Como Sampaoli passou de vilão a profeta na Argentina
Tales Torraga
Os ares são outros em Buenos Aires nesta Copa do Mundo da Rússia.
Em um dia, Cristiano Ronaldo perde pênalti. No outro, a Argentina se classifica às oitavas do jeito que o povo gosta – ''aos empurrões''. Para completar a mudança de rumo, a Alemanha, algoz das últimas três Copas, já foi mandada embora.
E até quem ''não prestava'', como era o claro caso do técnico Jorge Sampaoli ao olhar dos fanáticos, agora é encarado de uma maneira muito mais amigável. Entre os argentinos, caiu muito bem o treinador ter previsto, ainda no começo do ano, que a Alemanha não seria uma das candidatas ao título na Rússia.
''Sempre me esqueço de citar a Alemanha como candidata porque não gosto de como ela joga'', falou Sampaoli em uma entrevista coletiva em março. ''A Copa anterior me marcou um pouco. A Argentina não merecia nunca perder para a Alemanha. Os imponderáveis influenciaram um montão nas situações que fizeram que um time inferior à Argentina ganhasse o Mundial. Os alemães têm estrutura, têm base, têm um projeto esportivo muito organizado. Têm um treinador que enxerga claro o que faz, mas não têm estrelas como França, Espanha ou Brasil.''
As palavras que agora ganham sentido ajudam nessa mudança de imagem de Sampaoli – antes visto como um louco excêntrico, ele agora passou a ser olhado por muitos torcedores em Buenos Aires como um visionário que transborda conteúdo, mas que sofre para fazer com que os seus jogadores acompanhem as suas ideias. Tem sido aplaudida também a sua resignação em se colocar ao lado dos atletas, quase como um secretário, por entender que isso vai ser o melhor para o momento argentino – sem que seja necessariamente bom para a sua carreira.
Criou-se uma certa comoção também com as suas imagens totalmente sozinho e totalmente fora de si, correndo, gritando e socando o ar nos gols contra a Nigéria.
Para arrematar, virou piada também o seu pedido de permissão a Messi para colocar Kun Agüero no fim do jogo. Sampaoli aproveitou que o camisa 10 estava perto do banco de reservas para questioná-lo a respeito da entrada ou não do atacante do Manchester City. Agüero entrou no minuto 80, no lugar de Tagliafico.
Pronto. Agora, para muitos argentinos, em vez de pedir licença em qualquer situação – em casa ou no trabalho, por exemplo -, o pedido é bem mais irônico:
– ¿Lo pongo al Kun? (''Ponho o Kun?'')