Polêmico, livro de Sampaoli já antecipava seu calvário na Rússia
Tales Torraga
Jorge Sampaoli há três meses lançou em Buenos Aires um livro chamado ''Mis latidos'' (''As minhas batidas'') e deixou claro como iria encarar a Copa do Mundo da Rússia. É um fato: o seu calvário no Mundial já estava escrito.
''Eu não planejo nada. Tudo surge na minha cabeça quando tem que surgir. Brota naturalmente no momento oportuno. Odeio o planejamento'', registrou em sua obra, mostrando que o improviso e as suas loucuras na Rússia não foram tomadas ao sabor dos acontecimentos – é, de fato, a sua maneira de viver.
É mesmo chocante que 1) Sampaoli se mostre como uma pessoa 1000% intuitiva e 0% capaz de estudar e se planejar, representando uma Argentina que preza demais pelo conhecimento e pelo estudo – e que se orgulha demais disso, e 2) que Jorge registre tais palavras depois de convencer a AFA a gastar milhões na atualização de tecnologia para…estudar dados.
''Se eu planejo, me ponho no lugar de quem trabalha no escritório. Sou o mesmo de 1991. O futebol não se estuda: se vive e se sente. Parto disso. Eu sou da rua: negar isso é impossível. É estranho que tenham me colocado a etiqueta de uma pessoa que planeja.''
O sincericídio de Sampaoli é profundo:
''Talvez minhas conversas soem como a de uma pessoa super estudiosa. Nunca fui estudioso. Nem na escola, nem na faculdade, nem no curso de treinador. Eu não posso ler um livro. Viro duas páginas e já fico entediado. Escrevo três coisas em um papel e me canso'', destaca outro trecho.
(Seria Sampaoli a versão argentina de Renato Gaúcho, que ''não precisa estudar''?)
''Mis Latidos'' revela também a enorme paixão de Sampaoli pelo ex-presidente argentino Juan Domingo Perón: ''Vejo discursos de Perón e aprendo o que pode gerar um condutor, um líder. Há um dom que deve ter alguém que ocupa este tipo de lugar – a capacidade de comover. Alguém precisa se comover antes de comover o outro''.
O livro está repleto de frases dos rocks das bandas Callejeros, La Renga e Los Redondos. E há também uma inusitada análise sobre a final da última Copa.
''A Alemanha não ganhou porque foi melhor que a Argentina. Ganhou porque foi mais fria. Se o futebol for assim, saio dele. Não me sinto parte. Vou tentar brigar da minha maneira.''
Produzido pela Planeta, a maior editora da Argentina, ''Mis Latidos'' tem 192 páginas e segue à venda em Buenos Aires. Custa 249 pesos (cerca de R$ 42).
E tem, claro, muitos trechos do discurso de ''soberania argentina'', uma mania de grandeza que não encontra eco nos gramados – afinal, a seleção não ganha nada há exatos 25 anos.
''Da Argentina saíram os melhores do mundo: Di Stéfano, Sívori, Maradona, Messi, Kempes e outros como Bochini, Alonso e Madurga. Os dedos das mãos não dão conta. As raízes argentinas não se comparam a nenhum outro país. Os melhores jogadores de criação e do terço final de campo da história são argentinos.''
''O desafio é impor esta superioridade com base na essência que permite que o futebol argentino seja muito respeitado na história. A Argentina esteve no topo mundial graças aos jogadores que fizeram isso possível. Não é só ganhar a Copa do Mundo e não é só o festejo de uma noite. É o respeito do rival.''