Cansaço, cartões e ‘anarquia’: os dilemas da Argentina para vencer a França
Tales Torraga
Uma gozação bastante repetida em Buenos Aires perdeu força nesta manhã. Em qualquer conversa sobre a Copa ouvia-se que ''se é verdade que em time que se ganha não se mexe, então mantemos os titulares escalados por Mascherano''.
Jorge Sampaoli sinaliza que pode tirar Higuaín e colocar Pavón, mas a união entre os ''históricos'' desta Argentina é tamanha que convém esperar as 11h (de Brasília) deste sábado (30) para ver qual será a formação que vai encarar a França que, segundos os argentinos, é ''mais fria que o inverno'', justificando assim a falta de raça de Griezmann, Mbappé e companhia.
Caso não ocorra esta surpresa que seria a entrada de Pavón por Higuaín, a Argentina teria os mesmos 11 homens do enlouquecedor jogo contra a Nigéria. E que curioso: se houver esta repetição, ela será a primeira do ciclo Sampaoli – impedindo que ele use sua 14ª formação diferente em sua 14ª partida (!).
Consideremos, então, os seguintes titulares: Armani; Mercado, Otamendi, Rojo e Tagliafico; Mascherano, Enzo Pérez, Banega e Messi; Di María e Higuaín (Pavón).
A velha seleção argentina, de média de idade de 30 anos, sofreu bastante para se recompor depois do duelo contra a Nigéria. E agora encara uma França muito mais fresca, seja pela idade do elenco – média de 26 anos, é uma das mais jovens – ou seja pela ausência de esforço para se classificar. Os franceses ficaram no 0 a 0 com a Dinamarca horas antes de a Argentina deixar o sangue em campo para tirar os nigerianos nas patadas e no 2 a 1 final. A fisioterapia precisou trabalhar como nunca para devolver os argentinos às mínimas condições necessárias.
Basta olhar para a idade de cada um desta Argentina para entender. Repetimos a escalação, agora com quantos anos cada jogador tem:
Armani (31 anos); Mercado (31), Otamendi (30), Rojo (28) e Tagliafico (25); Mascherano (34), Enzo Pérez (32), Banega (29) e Messi (30); Di María (30) e Higuaín (30, ou Pavón, 22).
É mesmo muito veterano junto.
O torcedor em Buenos Aires pede que esta Argentina volte a exibir, neste sábado, los huevos e a agressividade deixada em campo contra a Nigéria, mas há um complicador que deve inibir a azul e branca na repetição da loucura vista na última quarta-feira: os pendurados e os cartões amarelos.
São, ao todo, seis pendurados no time de Sampaoli (ou seria mais preciso dizer o ''time de Mascherano''?): Otamendi, Mercado, Acuña, Banega, Mascherano e Messi precisariam passar zerados se quiserem atuar também nas quartas, contra Uruguai ou Portugal. Os cartões são zerados apenas para a semifinal.
Em Buenos Aires, seja entre os torcedores ou entre os jornalistas, há uma sensação geral de que seria melhor encarar Portugal, pois o Uruguai também levaria a campo este caráter que os argentinos tantos se orgulham de carregar, e uma batalha deste tipo teria conclusões bem mais imprevisíveis do que a seleção portuguesa, vista como uma equipe fraca e de um jogador só.
Por fim, que a Argentina realmente entenda que a sua ''anarquia'' vista contra a Nigéria desta vez vai encontrar uma rival bem mais estruturada. Um exemplo foi o gol de Rojo. A Argentina naquele final estava com três zagueiros (Mercado, Otamendi e Rojo). Um cruzou (Mercado) e outro finalizou (Rojo) e virou herói. A França não vai perdoar essas corazonadas. Os dois laterais azuis – Pavard e Lucas – são dois mísseis, e Mercado e Tagliafico vão precisar se desdobrar se quiserem emparelhar a disputa. Levar vantagem, então, só mesmo para os muito otimistas.
* Estaremos no Placar UOL às 11h deste sábado para pintar a cor local argentina para este partidazo contra a França.
** Já estava escrito que este calvário celeste e branco seria mesmo digno de Darín. Fizemos até um livro sobre isso chamado…''Copa Loca''. Está lá, em 216 páginas, para quem quiser entender melhor esse jeitão tão particular dos vizinhos.