Opinião: Centurión é o novo Garrincha
Tales Torraga
POR GUSTAVO VEIGA*
Ricardo Centurión é o novo Garrincha, o novo Houseman, o novo Best, mas não por sua condição futebolística, que ninguém questiona. E sim por sua vinculação com certos escândalos, com a sua vida privada passando a ser midiática. Ele faz a sua parte, exibindo-se com histrionismo, mas, os que deveriam cuidá-lo e não expor as suas debilidades, também fazem a sua.
E é muito pior.
Victor Blanco, o presidente do Racing, lhe dedicou algumas palavras: ''Ele tomou demais, são vícios, é preciso ajudá-lo''. Expôs, assim, as razões pelas quais Centurión não havia sido titular no jogo contra o Atlético Tucumán, pelo Campeonato Argentino. ''Blanco diz que quer me ajudar e me surpreende, porque não me está ajudando. Ele que me diga a sós'', respondeu o meia-atacante.
Se Centurión tiver um problema de adição ao álcool ninguém deveria – salvo ele mesmo – lembrá-lo, fazê-lo público, remarcá-lo para os meios de comunicação, sempre ávidos para descrever, sem pudor, as vidas privadas e alheias dos famosos. Os painéis de opinólogos seriais da TV são uma visão exacerbada deste circulo obsceno e de multidões do qual falava Dante Panzeri quando se referia ao mundo que rodeia o futebol. As pessoas ficam à espera de que alguma miséria transcenda o mundo do espetáculo – que, por supuesto, inclui o futebol.
Não é necessário explicar: o jogo é um grande negócio e se nutre desse tipo de histórias, baseadas em problemas privados, em condutas sociais que as vidas dos famosos transmitem com contundência.
É preciso cuidar de Centurión – como sugere -, mas não deixando-o exposto, como fez Blanco. Com o esclarecimento necessário de que não deveria cuidá-lo como uma mercadoria (pois é muito bom jogador e tem um valor alto de mercado). Centurión é, antes de tudo, uma pessoa. Com seus problemas, como qualquer mortal que pisa nesta terra. Mas com a diferença de que suas condições esportivas o colocam em um lugar de privilégio, mas também na corda-bamba mostrada pelos meios. Aí, desde sempre, alguém que se posiciona na frente de uma câmera, um microfone ou um computador vai estar disposto a denotá-lo pelo que faz fora do campo, e não dentro dele.
A vida privada dos famosos fatura extraordinários dividendos desde o fim do Século 19. Foi quando nasceu o conceito de imprensa amarela, por um forte debate jornalístico entre o jornal ''New York World'', de Joseph Pulitzer, e o ''New York Journal'', de William Hearst. Esses meios receberam acusações de outros por magnificar certas notícias e pagar aos seus entrevistados para conseguir uma exclusiva.
Centurión está exposto a essa lei da selva, tão grande como a Amazônia. Pediu para que se Blanco tenha algo a dizer sobre sua conduta, que o diga em particular. Não pediu muito. O restante, o que ele faz com seu mundo privado, vai seguir dependendo dele.
* A sensível mirada para o caso Centurión é do colega periodista Gustavo Veiga, do jornal ''Página 12'', que gentilmente nos autorizou a traduzir e publicar o seu ponto de vista. Quem quiser ler mais sobre seu trabalho (e vale a pena) deve conferir o seu site pessoal. Gracias totales, Veiga!