River x Boca: técnicos se desentendem e tornam final ainda mais tensa
Tales Torraga
Para quem acha o blog certas vezes exagerado e dramático – como se esta não fosse a principal maneira de se comunicar na Argentina -, convém publicar as primeiras frases da principal matéria de esportes do jornal ''La Nación'' que circula em Buenos Aires nesta terça-feira (4) fresquita e ensolarada:
''O River tem sangue nos olhos e a veia a ponto de explodir. Ainda que não tenha os seus protagonistas empunhando um microfone, a torcida já deixou isso claro no Monumental disparando contra a barra, a Conmebol e Mauricio Macri. E dois referentes também passaram a demonstrar isso: primeiro, o ''vem jogar'' do seu presidente Rodolfo D'Onofrio para o seu par Daniel Angelici, e logo Marcelo Gallardo, compungido em sua última conferência de imprensa.''
É este o clima do completo panorama assinado pelo jornalista Juan Patricio Balbi Vignolo. E em meio ao volume de hostilidades alertado ontem, pode-se acrescentar também a recente rixa surgida entre Marcelo Gallardo, técnico do River, e Guillermo Barros Schelotto, o comandante do Boca.
Embora ambos nunca tenham sido amigos, o respeito e os bons modos sempre prevaleceram na relação. Ela sempre pôde ser mais tensa do que de fato foi. Mas agora parece ter tomado um caminho totalmente contrário e irreversível.
O blog confirmou o que o ''La Nación'' publicou: Gallardo está realmente possesso com a postura de Schelotto. O comandante do River considera que a final só chegou à situação atual porque o clube de Núñez estendeu a mão e não quis ampliar os problemas esportivos do Boca naquele lamentável e agressivo sábado no Monumental. Caso o River se afastasse das dificuldades xeneizes, o título seria conquistado por WO, avaliam os dirigentes e também Gallardo.
A sensação de ''traição'' e ''facada pelas costas'' predomina com força pelo lado vermelho e branco. O River não consegue interpretar de outra maneira o seu gesto de solidariedade com os jogadores do Boca. As conversas frente a frente no gramado deixaram claro que a partida seria jogada em igualdade de condições. Mas o clube xeneize nem bem saiu do Monumental e correu para o tapetão.
Gallardo está ''mastigando bronca'', como dizem os argentinos. Mediante a sua recente tensão, quem o acompanha de perto não consegue imaginar um cumprimento entre ele e Schelotto no gramado do Santiago Bernabéu. Tudo totalmente diferente dos sorrisos e da cordialidade que caracterizaram a relação entre os dois desde os tempos de jogador.
A mudança de postura entre ambos os comandantes ficou clara nas últimas declarações. Enquanto Gallardo atacou com força a marcação da final em Madri (''Uma vergonha total''…), Schelotto foi condescendente (''Não me cabe opinar, a decisão está tomada e vamos trabalhar com ela.''). Um detonou; outro, acatou.
O ''La Nación'' é preciso na última constatação:
''O River tentará diminuir as suas tensões e os seus nervos para aproveitar ao máximo as suas condições. Ao mesmo tempo, Gallardo sabe que o sangue nos olhos será uma ferramenta a mais para tirar a energia necessária dos seus comandados em Madri. A mensagem é clara: Boca, Boca, Boca, é este o foco''.