Patadas y Gambetas

Retratos dos selvagens: Casa Argentina é fechada ao público depois de briga
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Tales Torraga

Do RIO DE JANEIRO*

Foi de dentro da Casa Argentina que vimos a épica vitória de Juan Martín del Potro sobre Novak Djokovic – maior momento argentino nesta e nas últimas Olimpíadas.

Era domingo à noite.

Del Potro voltou à quadra na segunda-feira no já famoso jogo paralisado pela briga de um torcedor argentino com um brasileiro.

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Casa Argentina, espaço de autopromoção – Foto: CAROL YADA

Ontem, terça (9), a Casa Argentina – nos arredores do Parque Olímpico da Barra, coração dos Jogos – já estava fechada ao público e só permitindo convidados.

Os responsáveis pelo espaço despistam sobre a ligação dos fatos, mas a ordem dos acontecimentos dificulta qualquer raciocínio diferente do resquício pós-briga.

Na noite de domingo, convidavam e acolhiam os brasileiros, como mostra a foto.

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Cena que deveria ser habitual: Casa Argentina, sorriso brasileiro – Foto: CAROL YADA

Convenhamos: o que há de especial em convidar e acolher brasileiros no Rio?

Espaço de autopromoção que existe, entre outras funções, para gerar negócios bilionários, a casa é modesta e gasta o clichê tango + Obelisco + doce de leite.

Não cita Messi, não cita Borges, não diz ao mundo que a Argentina é intelectualizada e efervescente – até por isso, tão apaixonante.

A casa só informa que os Jogos da Juventude de 2018 serão em Buenos Aires.

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Cartaz dos Jogos da Juventude de 2018 em Buenos Aires – Foto: CAROL YADA

Mas para quem se, na maior vitrine mundial chamada Olimpíada, ela está fechada e nem consta na lista oficial das casas temáticas a ser visitadas?

Brasil, mostra tua cara?

Argentina, mostra tua casa.

* Informações de Carol Yada. Coordenadora de eventos e jornalista, integra a organização do tênis da Rio-2016. Trabalhou em eventos também na Argentina


Brasil x Argentina = Ctrl/C + Ctrl/V
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Tales Torraga

''Na Argentina predomina o 'pensar com o coração'.

O povo vota 'com o coração'.

Pensa 'com o coração'.

Para pensar, usa mais coração que cérebro.

Não porque o coração é grande.

Sim porque o cérebro é naturalmente pequeno.

Aí surge tudo.

Todos os problemas.

Racionalmente, ninguém odiaria outra pessoa por pertencer a outro país.

Nem justificaria por este país seu amor.''
yo

''O mais interessante é que, nesta discussão aqui no Rio, não passa nada.

Não há este clima de guerra. Só casos isolados.

Mas sabemos que o argentino na Copa e na Olimpíada agride chilenos, alemães, nigerianos e outros.

A briga não é só com os brasileiros.''
FACUNDO FRANSANDRO

''Os brasileiros e argentinos são inimigos naturais. Como argentinos e chilenos, argentinos x uruguaios, argentinos x mexicanos.

Argentinos = peruanos…

Malditos argentinos! Arruinaram a Argentina!

Ctrl/C + Ctrl/V!''
BLAS RATTÍN

''Éramos um país europeu na América e isso despertou toda a inveja da América Latina. Hoje, lamentavelmente, essa Argentina europeia foi invadida pelas medíocres nações latinas que trouxeram a ignorância, a delinquência e a mediocridade ao país.

Não perco as esperanças de voltar a ser o país europeu econômico e cultural que soubemos ser antes disso.''
RICARDO BASSET

''Irmãos, sejam unidos
Tenham união verdadeira
Essa é a lei primeira
No tempo que seja

Porque se pelejam,
Te comem os de afuera.''
DIEGO PÁZ

''O argentino é assim. Em um passado distante, foi um país importante.

Mas hoje é um país pobre. Invisível e sem importância.

E o Brasil, mesmo em crise, é a potência da região.

O país mais rico e importante.

O que está no centro do planeta.

Isso incomoda o famoso EGO argentino.

Provoca a inveja inconsciente.

E também o complexo de inferioridade.''
JUAN MARTÍN PEREZ

''Não são inimigos naturais, não existe tal natureza.

Se fosse assim, eu, argentino, deveria odiar naturalmente um brasileiro, um uruguaio, um mexicano.

E eu não odeio ninguém. De verdade.''
yo

''Depois do futebol, que sem dúvida é a primeira paixão, o esporte preferido dos latino-americanos é a guerra entre vizinhos.''
EDUARDO GALEANO

Senna e Fangio tocam as mãos em museu na Inglaterra: P.A.Z!


Argentina assume sua culpa, mas prevê: brigas entre torcedores só começaram
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Tales Torraga

Um papelão. É desta forma que o sempre irônico jornal ''Olé'' define a briga entre torcedores do Brasil e da Argentina. As piñas na tribuna pararam a partida de tênis desta segunda (8) vencida por Juan Martín del Potro contra o português João Sousa.

O diário editado em Buenos Aires não transfere culpa: reconhece que ela é também argentina, cuja torcida insiste em adotar tom hostil – 'somos locales otra vez' – e lembrar, em toda e qualquer modalidade, do 7×1 da Alemanha na Copa do Mundo.

Argumenta o ''Olé'': se a Olimpíada fosse na Argentina, aconteceria o mesmo com os visitantes brasileiros. O jornal pede tranquilidade nas competições que estão por vir.

Maior diário da Argentina, o ''Clarín'' segue tom mais dramático: ''A relação está prestes a explodir a qualquer momento. Há muita bronca acumulada pela Copa''.

Todos os meios argentinos cobrem esta Olimpíada com equipes recordes. Uma das razões é a inédita proximidade da sede olímpica com a Argentina. A outra é também óbvia: o enorme espaço no noticiário para o perigoso ranço atual Brasil x Argentina.Mais erudito, o ''La Nación'' traz excelente artigo do jornalista e escritor Sebastián Fest. Retrata o tom crítico incorporado pelos argentinos para tratar deste bochorno.

Trechos:

Quer dizer que a vaia na abertura dos Jogos no Maracanã está bem, que é preciso aceitar esta agressividade local no tênis e em outros cenários olímpicos?

Ou que tantas trapaças na Copa Libertadores podem ser esquecidas?

Não, simplesmente quer dizer que, enquanto não passe a maiores, nós, argentinos, precisamos aguentá-las.

E aproveitar o tempo para lembrar como em 2001 afogamos em vaias durante as cinco partidas de Córdoba os brasileiros que jogaram o Mundial de Futebol Sub-20.

Podemos refletir sobre se de verdade nos orgulha aquela garrafa bilardista de 1990 com água que não era água, talvez analisar cada linha do absurdo histórico do 'Brasil, decime qué se siente' e admirarmos, por que não?, como foram pacientes os irmãos brasileiros naquele Mundial.

A cada tanto também podemos nos perguntar se não os terá incomodado aquela manchete de já muitos anos, ''Que venham os macacos''.

Feitas essas reflexões, e se ainda nos resta tempo, podemos nos enojar.


Atualizada às 13h52:
 a organização da Olimpíada lançou campanha pedindo paz entre os países. Os governos federais estudam como também interferir no assunto.

Se a rivalidade servisse para desenvolvimento socioeducacional, Brasil e Argentina seriam Canadá e Austrália. Mas não. A rixa só embrutece e empobrece. Muy triste.


Ciúme, pânico e depressão. Del Potro vence as trevas e ilumina a Olimpíada
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Tales Torraga

Juan Martín del Potro era pibe de 19 anos quando, de um dia para o outro, surgiu como astro e primeira raquete de uma Argentina que ama o tênis como só ela sabe.

Com a parte de dentro das vísceras.

Del Potro desde cedo foi um cavalo jogando tênis.

Desmontou a jerarquia de David Nalbandian – que o culpou publicamente pela derrota na final da Copa Davis de 2008 em Mar del Plata, dos eventos esportivos mais bizarros da história de uma Argentina onde bizarrices brotam a cada game.


(Quem quer conhecer melhor essa derrota – e os porões humanos, esportivos e argentinos – tem aula de sensibilidade nos livros 'Enredados' e 'Maldita Davis'.)

Del Potro, óbvio, não estava preparado para o que viria.

Talvez seja mesmo impossível se preparar nos limites da razão para, com 20 anos, varrer Rafael Nadal (semifinal) e Roger Federer (final) em sequência e ser campeão do US Open de 2009. Que pendejo insoportable, che!

Delpo, a Torre de Tandil, só ganhou este Slam, mas dava a certeza de assumir o número 1 do mundo em questão de dias. E em embate direto com dois dos maiores da história. Era o número quatro. Jogava melhor (às vezes muito melhor) que o um.Mas desmoronou de fato como uma torre. Tudo por conta de uma munheca. Impossível amassar a bola como ele amassava sem amassar também o corpo.

Vieram sucessivas cirurgias e longas pausas na carreira.

E com dois selos argentinos indesejáveis e neurastênicos.

O primeiro foi o escrutínio incessante da sua vida pessoal.

Seus relacionamentos ganharam detalhes cada vez mais sórdidos na mídia.

Foram publicadas também pesadas histórias que citavam suas depressões decorrentes da lesão e a síndrome do pânico que justificava tamanho afastamento.

Tudo isso foi fast food em discussões intermináveis nos bares e nos cafés.

Em vez de o acolher, a sociedade portenha em geral passou a infernizá-lo como um apátrida sem coração. 'Pecho frio!' ou, ainda pior, 'Es para Delpo que lo mira por TV'.(Buenos Aires, com sua bipolar cultura de saber tudo sobre tudo, é o paraíso de quem deixa a vida para debater tênis – ou turfe, ou xadrez, ou a boludez que for – com uma erudição e um fervor que jamais notei em nenhum outro lugar do mundo.)

A Copa Davis perdida foi também uma deficiência na sua relação com a torcida. Tudo porque para o argentino é impossível amar dois. Ou é Messi ou é Maradona.

Ou Nalbandian ou Del Potro. Ou Vilas ou Clerc.

Ou é Soda Stereo ou é Indio Solari.

Terrible.

Por isso, no domingo carioca, com a bandeira argenta sobre o coração, e com uma torcida enlouquecida que fez de Jacarepaguá um pedaço da calle Olleros e do mítico Buenos Aires Lawn Tennis Club, Delpo viveu a maior noite de sua vida.

Uma vida que, reconhece, passou a administrar no conta-gotas.

''Não sei do amanhã'', repete a cada vez que abre a boca.

Se soubesse, se recusaria a acreditar que aniquilaria Novak Djokovic, vencedor de seis dos últimos oito Grand Slams, com uma mão só (!), porque seus já épicos palazos de forehand escondem também a total inoperância do backhand.

Se soubesse, não levaria a sério que teria a chance de enterrar seus fantasmas, os que atormentam também Messi, os fantasmas que impedem de tomar os corações do público mais exigente e passional do mundo, brilhante e cruel, que não mede esforços para berrar 'Vamos Argentina carajo viejo nomás' e morder com igual fúria.

Se não importa o amanhã, Vive y dejá vivir y no te vas a arrepentir, Delpo.

Nosotros te queremos. Sos un fenómeno.


Pouca bola e muita raça: Argentina sobrevive na base da ‘sujeira’
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Tales Torraga

Estava 0x0 no intervalo e a torcida argentina em Buenos Aires – com um jogador a menos, o capitão Cuesta levara o vermelho no finalzinho do primeiro tempo – lembrou o que o técnico Vasco Olarticoechea falou antes de enfrentar a Argélia: ''Se der errado, volto para minha cidade [Saladillo] para continuar entregando torta''.

(Era esta sua função pré-olímpica. Mulher e filha cozinham. Ele pilotava o delivery.)

Aí a Argentina no segundo tempo fez o que sabe como nenhuma outra. Aquilo que o Chile adotou também com maestria na última final da Copa América para ser campeã e sobreviver ao susto da expulsão de Díaz.

Empezó a ensuciar el partido. Começou a sujar o jogo.

O Engenhão passou a ver o Campeonato Argentino.

Patadas y trabadas. Nada de espírito olímpico.

Assim, a Argentina chegou ao 1×0 com Correa logo aos 2 minutos.

Tevez com a bola na bandeirinha do escanteio no fim da Copa América 2004?

Pavón fez isso no Engenhão no começo (!) do segundo tempo. Cera é pra fracos.

A tática foi insuficiente. Levou o empate aos 19 minutos.

O jogo sujo, travado e catimbado rendeu a expulsão de um zagueiro da Argélia que chutou a cara de Pavón (adivinhe quem…) aos 22.

(Deu até para lembrar do Kaiser Passarella: ''Se o juiz deixar, o argentino reescreve as regras do futebol em pleno jogo''.)

Aí Calleri, o goleador refinado, artilheiro da Libertadores, na tônica da partida, na pura trombada, definiu o placar com o 2×1 depois de dividir com o goleiro.

A Argentina chega à última rodada desclassificada.

Precisa ganhar sí o sí. E sem seu capitão, Cuesta, zagueiro do Independiente, um dos dois únicos acima dos 23 (o outro é o goleiro Rulli).

Honduras, segunda colocada, está melhor no saldo de gols e joga pelo empate e com toda torcida a favor às 13h de quarta em Brasília.

A Argentina está em dívida com o bom futebol até aqui.

Sobreviveu a hoje. Foi uma Peste Blanca, como perfeitamente ilustraram as duas faixas penduradas pela torcida atrás da trave na qual saíram os gols.

Mas quando o assunto é 1) hombridade, 2) rebeldia frente à derrota e 3) pôr o coração e tudo o mais em campo, inclusive o que tem de ruim, é 1-2-3 no pódio.


Gafes marcam apresentação de Bauza na Argentina
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Tales Torraga

A melhor seleção do mundo segundo o ranking da Fifa enfim acordou com um treinador. Exatamente um mês depois da demissão de Tata Martino, Edgardo Bauza foi apresentado na noite desta sexta (5) no prédio da AFA em Ezeiza, colado ao aeroporto internacional de Buenos Aires.

Bauza estava emocionado. Repetiu o que vem dizendo desde a nomeação. Conta com Messi para o bem de todos. Mas deixou escapar, ante as inúmeras perguntas, que vai ''tentar convencê-lo'' a voltar.

Não é bem o que Patón vem falando nos últimos dias.

Compreensível ato falho decorrente de emoção e cansaço. Patón trocou a sisudez por sorrisos. Está diante de uma chance única na vida sempre dedicada ao futebol.

''Lo más importante es estar acá, con este buzo, es lo más valioso'', reforçando que até agora sequer falou de dinheiro com os dirigentes da AFA.

Bauza transmite a seriedade mais que esperada – e sim exigida pelos argentinos.

O momento é parecido com o brasileiro na conduta dos atletas. A Argentina rejeita com fúria – principalmente os portenhos, ácidos como nunca nas últimas décadas – o que o Brasil chama de 'geração ostentação'.

Está fula com posturas como as de Lavezzi, que parece jogar na Seleção como mero adorno de suas micagens nas redes sociais.

Mais futebol e menos Instagram, exigem.

A Argentina clama por animais competitivos como Funes Mori, zagueiro criado no River e apreciado até pela torcida do Boca. Tudo por dizer e repetir que, para ganhar, vai até arrancar a cabeça do adversário se precisar.

Menos, pibes.

Bauza jogava com a 6. Recebeu a 5 / Mauro Alfieri – LA NACIÓN

Outra gafe cometida na apresentação de Bauza foi a entrega de uma camisa com seu nome e o número 5. Bauza jogou a vida toda com a 6.

Seria como fazer o contrário com Dunga – clássico 8 e ser apresentado com uma 6.

Ou dar a 10 a Tite, outro histórico camisa 8.

Patón com a 6 em capa da revista El Gráfico em 1980. Ao seu lado, Amuchastegui, do Racing

No pasa nada. A Argentina sempre bipolar agora está feliz com Bauza. E excelente termômetro são os elogios a ele que vêm de Don Diego Armando Maradona.

Não ser metralhado por Maradó, muchachos, créanme, é a maior prova de carisma possível de se obter na Argentina.

Suerte, Patón! Ojalá salga todo bien!


Derrota põe fim à invencibilidade argentina de 20 anos em Olimpíadas
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Tales Torraga

A desastrosa estreia da Argentina na Olimpíada representou mais que uma derrota por 2×0 para a apenas modesta seleção de Portugal. Foi também o fim de uma invencibilidade de 20 anos e 12 partidas em Jogos Olímpicos.

A última derrota argentina na competição havia sido a final da Olimpíada de 1996, um 3×2 para a Nigéria com gol aos 43 do segundo tempo. Desde então, só vitórias com duas campanhas com 100% de aproveitamento e ouro em 2004 e 2008. A Argentina não disputou os Jogos nem em 2000, nem em 2012.

12 jogos, 12 vitórias, 28 gols pró e só 2 gols contra. Uma série e tanto. Se terminó.

(Dado incrível: a então última derrota argentina em Olimpíada ocorreu com Diego Simeone em campo. Nesta quinta, foi a vez do seu filho, o atacante Giovanni.) 

Faltou tudo à Argentina de Calleri e Olarticoechea nesta quinta (4) no Engenhão. Não foi um resultado circunstancial, e sim gerado nas deficiências claras do time.

Tão atípica, a vitória portuguesa se consolidou aos 36 minutos do segundo tempo com uma bola que passou fraca por entre as pernas de Rulli, o bom goleiro que salvou a Seleção no primeiro tempo e que era apontado como garantia de eficácia.

Em bom português: foi um frangaço.

O sinal de otimismo veio de Pavón, hoje talvez o melhor atacante em atividade no futebol argentino. O companheiro de Tevez no Boca demonstrou mobilidade e pasta para ser titular no próximo encontro, domingo, às 18h, contra a Argélia. Uma nova derrota pode representar a eliminação argentina já na primeira fase.

As fáceis críticas a Olarticoechea não foram tão acintosas desta vez. Reconhecem que ele armou um time com o que tinha – muitos astros estão fora – e que a preparação foi precária. A Argentina confia que a Seleção desta vez vá de menor a maior. Evoluirá no decorrer.

As más estreias de Argentina e Brasil podem fazer com que ambas se encontrem na semifinal, e não na decisão. Sim, é cedo, mas para que isso ocorra o passo inicial já foi dado nesta surpreendente quinta – uma avançar como primeira no seu grupo e a rival se classificar na segunda colocação.

A Argentina jogou com Gerónimo Rulli; Lisandro Magallán (Pavón), Lautaro Gianetti, Víctor Cuesta e Alexis Soto; José Luis Gómez, Santiago Ascacibar e Mauricio Martínez; Cristian Espinoza (Lo Celso) e Ángel Correa (Simeone); Jonathan Calleri.


Cinco razões para prever (e temer) o ouro da Argentina no futebol masculino
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Tales Torraga

A sempre forte Argentina abre hoje sua campanha no futebol masculino, a mais esperada pela torcida do país na Rio-2016. Enfrenta Portugal às 18h no Engenhão.

Encara pelo Grupo D ainda Argélia (domingo) e Honduras (quarta).

É uma Argentina menos brilhante que os times de ouro de 2004 e 2008 – que tinham, para ficar só em três nomes, Messi, Tevez e Riquelme.

Mas conta com talentos já valorizados entre os adultos, como o zagueiro Cuesta (Independiente), o meia Lo Celso (PSG) e os atacantes Pavón (Boca), Correa (Atlético de Madri) e Calleri (artilheiro da Libertadores pelo São Paulo).

É time para chegar à decisão do dia 20 e brigar pelo ouro contra o Brasil no Maracanã. Seria épico. Cinco razões para acreditar no avanço argentino até lá:

NOVO 'PATO'. Esta Argentina conta com aquele que é apontado como o melhor goleiro do país desde Ubaldo Fillol: Gerónimo Rulli, ex-Estudiantes, hoje na Real Sociedad. Tem 1m89 e 24 anos (ele e o zagueiro Cuesta, os únicos acima de 23).

20 ANOS SEM PERDER. Incrível: a última derrota argentina no futebol olímpico foi a final de 1996 (!) com gol da Nigéria aos 43 do segundo tempo. São 12 jogos e só vitórias – e ante rivais como Itália, Holanda e Brasil. Não disputou 2000 e 2012.

HUMILDADE. Esta Argentina está cerrada como raras vezes se viu no país. Até profissionais de limpeza, cozinha e segurança participaram de entrevistas coletivas. O grupo se fortaleceu nas muitas dificuldades. Nada (nada mesmo) mais argentino.

CABEÇA TRANQUILA. A missão argentina nesta Olimpíada é mais que conhecida: estragar a festa brasileira como no 3×0 e baile de 2008. Se o Brasil joga aflito pelo inédito ouro (e pelo eterno 7×1), a Argentina está pronta para ser a nova algoz.

TORCIDA. Os argentinos serão os estrangeiros em maior número no Rio. E como as chances de medalha em outras modalidades são reduzidas, a bagunça ficará toda no futebol. Levar o ouro em pleno Maracanã? Vai valer por uma Copa do Mundo, .

OS OUROS DA ARGENTINA NO FUTEBOL OLÍMPICO

ATENAS-2004

1ª fase: 6×0 Sérvia, 2×0 Tunísia, 1×0 Austrália
Quartas-de-final: 4×0 Costa Rica
Semifinal: 3×0 Itália
Final: 1×0 Paraguai


Time:
Lux; Ayala, Coloccini e Heinze; Mascherano, Kily Gonzalez, D'Alessandro e Lucho Gonzalez; Delgado (Clemente Rodriguez), Tevez e Rosales.
Técnico: Marcelo Loco Bielsa.

PEQUIM-2008

1ª fase: 2×1 Costa do Marfim, 1×0 Austrália, 2×0 Sérvia
Quartas-de-final:
1×1 Holanda (1×0 na prorrogação)
Semifinal:
3×0 Brasil
Final:
1×0 Nigéria

Time: Romero; Garay, Monzón, Zabaleta e Pareja; Gago, Mascherano, Riquelme (Sosa), Di Maria; Messi (Lavezzi) e Agüero (Sosa). Técnico: Sergio Batista.

'Ouro em pó', já cantava em 1987 Federico Moura, vocalista do grupo de rock Virus, um dos maiores de todos os tempos. Que voz! E como sabia das coisas…


Seleção já conta com a volta de Messi
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Tales Torraga

Lionel Messi vai voltar à seleção argentina no máximo em 2017. Apuramos que é com esta previsão que trabalha a comissão técnica comandada por Edgardo Bauza.


Bauza e Messi vão se encontrar na semana que vem em Barcelona. Jamais conversaram pessoalmente. Será a primeira viagem de Patón no novo cargo e sua reverência ao atual capitão da Seleção vai ser notada tanto no deslocamento quanto na sua forma típica de trabalhar: cara a cara, com discrição e sem intermediários.

Messi será o primeiro a se encontrar pessoalmente com Bauza. Depois – só depois, Patón reforça – vai se reunir também com os outros que pretende ter próximo de si.

Dois deles são Mascherano e Higuaín.

Bauza já deixou claro como pretende levar Messi – com a máxima maturidade possível: ''Não vou convencê-lo de nada'', repete. Patón preza pelo trato adulto e descarta paternalismos. O conquistado em campo é respeitado. Jamais adulado.

Jogadores e dirigentes que trabalharam ou trabalham com Bauza o definem como um 'sedutor profissional'. Em bom castelhano, 'un tremendo chamuyero'.

Ressaltam que lhe sobra poder de vestiário. Se está no cargo é muito mais pela sua persuasão sobre Messi do que por qualquer ideia sofisticada de futebol.

Há dois ótimos exemplos de como Bauza entende e maneja bem a cabeça do atleta. Quando ganhou a primeira Libertadores, ficou sozinho e estático no banco de reservas do Maracanã enquanto a LDU superava o Fluminense nos pênaltis.

Em 2014, pelo San Lorenzo, contra o Grêmio, foi ao vestiário antes mesmo da definição – também por pênaltis. ''Já ganhamos'', falava, ria e gesticulava.

Outra referência vinda do San Lorenzo é perfeita para mostrar por que as pessoas próximas a Patón cravam sem rodeios a volta de Messi à seleção argentina.

Bauza chegou ao Ciclón e encontrou pesada resistência dos jogadores. E saiu do time com o status de maior treinador da história. Justamente pela capacidade de convencer os atletas em prol do objetivo comum e então inédito, a Libertadores-14.

Foi esta, inclusive, a tática no casting que o colocou no comando da Seleção.

Bauza e Messi se uniriam também para pregar um bom exemplo. Newell's e Central vivem, de longe, a fase mais violenta da histórica rivalidade de Rosário. A conexão Lio/Patón seria uma missão de paz entre canallas y leprosos abraçada também pelo papa Francisco – fã de Bauza pela Libertadores do San Lorenzo do seu coração.

A volta de Messi à Argentina é trabalhada para ocorrer contra o mesmo Chile para o qual perdeu a Copa América e anunciou sua renúncia. A partida está marcada para março de 2017 em Buenos Aires, mas ir para Rosário seria perfeitamente oportuno.

Bauza antes comandará a Argentina em casa ante Uruguai (1.set), Paraguai (11.out) e Colômbia (15.nov). E fora contra Venezuela (6.set), Peru (6.out) e Brasil (11.nov). A agenda é estimada. As datas de outubro e novembro ainda vão ser oficializadas.


O choro que levou Bauza à Seleção
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Tales Torraga

Buenos Aires amanheceu muito fria – 4 graus, só o mate salva – e com uma ótima história de Edgardo Bauza para ilustrar sua escolha como técnico da Seleção.

Está na biografia lançada em abril e resgatada pela imprensa portenha.

Bauza foi à Copa de 1990 como último reserva.

Quase sempre de agasalho. Raramente vestido como jogador.

Hoje admite: a oportunidade foi seu primeiro estágio como técnico.

A Argentina perdeu aquela Copa para a Alemanha.

''Estávamos calados, caídos, sofrendo pelo pênalti [1×0 Alemanha depois de lance ilegal aos 40 minutos do segundo tempo admitido por Brehme, autor do gol].''

''Chorávamos. Havia muita reclamação ao juiz, algo muito típico nosso. Mas na verdade, no fundo, eu estava grande [32 anos] e já pensava quase como um técnico. O time se superou. Jogou a final sem Caniggia. E ainda esteve perto de ganhar.''

Bauza no banco argentino em 1983 – ARQUIVO / CLARÍN

''Ali, naquela Copa, tracei minha formação e meu futuro como treinador. Me serviu pela rebeldia argentina de querer ganhar sempre. Lembramos sempre dos jogos contra Iugoslávia e Brasil, que fomos muito mal e ainda assim passamos de fase.''

''Contra a Itália, rendemos um pouco melhor. O time parecia que caía aos pedaços, mas ressurgia pelo espírito que tem o argentino, algo que levei sempre para a vida.''

Está aí, clarito, o que deve se esperar da Argentina de Bauza.

Um time esforçado. Que saiba chorar, sofrer e vencer.

Líricos como Maradona e Kempes estão no passado.


Agora é a vez dos guarda-costas Bauza e Olarticoechea.

Atrás, na foto.

E hoje comandantes da seleção argentina principal e olímpica.