Patadas y Gambetas

Até onde vai este Boca galáctico e problemático?

Tales Torraga

O Boca Juniors volta à Libertadores às 19h30 desta quarta (8) para enfrentar o Libertad, do Paraguai, na Bombonera que deve esquentar a fria noite portenha neste agosto. ''Esquentar'' é um verbo apropriado ao torcedor do Boca que anda muy caliente de…nervoso. O clube conquistou quatro Libertadores em oito possíveis na década passada e desde 2007 não a ganha mais. Una piña fuerte.

Esta fila de 11 anos é um verdadeiro pesadelo para os xeneizes, que perderam espaço internacional para o River Plate e resolveram se reforçar com tudo. Nesta pausa para a Copa chegaram o atacante Zárate, o meia colombiano Villa, o central Izquierdoz, o goleiro Andrada e o lateral uruguaio Olaza.

Izquierdoz, Villa e Zárate, reforços do Boca com o presidente, Daniel Angelici – Boca/Divulgação

Não é mero ufanismo azul y oro: este Boca é uma verdadeira seleção, chamada de ''Dream Team'', ''Galácticos'' e muito mais por toda a Argentina. De fato, o clube tem elenco suficiente para montar dois times e meio de jogadores de elite para enfrentar qualquer equipe – incluindo as brasileiras.

Essa fartura, porém, se encaixa no velho dito ''tudo o que é em excesso faz mal''. Há uma verdadeira obsessão em torno da Libertadores e em torno das cifras despejadas em busca dela. Só neste último mercado de passes foram US$ 20 milhões em contratações – se somarmos as últimas três (2015, 2016 e 2018) Libertadores, todas sob o comando do mesmo presidente, Daniel El Tano Angelici, tal cifra decola para os US$ 65 milhões despejados em 38 reforços.

Em campo, pasó de todo. Exemplo 1: trocaram de goleiro quatro vezes  (Orión, Sara, Rossi e agora chegou Andrada). 2: formaram cinco duplas de zaga (Tobio, Cata Díaz, Torsiglieri, Insaurralde, Goltz e Magallán são alguns que jogaram). 3: A camisa 10 vagou entre Lodeiro, Tevez, Centurión e Cardona, que ainda não terminou de convencer.

O Boca que derrapa fora da Argentina fincou com força a sua bandeira no território local. Ganhou três Campeonatos Argentinos desde 2015 e comemorou outro ''tricampeonato'', seu terceiro balanço consecutivo de superávit.

A pressão está toda sobre o técnico Guillermo Barros Schelotto, no cargo desde março de 2016. Os bons jogadores brotam mesmo por todos os lados: Pavón, Barrios, Magallán, Nandez e Benedetto têm futuro europeu e devem ser os próximos a fazer as malas – vão render, juntos, mais de 50 milhões de euros.

Mais um motivo de pressão? O clube ter seis Libertadores conquistadas e estar a apenas uma de igualar o recorde de sete, hoje com o Independiente.

Pelo calendário argentino/europeu, o Boca está ritmo e só jogou uma vez nos últimos dois meses e meio (um 6 a 0 no Alvarado, da Terceirona pela Copa Argentina, há uma semana). O Libertad, por sua vez, vem com mais rodagem: está em plena competição há três semanas e esta será a sua quinta partida no período.

É bem provável que o Boca suba as arcaicas escadas em direção ao gramado da Bombonera nesta quarta com o seguinte 11 inicial: o goleiro será o estreante Andrada, ex-Lanús; Jara, Goltz, Magallán e Más mantêm a linha defensiva usada no final da fase de grupos da Libertadores. O meio-campo conta com Barrios e Pablo Pérez como volantes (boa dupla) e Pavón, Zárate, Cardona (ou Villa) na aproximação ao único atacante de ofício, Wanchope Ábila.

Tevez é reserva, e por enquanto está resignado como ninguém jamais o viu. Gago sofreu uma lesão muscular decorrente da sua inatividade por operar o joelho e é esperado para voltar a atuar normalmente em outubro.

O Boca tem time, camisa, torcida, dinheiro e enorme influência nos bastidores. Só não tem nenhuma paz. Por isso, quase foi eliminado na primeira fase. Por isso, uma previsão bem sensata é uma repetição da campanha de 2016, chegando até a semifinal e não passando disso.

Schelotto está em xeque. E não demonstra encontrar recursos que possam transferir otimismo aos xeneizes mais sensatos, que duvidam demais da sua capacidade de conduzir o elenco e administrar as pressões das partidas mais importantes.