, o negócio quase não saiu em razão da cabeça pequena dos dirigentes. 'Desde quando chileno dá certo na Argentina?', pensaram.

Deu tão certo que o Monumental cansou de explodir de gritar 'Chileeeeno'.

Errado foi Colo-Colo x Boca, semifinal da Libertadores 1991, quando a polícia de Santiago soltou o cachorro para morder o traseiro de Montoya, goleiro do Boca.


Prova da animosidade, o cachorro ganhou um santuário da torcida do Colo-Colo.

A postura profissional chilena em relação a esta rivalidade é mais amena. A seleção de futebol conta com técnicos argentinos desde 2007: Bielsa, Sampaoli e hoje Pizzi.

Manter a fila argentina com técnico do país vai aumentar a dor que tanto machuca.

O pior rival rende sempre a melhor vitória. OjoImperdible. 21h.


Fim da fila ou olho da rua: ‘tudo ou nada’ pressiona técnico Tata Martino
Comentários 2

Tales Torraga

A fila argentina de 23 anos sem títulos pesa bastante sobre os jogadores. Mas muito, muito mais, sobre quem está há menos tempo na seleção: o técnico Tata Martino.

Rosarino de 53 anos, no cargo desde agosto de 2014, sua escolha ignorou os portenhos. Seu nome em Buenos Aires, capital também do futebol no país, é muito criticado – e muito por jamais ter trabalhado na cidade. Só Rosário com o Newell´s.

Tata é o Dunga argentino. No lo quieren.

Saudosistas suspiram pela volta de José Pékerman ou Marcelo Loco Bielsa. Torcedores mais jovens pedem por Diego Simeone ou Marcelo Gallardo.

A decisão das 21h deste domingo é mesmo céu ou inferno para Tata.

Céu porque seria o primeiro técnico campeão pela seleção desde Coco Basile em 1993, conseguindo o que os respeitadíssimos Bielsa e Pékerman não conseguiram.

Inferno porque sua permanência na seleção em caso de derrota será insustentável.

Seus números são bons – melhor aproveitamento entre os 'técnicos da fila', embora com menos partidas – e sua equipe joga bem como pouco se viu nos últimos anos.

Mas sua pecha de perdedor aumentaria a ponto de mandá-lo embora.

Todos os treinadores dos últimos anos não tiveram segunda chance depois de um vice-campeonato. Martino já está na segunda. Uma terceira não seria inviável, e sim impossível na estridente Argentina que, afinal, conta com Messi (Agüero, Higuaín…) e não entende como pôde perder a última Copa América para o então virgem Chile.

Muitos acham que sua presença no cargo se dá mais pela amizade rosarina com Messi que pelos seus méritos. Do Newell's para o Barcelona e para a seleção.

E agora da seleção para a redenção – ou a demissão.

A) Sai da fila de títulos ou B) Entra para a fila de demitidos. Não há alternativa C.

Seu duelo contra Juan Antonio Pizzi, também rosarino, porém canalla, foi bastante explorado pelo blog nas Eliminatórias aqui.

OS OITO TÉCNICOS DOS 23 ANOS DA FILA ARGENTINA

GERARDO TATA MARTINO
Desde agosto de 2014
Jogos:
 28 / Vitórias: 19 / Empates: 6 / Derrotas: 3
Aproveitamento: 75%
Melhor resultado: vice-campeão na Copa América 2015

ALEJANDRO SABELLA
De 2011 a 2014
Jogos:
41 / Vitórias: 26 / Empates: 10 / Derrotas: 5
Aproveitamento: 71,54%
Melhor resultado: vice-campeão na Copa do Mundo 2014

SERGIO CHECHO BATISTA
De 2010 a 2011
Jogos:
17 / Vitórias: 8 / Empates: 6 / Derrotas: 3
Aproveitamento: 58,82%
Melhor resultado: quartas da Copa América 2011 (campeão da Olimpíada de 2008)

DIEGO MARADONA
De 2008 a 2010
Jogos: 25 / Vitórias: 18 / Empates: 0 / Derrotas: 7
Aproveitamento: 72,00%
Melhor resultado: Quartas-de-final da Copa do Mundo 2010

ALFIO COCO BASILE
De 2006 a 2008
Jogos: 28 / Vitórias: 14 / Empates: 8 / Derrotas: 6
Aproveitamento: 59,52%
Melhor resultado: Vice-campeão da Copa América 2007

JOSÉ PÉKERMAN
De 2004 a 2006
Jogos: 28 / Vitórias: 15 / Empates: 7 / Derrotas: 6
Aproveitamento: 61,90%
Melhor resultado: Vice-campeão da Copa das Confederações 2005

MARCELO LOCO BIELSA
De 1999 a 2004

Jogos: 85 / Vitórias: 56 / Empates: 18 / Derrotas: 11
Aproveitamento: 72,94%
Melhor resultado: Vice da Copa América 2004 (campeão da Olimpíada de 2004)

DANIEL PASSARELLA
De 1994 a 1998
Jogos: 57 / Vitórias: 33 / Empates: 13 / Derrotas: 10
Aproveitamento: 65,49%
Melhor resultado: Vice-campeão da Copa das Confederações 1995


Defesa brilha mais que badalado ataque: sofre gol apenas a cada 193 minutos
Comentários 2

Tales Torraga

O ataque é sim irresistível. Três dos seis maiores artilheiros da história da seleção argentina estão em atividade: Messi (primeiro), Agüero (quarto) e Higuaín (sexto).

(E o Brasil lamentando a safra atual…)

Mas a defesa, discreta e muitas vezes questionada, é tan perfecta que asusta.

A Argentina sofreu só 9 gols em 18 jogos válidos pela Copa do Mundo 2014, Copa América do ano passado e Copa América atual. Marcou 36. Saldo positivo de 27.

A comparação com o Brasil é cruel.

Em 18 jogos, sofreu menos gols (nove) que a seleção brasileira (dez) em exatos dois, 7×1 Alemanha e 3×0 Holanda – que, juntas, fizeram único gol na Argentina.

A eficiência defensiva argenta é ainda maior em partidas eliminatórias, daquelas em que um golzinho, uma mísera falha qualquer, manda a seleção para a casa.

Nas três Copas, 9 jogos do tipo e só 3 (!) gols sofridos – o mais sofrido deles, na decisão do Mundial, no minuto 113 dos 120 de jogo contra a Alemanha.

A Argentina está também invicta no tempo normal desses 18 partidos coperos.

Além da prorrogação contra a Alemanha no Maracanã, caiu só nos pênaltis ante o Chile na Copa América em Santiago.

Dos 18 jogos, manteve o arco sem ser vazado em 11.


Contando também as prorrogações (Suíça, Holanda e Alemanha no Mundial e Chile na Copa América), um gol sofrido a cada 193 minutos = dois jogos + 13 minutos.

A defesa mudou nesses dois anos. Do Brasil 2014 ficaram o goleiro Sergio Chiquito Romero e o lateral-esquerdo Rojo. Os zagueiros no Mundial, por exemplo, foram Demichelis e Garay. Hoje são Otamendi e Funes Mori. Em 2014 e no Chile, o lateral-direito era Zabaleta. Hoje é Gabriel Mercado, do River Plate.

Incrível também a contenção dos volantes. Mascherano é um notório incansável. E tem encontrado sócios à altura no trio Biglia, Banega e Augusto Fernández.

Chile, Panamá, Bolívia, Venezuela e Estados Unidos são adversários fracos?

O Brasil não passou de fase com Peru, Haiti e Equador, é a resposta argentina.

As campanhas:

COPA DO MUNDO 2014 (8 GP, 4 GC, saldo +4)
Primeira fase: 2×1 Bósnia, 1×0 Irã, 3×2 Nigéria
Oitavas: 1×0 Suíça (prorrogação)
Quartas: 1×0 Bélgica
Semifinal: 0x0 Holanda (4×2 nos pênaltis)
Final: 0x1 Alemanha (prorrogação)

COPA AMÉRICA 2015 (10 GP, 3 GC, saldo +7)
Primeira fase: 2×2 Paraguai, 1×0 Uruguai, 1×0 Jamaica
Quartas: 0x0 Colômbia (6×5 nos pênaltis)
Semifinal: 6×1 Paraguai
Final: 0x0 Chile (4×1 nos pênaltis)

COPA AMÉRICA 2016 (18 GP, 2 GC, saldo + 16)
Primeira fase: 2×1 Chile, 5×0 Panamá, 3×0 Bolívia
Quartas: 4×1 Venezuela
Semifinal: 4×0 Estados Unidos
Final: ? Chile

Total: 36 gols pró, 9 gols contra, saldo de +27

Domingo, às 21h, a ver se finalmente 'La tercera es la vencida', como na genial propaganda lançada ontem pelo canal de TV TyC Sports.

Si no se te eriza la piel, andá al médico, loco.


Buenos Aires celebra 30 anos do eterno Argentina x Inglaterra de Maradona
Comentários 2

Tales Torraga

A vida é feita de emoções, se diz em Buenos Aires como tantos outros lugares. Escuta-se na capital portenha também que a 'mais violenta delas' ocorreu há exatos 30 anos. Impossível ser mais feliz que na vitória contra a Inglaterra em 1986, falam.

A quarta-feira bonaerense está forrada de referências ao 22 de junho, dia em que Maradona deixou de ser um jogador de futebol para virar um novo San Martín ao humilhar a Inglaterra que em 1982 matara 649 argentinos na Guerra das Malvinas.

O jornal ''Olé'' de hoje traz um suplemento especial – de 20 páginas! – e uma foto produzida de Maradona com o neto Benjamin beijando a réplica da Copa do Mundo.

(Foram espertos demais porque pegaram no exato ponto fraco do vovô Maradona)

Metrôs e ruas têm anúncios e trechos da sensacional autobiografia de Maradona, livro argentino mais vendido deste mês. Esta é a estação Agüero, linha D, Recoleta.

Vale muito ler a entrevista do autor, Daniel Arcucci, ao jornal espanhol ''El País''.

Há uma ótima cobertura no Twitter sincronizada com 30 anos atrás, a @86mundial.

Trechos do livro de Maradona estão no @diegomundial86.

Detalhes como a camisa daquela tarde, feita à mão, são contados em minúcias.

A reminiscência é tão forte que mesmo jornal não especializado como o ''La Nación'', o segundo mais lido do país, dedica capa do caderno esportivo à data.


Apenas aquele jogo também virou livro: El Partido, de Andrés Burgo. É fantástico, e antecipamos trechos na semana do lançamento. Virou um inesperado relato sobre a memória afetiva pessoal e cultural de uma Argentina então devastada pela dor.

Os ingleses também lançaram, em vídeo, um olhar próprio e atual sobre o jogo.

Dos melhores escritores (em país repleto deles) da atual geração, Eduardo Sacheri, autor do roteiro de 'O Segredo dos Seus Olhos', publicou também suas memórias daquele dia. Estão aqui. Aula de talento e sensibilidade. Um Maradona das letras.

Ezequiel Fernández Moores, dos principais jornalistas esportivos da Argentina, também oferece seu olhar e conta que Asif Kapadia, o cineasta de Ayrton Senna e de Amy Winehouse, fará o mesmo com as ''genialidades e debilidades'' de Diego.

Como 11 de setembro, o jogo é a senha para engatar um papo sobre onde estávamos naquele dia e hora. Aqui, famosos do futebol da Argentina contam.

Convém ver este trecho do documentário produzido especialmente para a data.

Genial também a produção que mostra a emoção das pessoas, inclusive Diego hoje em dia, com a narração épica de Victor Hugo Morales no segundo gol del Diez.

A análise jornalística e fotográfica da data gerou mesa-redonda na TV Pública.

E um clipe de Maradona em 1986 com a música 'Alegría a mi corazón', de Fito Páez.


Diga 55: em dia especial, artilheiro Messi atinge número mágico de Maradona
Comentários Comente

Tales Torraga

Tradição mantida. A Argentina nas semifinais da Copa América arrasa as adversárias, e em Houston não foi diferente: 4×0 nos EUA. No ano passado havia sido 6×1 no Paraguai. E 3×0 tanto na Colômbia (2004) quanto no México (2007).

A dificuldade é a final. Perderam as três. Duas para o Brasil e a outra para o Chile.


Até lá, vão celebrar o novo feito de Messi, agora 55 gols e artilheiro isolado da história da seleção argentina. Um golaço de falta no ângulo do americano Guzan.


Buenos Aires foi dormir com a sensação de que Messi está aniquilando os argumentos 'maradonianos' que desvalorizam suas atuações com a seleção.

À vontade como nunca com a linda camisa 2 argentina, Messi pôs um picante nesta discussão com um detalhe que mostra duas coisas. Uma: como os argentinos são detalhistas. Dois: como gostam de discutir por qualquer coisa com ênfase e paixão.

(O trenzinho ianque foi logo comparado ao belga em Maradona na Copa de 1982)

O gol 55 de Messi doeu ainda mais nos 'maradonianos' porque 55 é um número caro a eles. Quase uma senha especial para fazer parte de uma seita. Um: 55 é a atual idade de Diego. Dois: 5+5 = 10, seu número histórico. Três: Foram 55 metros percorridos por ele no famoso Gol do Século contra os ingleses que saiu aos…(Quatro:) 55 minutos dos 90 de jogo daquela épica quartas-de-final no México 1986.

A ascendência de Diego na atual seleção está clara na homenagem de Lavezzi, que comemorou o gol que abriu o placar no estilo Maradona contra a Grécia em 1994.

Para ajudar no debate, e na loucura que tomará conta da capital boleira que será Buenos Aires até a decisão de domingo, este partidazo histórico de Maradona frente a los ingleses completa exatos 30 anos nesta quarta-feira (22).


Bom reforçar: assim como no ano passado, quando perdeu para o Chile de Sampaoli, a Argentina de novo decidirá a Copa América contra um técnico do país.

Ou a Colômbia de José Pékerman ou de novo o Chile comandado agora pelo rosarino (como Martino) Juan Antonio Pizzi.


Maradona e Messi choraram por Klinsmann, carrasco que hoje revê a Argentina
Comentários 3

Tales Torraga

Se Carlos Drummond de Andrade fosse argentino, nesta terça (21) diria que ''no meio do caminho do fim da fila tinha um carrasco, tinha um carrasco no meio do caminho para sair da fila''. E este carrasco é Jürgen Klinsmann, técnico dos EUA.

Mais que especial semifinal de Copa América contra os emergentes donos da casa, o EUA x Argentina das 22h em Houston com 70 mil ingressos vendidos é a chance de um acerto de contas histórico contra o homem que fez Maradona e Messi chorar.

Hoje com 51 anos, Klinsmann era atacante e principal jogador da Alemanha campeã do mundo em cima da Argentina na Copa de 1990 na Itália. Sofrera falta feia de Monzón que deixara a rival com dez em campo e iniciou o lance do polêmico pênalti assinalado pelo mexicano Edgardo Codesal em Völler. Gol de Brehme. 1×0.

Tão chegada em teorias da conspiração quanto o Brasil, a Argentina até hoje vê aquela decisão como grotesca manipulação por eliminar a anfitriã Itália na semifinal.

Anfitriã na semifinal, exatamente o cenário desta noite.

Em seu livro de memórias da Copa de 1986 recém-lançado, Maradona detalhou a conversa que teve na véspera da final com Julio Grondona, então presidente da AFA, a Associação de Futebol Argentino, dizendo que a decisão estaria comprada.

Isso justificava seu choro desesperado na premiação depois da partida.

Klinsmann voltou à rota argentina 16 anos depois, no Mundial da Alemanha em 2006, na condição de técnico da seleção da casa – de novo a situação de hoje.

Eram as quartas-de-final. E a Alemanha venceu nos pênaltis depois do machucado e a saída no tempo normal do goleiro Pato Abbondanzieri, especialista em penais. Entrou Leo Franco, incapaz de defender uma cobrança alemã sequer.

Aquele jogo terminou com briga apartada por Klinsmann. Re caliente, a Argentina viu provocação na comemoração alemã e Cufré, Coloccini e Maxi Rodríguez foram para cima e trocaram golpes de puño com os adversários. Vergüenza.


Messi não saiu do banco de reservas naquela tarde em Berlim. Seu choro no vestiário é lembrança marcante em quem o viu depois da partida. Tinha só 19 anos.

De novo de camisa azul, de novo em jogo eliminatório, de novo enfrentando Klinsmann, verdugo alemão, como técnico anfitrião.

Nova, também a duração da fila: 23 anos sem títulos.

Terça-feira histórica que já está sendo vivida a pleno em toda a Argentina futbolera.