Entenda a ‘guerra dos milhões’ entre a AFA e Sampaoli
Tales Torraga
Faz quase um mês que o blog publicou que Jorge Sampaoli deixaria de ser o técnico da seleção argentina depois da Copa do Mundo. A informação apurada com a equipe ainda em Barcelona, em meio à preparação para o Mundial, dava conta de que o técnico atravessava uma enorme incompatibilidade com os dirigentes e com os jogadores. Depois da pífia campanha na Rússia, o desgaste, claro, chegou ao ápice. Mas a AFA não pode simplesmente mandá-lo embora. O contrato de Sampaoli termina apenas depois da Copa do Mundo do Catar, daqui a quatro anos, e a multa rescisória para um rompimento unilateral é de US$ 22 milhões. Detalhe que não pode ser desconsiderado: hoje, o dólar está a 30 pesos, e a AFA obviamente não vai querer desembolsar esta quantia.
O comportamento de praxe nesses casos é a entidade iniciar uma fritura pública no técnico de turno. Foi o que ocorreu, por exemplo, com Diego Maradona e Patón Bauza, para ficarmos apenas em dois nomes. Bauza nem chegou a um Mundial, mas ainda assim sofreu um terrível ''operativo desgaste'' assim que a atual AFA assumiu, há pouco mais de um ano.
É praxe, também, a Argentina abrir um novo ciclo pós-Mundial de técnico novo. De 1990 para cá, apenas Loco Bielsa, em 2002, seguiu no cargo depois de uma Copa. Os técnicos mais sensatos, como José Pekerman e Alejandro Sabella, desocupavam o posto imediatamente depois do apito final – é esta sensatez que a AFA agora espera de Sampaoli depois do seu fiasco na Rússia.
Sampaoli, porém, pretende ficar. Ele entende que a sua sequência no comando teria chances de bom resultado no Catar com a necessária renovação na seleção – e com a ausência de nomes que entraram em uma clara rota de colisão com as suas ideias, como o de Javier Mascherano.
A AFA já começou a trabalhar na busca para um sucessor, embora esta procura seja bastante difícil pelo terrível momento da economia argentina. Os dois principais candidatos – Diego Simeone e Mauricio Pocchetino, pela ordem – custariam caro demais e talvez voltem a negar o convite por restrições aos dirigentes e a alguns jogadores. O terceiro nome na lista é o de Marcelo Gallardo, do River Plate, que não demonstra muita afinidade com Chiqui Tapia e Daniel Angelici, presidente e vice da AFA, ambos largamente ligados ao Boca.
Um outro candidato que por enquanto aparece com pouca força, mas pode atropelar os demais e repetir o que aconteceu com Patón Bauza, por exemplo, é o de Ricardo Gareca, que acaba de comandar o Peru na Copa do Mundo. Certeza? Uma só: a permanência de Sampaoli está descartada. A AFA avaliou o seu trabalho de uma maneira muito negativa. Agora só resta mesmo fechar os cofres e destravar esta questão financeira para que cada um siga a sua vida sem o vínculo atual.